Por #VemPraRua
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Dilma jura que combate à corrupção emagrece o PIB
A presidente que não diz coisa com coisa e erra até conta de
jardim da infância surpreendeu o mundo com outro prodígio estatístico: segundo
Dilma Rousseff, o Produto Interno Bruto caiu 1% por causa da Operação Lava
Jato. O que ela chama de Operação Lava Jato é o esquema corrupto do Petrolão
que tornou indispensável o desencadeamento da Operação Lava Jato.
O neurônio solitário, portanto, acha que combater a
roubalheira faz mal à saúde da economia nacional, que os investimentos estão
perto de zero porque os donos das grandes empreiteiras engrossaram a população
carcerária e que o PIB sofre uma queda sempre que sobe a taxa de honestidade.
Como as investigações que começaram nas catacumbas da Petrobras já chegaram aos
porões da Eletronuclear, como logo serão lancetados os tumores que infestam o
BNDES, anotem: se a dedetização for em frente, o pibinho brasileiro vai ficar
menor que o PIB do Haiti.
A fiação do problema chama-se PT
"Se não trocarmos essa fiação, realmente o
curto-circuito será inevitável logo ali na frente", diz Rodrigo
Constantino sobre a crise econômica e a possibilidade do Brasil ser rebaixado
pelas agências de risco. Assista em 'A Lente Liberal'.
FREI BETTO E A UTOPIA
Por Percival Puggina
Frei Betto é o autor popular que melhor representa o
pensamento utópico da esquerda no Brasil. Aliás, quem quiser conhecer a papinha
servida aos bebês da utopia comunista deve procurar na cozinha do dominicano.
Há jovens esquerdistas que nada têm de idealistas. Esses estão no PT, no PCdoB
e na UNE e se servem direto das tetas públicas. Mas há jovens esquerdistas
idealistas. E o que frei Betto escreve cai no gosto desses bem intencionados,
seduzindo-os para o lado errado da pauta filosófica e política.
O próprio dominicano o confessa lisamente. Em artigo de setembro de 2007,
ele afirma: “Muito cedo gravou-se em mim o sentimento do mundo. Meus olhos,
dilatados pela fé, polidos pelo pós-hegelianismo de Marx, enxergaram a pirâmide
social invertida. Consumiu-se minha juventude na embriaguez da utopia. (...)
Lutávamos atentos aos clamores da Revolução de Outubro, à Longa Marcha de Mao
ao cruzar as pontes de nossos corações, aos barbudos de Sierra Maestra que
arrancavam baforadas de nosso alento juvenil, à vitória vietnamita selando-nos
a certeza de que arrebataríamos o futuro. A lua seria o nosso troféu.
Haveríamos de escalar suas montanhas e, lá em cima, desfraldar as bandeiras da
socialização compulsória”. A essas e outras catástrofes sociais e
políticas, a respeito de cada um desses genocídios monstruosos, ele reservou
odes e hosanas.
O Leste Europeu, para ele, era imagem viva das virtudes em
que foi concebido. Obra dos mais elevados ideais humanos. Com Muro e tudo. São
palavras suas: “Os condenados da Terra arranchavam-se sob o caravansará de
nossos ideais e, em breve, saberíamos conduzi-los aos mananciais onde correm
leite e mel...”. Em nome desse “em breve”, a famigerada Stasi da República
Democrática da Alemanha chegou a ter 80 mil agentes. Somando-lhes os delatores
não-oficiais havia um dedo-duro para cada seis alemães orientais. Em nome desse
“em breve”, os cubanos já carregam no lombo meio século de totalitarismo. Em nome
desse “em breve”, o frei, agorinha mesmo, no dia 25 do mês passado, se tocou
para Havana, a visitar Fidel, seu “amigo íntimo”, com quem trocou impressões
sobre o progresso dos movimentos sociais no Brasil.
