Por Miguel Ayuso*
Tais pessoas não se deslocam para conversar sobre o
tempo."
No domingo passado (01/06) veio a término a 62ª edição da
reunião anual do Clube Bilderberg, a seleta organização que congrega as
autoridades máximas da política, economia, aristocracia e do poder militar da
Europa e dos Estados Unidos.
Todas as propostas e deliberações, celebradas num hotel de
Copenhague, foram feitas no mais absoluto segredo: às portas fechadas, sem
acesso dos meios de informação e sem publicação das suas conclusões. Embora o
clube diga que suas reuniões não tem um caráter oficial e é apenas um fórum de
discussão privado, há quem considere o Bilderberg como o encontro internacional
mais importante no mundo, onde são tomadas decisões concretas que afetam a
todas as pessoas.
“O efeito mais imediato dessa reunião do clube que acabamos
de tomar conhecimento é a abdicação do rei Juan Carlos”, afirma ao El
Confidencial a jornalista Cristina Martín Jiménez, que há 10 anos investiga os
meandros da instituição. “Note que todas as monarquias estão fazendo o traslado
geracional. Eles trabalham em consenso e foi decidido que chegou o momento onde
é necessário efetuar esse traslado. Não tenho a menor dúvida que a abdicação do
rei é uma decisão consensual do Bilderberg”.
Na opinião da autora de 'Perdidos. Los planes secretos del
Club Bilderberg (Martínez Roca)', não é um acaso que a reunião desse ano tenha
tido a participação da rainha Sofia, da rainha Beatriz da Holanda (filha do
fundador do clube, Bernardo de Holanda) e do príncipe Felipe da Bélgica, que
também recebeu a chefia da monarquia no ano passado. “Estão renovando todas as
cúpulas dos poderes que trabalham conjuntamente no Bilderberg”, assegura ela.
Uma grande reestruturação militar, econômica e comercial
Porém, embora a abdicação do rei da Espanha afete
especialmente nosso país, Martín Jiménez tem por certo que este não foi o tema
mais discutido em Copenhague. Neste ano, grande parte das conversações orbitou
sobre possíveis conflitos armados na Rússia, China e no Oriente Médio. E é por
isso que a presença militar foi especialmente significativa.
Na lista de convidados desse ano estavam o secretário geral
da OTAN, Anders Fogh Rasmussen; o general em chefe das Forças Norte-Americanas
na Europa, Philip Breedlove – que, segundo informa Charlie Skelton do The
Guardian, foi acompanhado de representantes de altos cargos do Ministério da
Defesa Norte-Americano; o ex-diretor da CIA, David Petraeus; o chefe do MI6 (o
serviço de espionagem britânico), Sir John Sawers; bem como diversos ministros
do exterior europeus, entre outros da Espanha, José Manuel García-Margallo (que
compareceu acompanhado de Mercedes Millán Rajoy, diplomata espanhola e sobrinha
do presidente).
Na opinião de Martín Jiménez, o Clube Bilderberg está
preparando o cenário para a possibilidade de um grande conflito bélico: “O
consenso é que daqui a alguns meses ou um ano haverá uma grande reestruturação
militar, econômica e comercial com origem em alguma modificação importante na
história mundial: um conflito bélico de grandes dimensões”.
O Clube Bilderberg celebrou sua primeira reunião em 29 e 30
de maio de 1954, no hotel Bilderberg, na Holanda, encontro promovido pelo
imigrante polonês e conselheiro político Jozef Retinger, preocupado pelo
crescente antiamericanismo provocado pelo Plano Marshall na Europa. Desde
então, afirma Martín Jiménez, sua principal preocupação tem sido preservar a
hegemonia do Ocidente, que agora está sendo questionada.
“No ano passado, Tony Blair, outro dos líderes que trabalham
com os Bilderberg, escreveu um artigo para o Daily Mirror (1) em que dizia
claramente que a questão não é a paz, mas sim de falar sobre questões de
poder”, explica Martín Jiménez. “Isso foi dito alguns meses antes de reunir-se
com o clube na Inglaterra (entre 8 e 9 de junho do ano passado), pois existia
uma grande rejeição popular à União Europeia, e recém havia sido criado o UkiP
(2), que agora teve grande sucesso nas eleições. Blair interviu afirmando que
os trabalhistas e os conservadores teriam de se unir para dar apoio à União
Europeia. Estão sendo formados blocos de poder. O Ocidente é um bloco, e ele
está sendo reforçado para não permitir a sua invasão por outros blocos.”
Convidados que não vão apenas para papear
A jornalista tem consciência que suas afirmações levantam
suspeitas, porém ela está convencida que aquilo que é dito no Bilderberg é de
extrema importância. “Eles possuem um mecanismo para desprestigiar aquelas
pessoas que os investigam, tachando suas atividades de 'conspiranóia', para que
acreditemos que não estão fazendo nada. Dizem que são apenas reuniões informais
nas quais as pessoas participam em caráter privado, e que por esse motivo não
tem de dar informações. Você já viu as pessoas que estão em tais encontros? Vão
os ministros, os reis, a OTAN, o FMI... Tais pessoas não se deslocam para
conversar sobre o tempo.”
