sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Lula doou a BR Distribuidora ao mesmo Collor que acusou de ladrão e débil mental
Em 1993, pouco depois do impeachment de Fernando Collor, o
radialista Milton Neves quis saber o que Lula achava do adversário escorraçado
do gabinete presidencial por ter feito o que a seita petista faria anos depois
em escala industrial. “Você tem pena de Fernando Affonso Collor de Mello?”,
pergunta o entrevistador no começo do áudio hoje transformado numa peça
essencial para os estudiosos da Era da Canalhice. Ouça a resposta de Lula.
“Tenho. Não é que eu tenho pena. Como ser humano eu acho que uma pessoa que teve uma oportunidade que aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja… e, ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor.
Efetivamente eu fico com pena, porque eu acho que o
povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse pelo menos conduzir o país, se
não a uma solução definitiva, pelo menos a indícios de soluções para os velhos
problemas que nós vivemos.
Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar
corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de
brasileiros por terra.
Mas de qualquer forma eu acho que foi uma grande lição que o povo brasileiro
aprendeu e eu espero que o povo brasileiro, em outras eleições, escolha pessoas
que pelo menos eles conheçam o passado político”.
O chefão do PT vinha rascunhando o diagnóstico desde a
campanha presidencial de 1989, quando acusou de “corrupto” o inimigo que
acabaria por derrotá-lo nas urnas. “Isso é uma tremenda maracutaia”, berrou
Lula no ano seguinte, ao saber que o presidente da República tentara favorecer
um empresário amigo com dinheiro desviado da Petrobras. A negociata gorou, mas
logo se constatou que havia ali um caso sem cura. Enquanto Fernando Collor
percorria o atalho que o devolveria à planície, Lula seguia tateando a estrada
certa para o Planalto.
Finalmente vitorioso em 2002, ele chegou lá em 2003. Quatro
anos mais tarde, o homem despejado da Presidência por ter desonrado o cargo
voltou à Praça dos Três Poderes, agora como senador por Alagoas filiado ao PTB.
Em 2009, os antagonistas que viviam trocando chumbo passaram a trocar elogios
que pavimentaram o caminho da reconciliação. Logo descobriram que haviam
nascido um para o outro. Viraram amigos de infância. Além de comparsas,
confirmam descobertas recentes da Operação Lava Jato.
Aparentemente impossível, a parceria nada tem de ilógica.
Vista de perto, a dupla tem almas gêmeas. Escancarado pela grossura explícita,
o primitivismo de Lula aparece claramente por trás do falso refinamento de
Collor. Escancarado pela arrogância de oligarca, o autoritarismo de Collor é
perfeitamente visível por trás do paternalismo populista de Lula. Os dois são,
em sua essência, primitivos e autoritários. Ambos também acham que os fins
justificam os meios. E, como atestam revelações recentes, acham que
demonstrações de amizade devem incluir barganhas extraordinariamente lucrativas
─ tudo por conta dos pagadores de impostos.
Já em 2009, Lula expressou seu contentamento com a conversão
de Collor: premiou a “lealdade” do representante de Alagoas com duas diretorias
da BR Distribuidora, uma das mais cobiçadas subsidiárias da Petrobras. Em
dezembro, na denúncia enviada ao STF contra o deputado Vander Loubert (PTB-AL),
o procurador-geral Rodrigo Janot resumiu a bandalheira no trecho abaixo
reproduzido:
“Após o fim do período de suspensão de direitos
políticos, Fernando Affonso Collor de Mello retornou à vida pública. Na
condição de senador pelo Partido Trabalhista Brasileiro do Estado de Alagoas
(PTB-MS), por volta do ano de 2009, em troca de apoio político à base
governista no Congresso Nacional, obteve do então Presidente da República, Luís
Inácio Lula da Silva, ascendência sobre a Petrobras Distribuidora- BR
Distribuidora”.
Quando Dilma Rousseff assumiu a chefia do governo, o padrinho
já havia doado ao senador quase todo o latifúndio ─ uns poucos lotes foram
reservados ao PT. Como sempre, o poste escorou o serviço sujo do fabricante. No
depoimento prestado à Procuradoria Geral da República, Nestor Cerveró, um dos
pajés do Petrolão, confirmou que a afilhada endossou a obscenidade:
“Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a Presidente da República,
Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor
de Mello a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora”, revelou
Cerveró.
As escavações nessas promissoras catacumbas estão ainda em
seu começo. Vem muito mais por aí. O que já se sabe é suficiente, contudo, para
reiterar que o Brasil, como ensinou Tom Jobim, não é mesmo para amadores. No
tempo dos tiroteios entre Lula e Collor, o país inteiro apostou que os dois
pistoleiros jamais seriam vistos do mesmo lado. Acabaram juntos para sempre no
saloon do Petrolão.
O impeachment e o presidencialismo de transação
Por VEJA.com
O historiador Marco Antonio Villa analisa o esforço do
governo para a formação de blocos de apoio no Congresso Nacional como uma
espécie de 'seguro' contra processos de impeachment. "O seguro é feito com
o saque organizado da máquina pública", diz.
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