O que efetivamente mobilizou o nazismo contra os judeus não
foram as destrambelhadas especulações biológicas que apenas favoreceram o
trabalho sujo dos que executaram as políticas de extermínio. A causa principal
foi o mito da "conspiração judaica", difundindo a ideia do poder
econômico do povo judeu e a ele atribuindo a culpa pelos males nacionais. Ao
longo da história, mobilizações nacionalistas sempre procuraram identificar um
inimigo interno ou externo, direcionando-lhe as animosidades. No nazismo, a
exemplo do comunismo, foi acionado este fermento revolucionário que excita os
piores sentimentos: a falácia de que o outro, como indivíduo, raça ou classe
seja, objetivamente, causador da pobreza do pobre.
Observe, então, o que
vem sendo proclamado sobre a "elite branca de olhos azuis" pelas
personagens mais aguerridas do petismo (do topo lulista à base militante). Lula
e os seus não cansam de repetir que essa elite não gosta de pobre, é contra sua
prosperidade e se enoja com a presença de gente humilde nos aeroportos e nas
universidades. Por quê? Ninguém esclarece. O importante é repeti-lo à exaustão.
E o PT é perito em papaguear bobagens tantas vezes quantas sejam necessárias
para assemelhar à verdade algo que não tem o menor fundamento. Além de tornar a
nação respeitável ao proporcionar a dignidade de todos os cidadãos, o progresso
material das classes mais humildes é desejável por todos os segmentos sociais,
inclusive por aqueles contra os quais o PT pretende instigar a malquerença dos
pobres. Entre os muitos benefícios humanísticos e ganhos de ordem ética, a
ascensão social dos mais carentes significa, para todos, maior segurança e
maior dinamismo na vida econômica e social. É bom para todo mundo. É assim que
a civilização avança. No fundo, até o Lula sabe disso.
No entanto, o führer de Garanhuns e seus propagandistas
goebbelianos precisam do ódio como fator de luta (segundo ensinou Che Guevara).
E nada melhor do que aprender com Hitler o modo de suscitar ódio contra quem
tem mais. Basta proclamar aos pobres que essas pessoas, brancas de olhos azuis,
são a causa de sua pobreza, que estes iníquos não toleram conviver com eles e
que, por soturnos motivos, querem preservá-los na miséria. Difundir tais teses
após as experiências do nazismo deveria ser capitulado como crime. Numa
hipótese mais branda, ser tratado como sociopatia.
Tão perigoso quando o que estou descrevendo é não se
importar com isso e considerar que se trata apenas de uma estratégia, sem
efetivas consequências sociais e políticas. Era exatamente o que pensava a
maioria dos alemães até bem perto do final da guerra.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar.