Hoje, 31 de março de 2015, faz 51 anos que foi deposto o
Presidente da República, João Goulart.
Uns chamam esse acontecimento de golpe militar, outros de
tomada do poder, alguns outros de Revolução de 1964. Eu prefiro considerá-lo
como a Contra-Revolução de 31 de março de 1964.
Vou lhes explicar o meu ponto de vista ao longo deste
artigo. Espero que ao final vocês tenham dados suficientes para julgar se estou
certo.
Vocês foram cansativamente informados por seus professores,
jornais, rádios, TV e partidos políticos :
- que os militares tomaram o poder dos civis para impedir
que reformas moralizantes fossem feitas;
- que para combater os "generais que usurparam o
poder" os jovens da época uniram-se e lutaram contra a ditadura militar e
que muitos deles morreram, foram mutilados, presos e torturados na luta pela
"redemocratização" do país;
- que os militares assim agiram a mando dos Estados Unidos,
que temiam o comunismo instalado no Brasil;
- que jovens estudantes, idealistas, embrenharam-se nas
matas do Araguaia para lutar contra a ditadura e pela redemocratização do país.
Com quantas inverdades fizeram a cabeça de vocês! E por que
essas mentiras são repetidas até hoje? Foi a maneira que eles encontraram para
tentar justificar a sua luta para implantar um regime do modelo soviético,
cubano ou chinês no Brasil.
Por intermédio da mentira, eles deturparam a História e
conseguiram o seu intento. Vocês que não viveram essa época acreditam piamente
no que eles dizem e se revoltam contra os militares.
Vamos aos fatos, pois eu vivi e participei dessa época.
Em março de 1964 eu era capitão e comandava uma bateria de
canhões anti-aéreos do 1º Grupo de Artilharia Anti-Aérea, em Deodoro, no Rio de
Janeiro.
A maioria dos oficiais que serviam no 1º Grupo de Artilharia
AAé, entre eles eu, teve uma atitude firme para que o Grupo aderisse à
Contra-Revolução.
Eu era um jovem com 31 anos. O país vivia no caos. Greves
políticas paralizavam tudo: transportes, escolas, bancos, colégios. Filas eram
feitas para as compras de alimentos. A indisciplina nas Forças Armadas era
incentivada pelo governo. Revolta dos marinheiros no Rio; revolta dos sargentos
em Brasília. Na minha bateria de artilharia havia um sargento que se ausentava
do quartel para fazer propaganda do Partido Comunista, numa kombi, na Central
do Brasil.
Isto tudo ocorria porque o governo João Goulart queria
implantar as suas reformas de base à revelia do Congresso Nacional. Pensava,
por meio de um ato de força, em fechar o Congresso Nacional com o apoio dos
militares "legalistas".
Vocês devem estar imaginando que estou exagerando para lhes
mostrar que a Contra-Revolução era imperativa naqueles dias. Para não me
alongar, vou citar o que dizem dois conhecidos comunistas:
- depoimento de Pedro Lobo de Oliveira no livro "A
esquerda armada no Brasil" - "muito antes de 1964 já participava na
luta revolucionária no Brasil na medida de minhas forças. Creio que desde 1957.
Ou melhor, desde 1955". "Naquela altura o povo começava a contar com
a orientação do Partido Comunista".
- Jacob Gorender - do PCBR, escreveu no seu livro
"Combate nas Trevas": "Nos primeiros meses de 1964, esboçou-se
uma situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu, por isso
mesmo, pelo caráter contra-revolucionário preventivo. A classe dominante e o
imperialismo tinham sobradas razões para agir antes que o caldo entornasse".
Diariamente eu lia os jornais da época: O Dia, O Globo,
Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, Diário de Notícias, etc... Todos eram
unânimes em condenar o governo João Goulart e pediam a sua saída, em nome da
manutenção da democracia. Apelavam para o bom senso dos militares e até
imploravam a sua intervenção, para que o Brasil não se tornasse mais uma nação
comunista.
Eu assistia a tudo aquilo com apreensão. Seria correto
agirmos para a queda do governo? Comprei uma Constituição do Brasil e a lia
seguidamente. A minha conclusão foi de que os militares estavam certos ao se
antecipar ao golpe de Jango.
