O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da
Presidência, continua dedicado a fazer o terceiro turno da eleição, embora o
seu partido tenha vencido o segundo. Sabem qual é o problema? A ele, não basta
vencer. Ele precisa destruir os adversários e quer a unanimidade. Enquanto a
presidente Dilma fala em dialogar, ele continua interessado na guerra. Segundo
este gigante do pensamento, “sem dúvida nenhuma, essa vitória de um projeto
acabou significando a derrota daqueles que usam a mídia como panfleto, como
semeadores do ódio e da divisão do país, o que felizmente não aconteceu”.
Para começo de conversa, não há um “projeto”, mas um poder
consolidado.
Há, sim, gente que usa “a mídia como panfleto”, dedicada “a
semear o ódio e a divisão do país”. São os blogs sujos financiados pelas
estatais e os sites e publicações do esgoto, que servem ao governismo. Carvalho
sabe quais são. É claro, no entanto, e ninguém é inocente, que ele estava se
referindo à edição de VEJA de sexta passada — na terça desta semana, já era a
maior venda em banca da revista em 12 anos.
A revista informou que, em seu depoimento, Alberto Youssef
afirmou à Polícia Federal e ao Ministério Público que Dilma e Lula sabiam do
esquema de roubalheira montado na Petrobras. No sábado, Folha e Estadão
trouxeram a mesma informação. Curiosamente, só a VEJA, como diria o poeta,
excitou a fúria dos algozes. Curiosamente, Carvalho concedeu uma entrevista ao
UOL, do mesmo grupo que edita a Folha, atacando a VEJA.
Carvalho, só um homem bom, está muito preocupado com a
credibilidade do que chama “mídia” e diz que a “liberdade de imprensa” é
intocável. É bem verdade que se trata de um governo que distribui anúncios
àqueles que considera amigos e os sonega quando os veículos de comunicação não
corta as cabeças que eles pedem. Mas que não se confunda isso com
autoritarismo. Disse esse grande filósofo do poder:
“Eu penso que em relação à mídia, não temos que tomar
nenhuma atitude que mude de repente o cenário da mídia ou que fira a liberdade
de imprensa. Ela é sagrada e tem que ser mantida. Eu prefiro devolver para a
mídia a reflexão. A própria mídia tem que pensar no que aconteceu no Brasil,
refletir sobre os excessos que aconteceram. Ou ela se autorregulamenta e
entende o que é a participação democrática na mídia, ou cada vez mais a sua
credibilidade vai pelo ralo”.
De saída, noto que Gilberto Carvalho faz de conta que, se
ele quisesse, poderia tolher a liberdade de imprensa. Não pode. Está na
Constituição. Não depende da boa-vontade dele.
Como Gilberto Carvalho é bom! Tão bom quanto um santo
inquisidor que manda as pessoas para a fogueira para que elas reflitam sobre os
seus pecados, enquanto ele, muito pio, encomenda a sua alma. Carvalho, o
stalinista cristão, cobra uma autocrítica disso que ele chama “mídia”, como se
ela fosse um bloco, como se ela fosse “monolítica” — para empregar a palavra
que Dilma deve ter descoberto por esses dias, posto que ela a empregou nas
entrevistas da Record, da Globo, da Band e do SBT.
Doce Gilberto Carvalho! Ele está preocupado com a nossa
“credibilidade” e pretende que os veículos de comunicação se abram à
“participação democrática”. O que será que isso quer dizer? Criar “conselhos de
redação”, talvez, comandados pelo “povo” — o “povo do PT”, é claro?! Saibam que
aquele famigerado Plano Nacional de Direitos Humanos trazia algo muito parecido
com isso.
Com a imprensa que está aí, que Carvalho diz ser contra o
PT, o partido obteve o quarto mandato consecutivo e já planeja o quinto. Com a
imprensa que ele tem em mente, o PT nunca mais sairia do poder, e as opiniões
divergentes seriam banidas. Reitero: ele está falando essa bobajada toda
vencendo a eleição. Imaginem se tivesse perdido.
Não pensem que sua investida é irrelevante. Não é, não!
Muita gente, a partir desta quinta, vai se empenhar em provar para Gilberto
Carvalho que ele está errado. “Você também, Reinaldo?” Eu não! Estou me
lixando! Ele não é meu juiz. Sendo quem é, tê-lo como um crítico severo do meu
trabalho é, para mim, uma honra adicional. Eu jamais vou me esquecer que este
senhor tentou jogar no colo do governo de São Paulo os protestos violentos de
rua — até que eles passassem a varrer o país e caíssem no colo de Dilma — e até
os rolezinhos, nos quais, segundo o valente, havia um confronto de classes e um
confronto racial. Nunca vi tamanha irresponsabilidade política.
Gilberto Carvalho ser ministro de estado é um escárnio. Ele
não tem serenidade para isso, embora fale com a mansidão dos inquisidores.