E o Brasil, frei? E o Brasil? Prossegue ele, então,
descrevendo o aviãozinho que levou colheradas de sua papinha aos bebês do
comunismo verde-amarelo: “Na oficina dos sonhos, forjamos ferramentas
apropriadas ao parto do novo Brasil. A luta sindical consubstanciou-se em
projeto partidário, a crença pastoral multiplicou-se em células comunitárias,
os movimentos sociais emergiram como atores no palco dominado pelas sinistras
máscaras dos que jamais conjugaram o verbo partilhar. Cuba, Nicarágua, El
Salvador... o olhar impávido do Che... a irredutível teimosia de Gandhi... a
sede de justiça dessedentada nas fontes límpidas da ética. Jamais seríamos como
eles”.
Não é uma figura, esse Frei Betto? Reúne Ghandi e Fidel
Castro numa única frase e tudo parece caber na mesma confraria. E ele, sempre
do lado errado, levando outros para o lado errado, mas flanando nas asas da
maldita utopia que nem por acaso consegue cravar um prego no lugar certo. É o
que ele torna a reconhecer em relação ao encontro de seu desvario com a cena
política nacional: “Por que não se aventurar pelas mesmas sendas trilhadas
pelo inimigo, já que ele se perpetua com tanta força? Qual o segredo dos
cabelos de Sansão? Os pobres caíram no olvido, a sedução do poder fez a lua
arder em chamas. Ícaros impenitentes, não se deram conta de que as asas eram de
barro”.
Digam-me os leitores se ele não é um sedutor! Lutou a vida
inteira com caneta, pistola e água benta em favor das instituições políticas
mais sórdidas, desalmadas e perversas que a humanidade conheceu. Assumiu como
seus e reservou palavras de louvação para regimes que escolhiam como principais
inimigos os portadores da cruz que ele leva pendurada no pescoço. E depois, ao
contemplar os estragos, reserva-se fugazes encontros com o mundo dos fatos.
Como se lê aqui: “A sofreguidão esvaziou projetos, a gula cobiçosa devorou
quimeras. O pragmatismo acelerou a epifania dos avatares do poder. O conluio
enlaçou históricos oponentes, adversários coligaram-se, e aliados foram
defenestrados nessa massa informe que, destemperada de ética, alicerça o Leviatã”.
São palavras de quem, depois de se internar nos porões, tratou de se erguer,
como fumaça, sobre os telhados desse mesmo poder, travestido de juiz do estrago
que fez.
E agora? Agora, depois de ter vendido como coisa boa, ou
envasilhado com a rolha do silêncio obsequioso, o Muro de Berlim, o paredón de
La Cabaña, a Revolução de Outubro, os massacres que acabaram com o Levante da
Hungria e a Primavera de Praga, a Grande Marcha de Mao, a “vitória” do Vietnã e
por aí vai, ele conclui seu ato de contrição com uma nova pirueta em direção ao
mundo da lua: “Dói em mim tanto desacerto. Os sonhos de uma geração trocados
por um prato de lentilha. Aguardo, agora, a lua nova”.
O dominicano é, portanto, um tipo simbólico. Uma espécie de
Muro de Berlim, vivo. Um irredutível habitante da utopia. E um semeador de
desastres que, graças ao muro que o separa da realidade, não perde nunca.
Qualquer adolescente com ideais nobres e pés no chão dos fatos é capaz de
prever o lamentável destino para onde levam suas pegadas. Mas ele sobrevoa o
precipício onde os seus seguidores fazem tombar multidões e volta a se revestir
com a túnica da razão. Tipos assim são os mais perigosos e merecem ser lidos
exatamente por isso. Constroem muros e se instalam, sempre, do lado errado.
Há quem creia estar informado sobre política lendo, nos
jornais, o que os políticos dizem uns sobre os outros. Coisa vã, sem serventia.
A mais instrutiva leitura política é a que se ocupa em conhecer o que escrevem
os intelectuais, os condutores dos construtores. E entre estes, em particular,
os condutores dos construtores de muros. Eles continuam ativos.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões,
e a Tomada do Brasil (no prelo).
Nota do autor: Este artigo foi escrito em 08/11/2009, tomando como eixo o artigo “As fases da lua”, da autoria de frei Betto, publicado no site www.adital.com.br, em 12/09/2007.
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