Às Forças Armadas cabe zelar para a manutenção da lei, da
ordem e evitar o caos. Nós não tinhamos que defender o governo; tinhamos que
defender a nação.
O povo foi às ruas com as Marchas da Família com Deus pela
Liberdade, no Rio, São Paulo e outras cidades do país. Todos pedindo o fim do
governo João Goulart, antes que fosse tarde demais.
E, assim, aconteceu em 31/03/1964 a nossa Contra-Revolução.
Os jornais da época (Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do
Brasil; Tribuna da Imprensa e outros ) publicaram, nos dias 31/03/64 e nos dias
seguintes, editoriais e mais editoriais exaltando a atitude dos militares. Os
mesmos jornais que hoje combatem a nossa Contra- Revolução.
Os comunistas que pleiteavam a tomada do poder não
desanimaram e passaram a insuflar os jovens, para que entrassem numa luta
fraticida, pensando que lutavam contra a ditadura. E mentiram tão bem que
muitos acreditam nisso até hoje. Na verdade, tudo já estava se organizando. Em
1961, em pleno governo Jânio Quadros, Jover Telles, Francisco Julião e Clodomir
dos Santos Morais estavam em Cuba acertando cursos de guerrilha e o envio de
armas para o Brasil. Logo depois, alguns jovens eram indicados para cursos na
China e em Cuba. Bem antes de 1964 a área do Araguaia já estava escolhida pelo
PC do B para implantar a guerrilha rural.
Em 1961 estávamos em plena democracia. Então para que eles
estavam se organizando? Julião já treinava as suas Ligas Camponesas nessa
época, que eram muito semelhantes ao MST de hoje. Só que sem a organização, o
preparo, os recursos, a formação de quadros e a violenta doutrinação marxista
dos atuais integrantes do MST.
E foi com essa propaganda mentirosa que eles iludiram muitos
jovens e os cooptaram para as suas organizações terroristas.
Então, começou a luta armada.
Foram vários atos terroristas: o atentado ao aeroporto de
Guararapes, em Recife, em 1966; a bomba no Quartel General do Exército em São
Paulo, em 1968; o atentado contra o consulado americano; o assassinato do
industrial Albert Boilesen e do capitão do Exército dos Estados Unidos Charles
Rodney Chandler; seqüestros de embaixadores estrangeiros no Brasil .
A violência revolucionária se instalou. Assassinatos,
ataques a quartéis e a policiais aconteciam com freqüência.
Nessa época, eles introduziram no Brasil a maneira de roubar
dinheiro com assaltos a bancos, a carros fortes e a estabelecimentos
comerciais. Foram eles os mestres que ensinaram tais táticas aos bandidos de
hoje.Tudo treinado nos cursos de guerrilha em Cuba e na China.
As polícias civil e militar sofriam pesadas baixas e não
conseguiam, sozinhas, impor a lei e a ordem.
Acuado, perdendo o controle da situação, o governo decretou
o AI-5, pelo qual várias liberdades individuais foram suspensas. Foi um ato
arbitário mas necessário. A tênue democracia que vivíamos não se podia deixar
destruir.
Para combater o terrorismo, o governo criou uma estrutura
com a participação dos Centros de Informações da Marinha (CENIMAR), do Exército
(CIE) e da Aeronáutica (CISA). Todos atuavam em conjunto, tanto na guerrilha
rural quanto na urbana. O Exército, em algumas capitais, criou o seu braço
operacional, os Destacamentos de Operações de Informações ( DOI). Para
trabalharem nos diversos DOI do Brasil, o Exército seleciononou do seu efetivo
alguns majores, capitães e sargentos. Eram, no máximo, 350 militares, entre os
150 mil homens da Exército.
Eu era major, estagiário da Escola de Estado Maior. Tinha na
época 37 anos e servia no II Exército, em São Paulo. Num determinado dia do ano
de 1970, fui chamado ao gabinete do comandante do II Exército, general José
Canavarro Pereira, que me deu a seguinte ordem: "Major, o senhor foi
designado para comandar o DOI/CODI/II Ex. Vá, assuma e comande com
dignidade".
