Como Fernando Collor em 1989, Dilma Rousseff atravessou a
campanha presidencial de 2014 contando mentiras, falsificando estatísticas e
declamando promessas que revogou na primeira semana de mandato. Como Collor,
Dilma precisou de poucos dias para cair em desgraça com os eleitores, agravar o
raquitismo da base governista no Congresso e transformar-se numa colecionadora
de recordes de impopularidade. Como Collor, Dilma enredou-se em delinquências
que dão cadeia em qualquer país menos primitivo.
Muito mais que Collor, Dilma fez que não viu, protegeu ou
acobertou casos de polícia e esquemas corruptos cujas dimensões siderais fazem
o agora senador parecer um mero batedor de carteira. Repelida, como Collor,
pela imensa maioria dos brasileiros, Dilma tenta manter-se no emprego agarrada
à falácia que recita na discurseira de todos os dias: nada justifica o
encurtamento de um mandato conquistado nas urnas. Nesta semana, em conversa com
o poste que Lula instalou no Planalto, o próprio Collor tratou de refrescar-lhe
a memória: “Eu também fui eleito pelo povo”.
Em 1992, empenhado em abreviar o inquilinato do inimigo no
gabinete presidencial, os chefões do PT argumentaram que escolhas equivocadas
devem ser desfeitas quando colocam em risco o futuro do país. E enxergaram na
queda do chefe de governo um triunfo do estado de direito. Neste inverno sem
similares, os devotos da seita acusam de “golpista” quem constata que chegou a
hora de encerrar um embuste que ameaça a sobrevivência do Brasil. Se Dilma
sair, talvez ocorram algumas chuvas e trovoadas. Se ficar, a nação será
castigada até 2018 pela tempestade perfeita.