As maravilhas da corte são tão inebriantes, as alegrias da
boa vida são tão plenas, as facilidades em se apoderar da coisa pública são tão
corriqueiras, que uma vez lá a classe dirigente inventa meios de não sair do
Olimpo onde se instalou o que pode ser feito através de eleições ou golpes de
Estado.
Assim sendo, o PT não pretende apear do poder tão cedo.
Seria inadmissível para Lula e sua família retroceder à vida mais simples sem
os luxos, privilégios e confortos que a evolução da riqueza obtida de modo acelerado
lhes proporcionou. E Lula, é o poderoso chefão do PT, o garantidor dos
“mandarins” de sua grei para que estes também desfrutem da doce vida de
defensores dos oprimidos. Portanto, deve ser preservado faça o que fizer,
porque sem ele o partido não se sustenta. É bem verdade que Lula tem tido seus
revezes, mas justamente estes que a outros teriam aniquilado o mantém incólume
e á espera de voltar em 2018.
Foi, portanto, inoportuna para Lula e o PT a ideia de
impeachment de Rousseff, única mulher presidente da República e a pior de todos
os presidentes de nossa história. Se bem que foi Lula quem governou o tempo
todo como presidente de fato, recaiu sobre sua criatura a culpa pelo descalabro
da economia que penaliza e envergonha os brasileiros de todas as classes
sociais. Tivesse outro candidato ganho a eleição já teria sido defenestrado
pelo PT. Ela, não. E nem tanto por Rousseff, mas pela preservação do projeto de
poder petista, que foi acionado com força máxima desta vez no STF.
O que se assistiu, então, foi uma ruptura institucional. No
dia 16 deste agitado dezembro o ministro Fachin, defensor dos sem-terra, do
Paraguai contra o Brasil e ardoroso eleitor de Rousseff, deu um show inusitado:
defendeu os procedimentos da Câmara com relação ao rito do impeachment,
emergindo como juiz imparcial e respeitador do outro Poder.
Era como um milagre. Mas milagres não existem na política.
No dia seguinte tudo parecia ser sido combinado para invalidar, de novo, os
procedimentos da Câmara. O que serviu para o impeachment do ex-presidente
Collor não servia para esse. Os votos da comissão não podiam ser secretos, como
os são os do STF em seus procedimentos internos e todo poder foi dado ao
Senado, onde o colaborador, Renan Calheiros, está a postos para salvar, primeiro
a si, depois a governanta.
Desse modo, está encerrada, pelo menos por enquanto, a
possibilidade do impeachment e todas as pedaladas, as irresponsabilidades
fiscais, os gastos exorbitantes, os prejuízos dados a Nação serão todos
perdoados ao governo petista.
O STF de tal modo interferiu no Legislativo, trazendo à
lembrança vislumbres bolivarianos, que se Rousseff sempre repetiu que
impeachment é golpe, o golpe se formalizou de outra maneira via Executivo e por
intermédio do Judiciário. Se de agora em diante o STF legisla e impõe o
regulamento interno do Congresso, o Legislativo pode fechar as portas, pois se
tornou um penduricalho inútil na República das Bananas.
Falar democracia no Brasil, portanto, é algo ilusório. Como
disse Rui Barbosa: “A pior ditadura é do Judiciário, porque contra ela não há
quem possa recorrer”. E o judiciário autorizou buscas e apreensões somente em
casas e escritórios de peemedebistas, salvando providencialmente o ajudante
Renan Calheiros. Reclamar para quem?
O Judiciário ao voltar do recesso em fevereiro poderá
afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cujos crimes principais e mais
graves foram: ganhar a eleição da casa derrotando um petista, tornar o
Congresso independente do Executivo, romper com o PT.
Também pode esperar o pior, Michel Temer, o vice-presidente
que pregou a unificação nacional sabendo que a governanta seria incapaz disto,
aliás, de qualquer coisa.
Sentindo-se seguro Calheiros tenta debilitar Temer com a
ajuda do senador Álvaro Dias do PSDB do PT, rachando o PMDB. Grande erro. Uma
vez esgotada a serventia do senador e estando o próprio PMDB fragilizado, o PT
alcançará triunfante sua meta: ser o partido dominante, impondo-se
hegemonicamente sobre os demais. Nesse momento Calheiros poderá enfrentar seus
processos adormecidos no Judiciário, pois nunca ninguém escapou por ter ajudado
o PT. PT faz mal à saúde. PT mata.
Nesta hora em que o novo ministro da fazenda, substituto de
Joaquim Levy que apenas compôs uma fachada para dar credibilidade ao governo e
acalmar o mercado, provavelmente irá reeditar o que levou nossa economia ao
caos, feliz e sorridente dirá Rousseff em cadeia nacional de radio televisão,
sentindo-se imperatriz do Brasil:
“Se é para desgraça de todos e infelicidade geral da Nação,
digam ao povo que fico”.
______________
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.