No vídeo que mostra um trecho da entrevista à rádio
Itatiaia, Lula ensina que a oposição tem que ter paciência, conformar-se com o
resultado da eleição de outubro passado, aguardar a próxima sem pensar em
golpes e ajudar o governo a governar. É muita mentira para menos de 1 minuto.
Em apenas 55 segundos, o doutor honoris causa em cinismo ministrou uma aula
magna de vigarice.
Ele jura que, depois das disputas que perdeu em 1989, 1994 e
1998, foi para casa calado e calado ficou nos quatro anos seguintes. Haja
canalhice. O candidato perpétuo nem esperou que a apuração terminasse para
deixar claro que não conseguia ouvir a voz das urnas. Lula jamais engoliu a
vitória de Fernando Collor, muito menos os nocautes que FHC lhe impôs já no
primeiro turno.
Ninguém exigiu o impeachment de Collor com tanta ferocidade
quanto o chefão do PT. Ninguém foi mais hostilizado que Fernando Henrique
Cardoso pela selvagem oposição petista. Em 1995, ainda apostando no fracasso do
Plano Real, Lula continuava atribuindo o fiasco que protagonizara meses antes a
um “estelionato eleitoral”. Três meses depois de derrotado pela segunda vez
consecutiva ─ e por uma diferença de 14 milhões de votos ─, entusiasmou-se com
a palavra de ordem lançada por Tarso Genro: “Fora FHC”.
“Fora FHC”, continuava balindo no segundo semestre de 1999 o
rebanho conduzido pelo sinuelo ensandecido pela compulsão de trocar a
presidência de honra do PT pela Presidência da República. Em 26 de agosto, um
dia depois de uma manifestação de rua em Brasília, Lula achou que a miragem
estava ao alcance da mão. A queda do inimigo era questão de tempo, informava o
sorriso de quem já dormia com o peito enfeitado pela faixa presidencial cerzida
por Marisa Letícia.
A ofensiva boçal fora intensificada na véspera pelos dois
principais oradores da chamada Marcha dos 100 Mil. “Eu sou solidário com tudo o
que se fizer contra esse governo”, informou Leonel Brizola. “Por conseguinte,
eu sou solidário com a instalação de um processo de responsabilidade. Mas eu
quero dizer a vocês todos que eu considero que o que é necessário, que o Brasil
reclama e precisa, reclama e necessita é a renúncia deste homem que está aí”.
O desfile de afrontas foi encerrado pelo farsante que agora
acusa de “golpista” quem prega a renúncia de Dilma. “Eu tô gratificado porque
nós conseguimo dizê ao Fernando Henrique Cardoso e à sua corja que nunca mais…
que nunca mais eles ousem duvidar da capacidade de organização da sociedade
civil brasileira”, gabou-se o campeão de bravata & bazófia . Horas mais
tarde, numa entrevista coletiva, reiterou a opção preferencial pela estratégia
do quanto pior, melhor.
“Vamos fazer um ato por mês nas capitais e uma greve geral
contra a política econômica e as privatizações”, prometeu. Um repórter
perguntou-lhe se concordava com a bandeira desfraldada por Brizola. “Renúncia é
um gesto de grandeza, e Fernando Henrique Cardoso não tem essa grandeza. Ele é
orgulhoso, prepotente e não quer enxergar o que está acontecendo”.
Fazendo de conta que conversava olho no olho com a sigla que
sempre o assombrou, concluiu o numerito cafajeste: “Se a porca entortar o rabo
aqui, você corre para Paris. Mas nós não temos para onde correr”. Hoje lhe
sobra dinheiro para correr em direção ao melhor hotel de qualquer capital
europeia. Como o filho, é um multimilionário. Há pelo menos cinco anos não lhe
têm faltado jatinhos, anfitriões generosos ou patrocinadores perdulários.
O problema é que o Brasil mudou. A lei começou a valer para
todos. Os truques de mágico de picadeiro não funcionam mais. Tudo somado, Lula
não pode correr para lugar algum antes de livrar-se de uma indesejada escala em
Curitiba. É tudo de graça, mas ninguém quer ser hóspede da Operação Lava Jato.