A partir desse dia minha vida mudou. O DOI de São Paulo era
o maior do país e era nesse Estado que as organizações terroristas estavam mais
atuantes. O seu efetivo em pessoal era de 400 homens. Destes, 40 eram do
Exército, sendo 10 oficiais, 25 sargentos e 5 cabos. No restante, eram
excelentes policiais civis e militares do Estado de São Paulo. Esses foram dias
terríveis! Nós recebíamos ameaças freqüentemente.
Minha mulher foi de uma coragem e de uma abnegação total.
Quando minha filha mais velha completou 3 anos de idade, ela foi para o jardim
da infância, sempre acompanhada de seguranças. Minha mulher não tinha coragem
de permanecer em casa, enquanto nossa filha estudava. Ela ficava dentro de um
carro, na porta da escola, com um revólver na bolsa.
Não somente nós passamos por isso! Essa foi a vida dos
militares que foram designados para combater o terrorismo e para que o restante
do nosso Exército trabalhasse tranqüilo e em paz.
Apreendemos em "aparelhos" os estatutos de,
praticamente, todas as organizações terroristas e em todos eles estava escrito,
de maneira bem clara, que o objetivo da luta armada urbana e rural era a
implantação de um regime comunista em nosso país.
Aos poucos o nosso trabalho foi se tornando eficaz e as
organizações terroristas foram praticamente extintas, por volta de 1975.
Todos os terroristas quando eram interrogados na Justiça
alegavam que nada tinham feito e só haviam confessado os seus crimes por terem
sido torturados. Tal alegação lhes valia uma redução na pena ou a absolvição no
Superior Tribunal Militar. Então, nós passamos a ser os "
torturadores".
Hoje, como participar de seqüestros, de assaltos e de atos
de terrorismo passou a contar pontos positivos para os seus currículos eles,
posando de heróis, defensores da democracia, admitem ter participado das ações.
Quase todos continuam dizendo que foram torturados e perseguidos politicamente.
Com isso recebem indenizações milionárias e ocupam elevados cargos públicos.
Nós continuamos a ser seus " torturadores" e somos os verdadeiros
perseguidos politicos. As vítimas do terrorismo até hoje não foram indenizadas.
O Brasil com toda a sua população e com todo seu tamanho
teve, 119 mortos identificados, que foram assassinados por terroristas, 43 eram
civis que estavam em seus locais de trabalho ( estima-se que existam mais cerca
de 80 que não foram identificados ); 34 policiais militares; 11 guardas de
segurança; 8 militares do Exército; 3 agentes da Polícia Federal; 3 mateiros do
Araguaia; 2 militares da Marinha; 2 militares da Aeronáutica; 1 major do
Exército da Alemanha; 1 capitão do Exército dos Estados Unidos; 1 marinheiro da
Marinha Real da Inglaterra.
A mídia fala sempre em "anos de chumbo", luta
sangrenta, noticiando inclusive que, só no Cemitério de Perus, em São Paulo,
existiriam milhares de ossadas de desaparecidos políticos. No entanto o Grupo
Tortura Nunca Mais reclama um total de 284 mortos e desaparecidos que
integravam as organizações terroristas. Portanto, o Brasil, com sua população e
com todo o seu tamanho, teve na luta armada, que durou aproximadamente 10 anos,
ao todo 403 mortos.
Na Argentina as mortes ultrapassaram 30.000 pessoas; no
Chile foram mais de 4.000 e no Uruguai outras 3.000. A Colômbia, que resolveu
não endurecer o seu regime democrático, luta até hoje contra o terrorismo. Ela
já perdeu mais de 45.000 pessoas e tem 1/3 do seu território dominado pelas
FARC.
Os comunistas brasileiros são tão capazes quanto os seus
irmãos latinos. Por que essa disparidade?
Porque no Brasil dotamos o país de leis que permitiram atuar
contra o terrorismo e também porque centralizamos nas Forças Armadas o combate
à luta armada. Fomos eficientes e isso tem que ser reconhecido. Com a nossa
ação impedimos que milhares de pessoas morressem e que esta luta se prorrogasse
como no Peru e na Colômbia.