Além dos grandes líderes militares e da aristocracia, este
ano participaram do Bilderberg diretores de corporações como Shell, BP, Fiat,
Novartis, Dow Chemicals, Unilever, Airbus e Nestlé; diretores de bancos e
instituições financeiras como HSBC, Citigroup, Lazard, Goldman Sachs,
Santander, Barclays, American Express, JP Morgan, TD Bank e do Deutsch Bank; e
os CEOs e presidentes do Google, LinkedIn e Microsoft; proprietários, editores
e representantes de meios de informação como The Financial Times, The Wall
Street Journal, Die Zeit, Le Monde, El País e The Washington Post; líderes e
políticos de instituições como o Banco Mundial, a Comissão Europeia, o Banco
Central Europeu, Banco de Compensações Internacionais, o FMI, a Reserva Federal
e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos; e políticos europeus,
norte-americanos e canadenses como Mark Rutte, o primeiro ministro holandês, ou
David Cameron, primeiro ministro britânico.
A representação espanhola incluiu além da rainha Sofia, o
ministro de Relações Exteriores, o diretor geral da La Caixa, Juan Maria Nin, e
o presidente do grupo Prisa, Juan Luis Cebrián.
O grande grupo de pressão ocidental
As decisões do Bilderberg, afirma Martín Jiménez, são
consensuais e tem efeitos diretos sobre as políticas nacionais. Apenas 15 dias
após a reunião do clube em 2012, realizada nos Estados Unidos, a Espanha pediu
um empréstimo à Europa para fazer o resgate bancário. Uma decisão que, segundo
a jornalista, foi tomada na conferência do Clube, que naquele ano havia tido a
participação da vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría. O Bilderberg também
foi responsável, ainda segundo Martín Jiménez, de colocar Mario Monti, membro
do Comitê Diretor do Clube, como primeiro ministro italiano. “E assim os
italianos tiveram de engolir um primeiro ministro que não foi eleito nas
urnas”, assegura a jornalista.
O Bilderberg também está por trás dos cortes orçamentários
realizados no nosso país. “A Fundação Rockfeller (outro dos grandes promotores
históricos do clube) tem falado do tema da superpopulação desde os anos 30”,
explica ela. “Não é coisa nova. Os mais velhos e os doentes não são úteis, pois
são um ônus econômico. Bruxelas pressiona nossos governos eleitos
democraticamente para que reduzam as ajudas aos dependentes e o orçamento para
a saúde”.
O clube põe suas mãos em tudo aquilo que possa afetar o
desempenho de seus sócios (a elite econômica e política). Incluindo o futuro
sucessor do PSOE (3). “Segundo minhas investigações, Madina é o candidato que
apoiam os membros espanhóis do Bilderberg”, afirma a jornalista. Somente o
tempo dirá se ela está certa, ainda que ela mesma reconheça, “há muitas coisas
que eles preveem, porém mais tarde seus planos não se desenvolvem como havia
sido desejado”.
Fonte: Mídia Sem Máscara
_________
Do Artigo: Bilderberg 2014: estos son los planes de lospoderosos para el mundo (y para España) - El Confidencial - ES
Tradução: Francis Lauer
Notas:
(1) O artigo em questão pode ser lido aqui:
http://dailym.ai/1o5bEWP. No trecho referido o líder do Partido Trabalhista
diz:
“(...) Em 1946, Winston Churchill fez seu afamado discurso
conclamando por um Estados Unidos da Europa. Ele via um continente assolado por
séculos de conflito e recentemente por duas guerras mundiais. Ele via uma
França e uma Alemanha – inimigos em ambas as guerras – tornando-se amigos numa
nova união. O racional para a Europa [naquele momento] era simples – paz e não
a guerra. Em 2013, existe uma nova lógica que é mais forte, clara e mais
duradoura: não a paz, mas o poder. O cenário geopolítico para o Século XXI está
passando por uma revolução. A questão para a Grã-Bretanha é: qual é o ponto que
nos dá mais vantagens nesse novo cenário? Ao fim do século XIX, a Grã-Bretanha
era a maior potência mundial. No final do século XX, eram os EUA. No final do
século XXI, possivelmente será a China ou, no mínimo, a China e possivelmente a
Índia serão tão poderosos quanto os EUA. Nós precisamos compreender quão
profunda é essa mudança e como ela irá nos atingir (...)”
(2) UKiP – Partido Independista do Reino Unido. Eurocéptico.
Direita. O partido defende a independência da Inglaterra frente à União
Europeia (abandonar a UE). O título do seu Manifesto 2014 diz: “Imigração
portas-abertas está sucateando os serviços públicos locais no R.U.” Suas
propostas envolvem: soberania e livre comércio sem união política. Proteção das
fronteiras e imigração sob condições reguladas. Isenção fiscal sobre salário
mínimo e sobre a transmissão de heranças. Fim de subsídios e ajudas ao
exterior. Combate ao crime. Cassação do direito a voto de prisioneiros. Sair da
jurisdição da Corte Europeia de Direitos Humanos. Permitir a fundação de novas
'grammar schools'. Rejeição ao politicamente correto como proteção ao livre
discurso (“free speech”).
(3) PSOE – Partido SOCIALISTA Operário Espanhol, fundado em
1879 (o segundo mais antigo da Espanha). Principal partido de oposição. Parte
integrante do Partido SOCIALISTA Europeu e da Internacional Socialista. Adepto
da Terceira Via, do multiculturalismo, do humanismo laico, progressista.
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