No entanto, algumas pessoas que jamais viram um terrorista,
mesmo de longe, ou preso, que jamais arriscaram as suas vidas, nem as de suas
famílias, criticam nosso trabalho. O mesmo grupo que só conheceu a luta armada
por documentos lidos em salas atapetadas e climatizadas afirma que a maneira
como trabalhamos foi um erro, pois a vitória poderia ser alcançada de outras
formas.
Um membro do Alto Comando do Exército, há muitos anos
passados, declarou, que: " a ação militar naquele período
não foi institucional. Alguns militares participaram, não as Forças Armadas.
Foi uma ação paralela".
Alguns também nos condenam afirmando que, como os chefes
daquela época não estavam acostumados com esse tipo de guerra irregular, não
possuíam nenhuma experiência. Assim, nossos chefes, no lugar de nos darem
ordens, estavam aprendendo conosco, que estávamos envolvidos no combate.
Segundo eles, nós nos aproveitávamos dessa situação para conduzir as ações do
nosso modo e que, no afã da vitória, exorbitávamos .
Mas as coisas não se passavam assim . Nós que fomos mandados
para a frente de combate nos DOI, assim como os generais que nos chefiavam,
também não tínhamos experiência nenhuma. Tudo o que os DOI faziam ou deixavam
de fazer era do conhecimento dos nossos chefes. Os erros existiram, devido à
nossa inexperiência, mas os nossos chefes eram tão responsáveis como nós.
Acontece que o nosso Exército há muito tempo não era
empregado em ação. Estava desacostumado com a conduta do combate, onde as
pessoas em operações têm que tomar decisões, e decisões rápidas, porque a vida
de seus subordinados ou a vida de algum cidadão pode estar em perigo.
Sempre procurei comandar liderando os meus subordinados.
Comandei com firmeza e com humanidade, não deixando que excessos fossem
cometidos. Procurei respeitar os direitos humanos, mas sempre respeitando, em
primeiro lugar, os direitos humanos das vítimas e, depois, os dos bandidos.
Como disse em meu primeiro livro "Rompendo o Silêncio ", escrito com
a finalidade de desmascarar e desmentir
as declarações da então deputada federal Bete Mendes, terrorismo não se combate
com flores. A nossa maneira de agir mostrou que estávamos certos, porque evitou
o sacrifício de milhares de vítimas, como aconteceu com os nossos vizinhos. Só
quem estava lá, frente a frente com os terroristas, dia e noite, de armas na
mão, pode nos julgar.
Finalmente, quero lhes afirmar que a nossa luta foi para
preservar a democracia. Se o regime implantado pela Contra-Revolução durou mais
tempo do que se esperava, deve-se, principalmente, aos atos insanos dos
terroristas. Creio que, em parte, esse longo período de exceção deveu-se ao
fato de que era preciso manter a ordem no país.
Se não tivéssemos vencido a luta armada, hoje estaríamos
vivendo sob o tacão de um ditador vitalício como Fidel Castro e milhares de
brasileiros teriam sido fuzilados no "paredón" Em Miami, foi
inaugurado por exilados cubanos, um Memorial para 30.000 vítimas da ditadura de
Fidel Castro).
Hoje temos no poder muitas pessoas que combatemos e que lá
chegaram pelo voto popular e esperamos que eles esqueçam os seus propósitos de
51 anos passados e preservem a democracia pela qual tanto lutamos.
_________________________
Carlos Alberto Brilhante Ustra - é coronel reformado do
Exercito . Foi Comandante do DOI/CODI/II Exército ( 29/09/1970 - 23/01/1074) -
Instrutor Chefe do Curso de Operações da antiga Escola Nacional de Informações
(1974) - Chefe da Seção de Operações do
CIE (1975 - 1977) - Comandante do !6º GAC - Adido do Exército junto à Embaixada
do Brasil, no Uruguai.
Escreveu dois livros:
Rompendo o Silêncio, em 1987 - esgotado
A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que
o Brasil conheça - hoje na 10ª edição