Por Guilherme Fiuza - Revista Época
A Operação Lava Jato é como um filme de gângsteres passado
na cabeça de algum roteirista de Hollywood.
Lula convocou o "exército" do MST - nas palavras
dele para defender o PT nas ruas. Até que enfim alguém faz algo concreto em
defesa do nascente e moribundo governo de Dilma 2, a missão. A esta altura dos
acontecimentos, talvez só mesmo um exército usando a força bruta possa salvar o
mandato da grande dama - porque na legalidade está difícil.
Mas não tem problema, porque o PT sabe que esse negócio de
legalidade não tem a menor importância. Pelo menos não para quem tem bons
despachantes, doleiros diligentes e militantes bem pagos dispostos a tudo. Lula
convocará todos os seus exércitos até o dia 15, se possível com o auxílio
sofisticado de alguns depredadores de elite. Entre uma soneca e outra, o Brasil
está programando sair às ruas nesse dia. E não é de vermelho.
Cumpre ao grande líder, portanto, reunir todas as forças
populares de aluguel para mandar o Brasil de volta para casa, que é o lugar
dele.
Tudo isso acontece num momento histórico para o país. Após
anos de trabalho exaustivo, o PT conseguiu o que parecia impossível: rebaixar a
Petrobras à categoria de investimento especulativo. Não pensem que isso é
tarefa fácil, nem para o mais laureado dos parasitas.
Tratava-se da oitava maior empresa do mundo, que ia ficar
maior ainda após a descoberta do pré-sal. Jogar a Petrobras na lona, levando-a
a perder o grau de investimento e a sair vendendo bugigangas como uma butique
em liquidação é façanha para poucos. Os brasileiros que sairão às ruas no dia
15 só podem estar com inveja dessa obra-prima.
O Brasil deu 16 anos consecutivos de mandato presidencial ao
PT, e pode-se afirmar com segurança que uma grossa fatia desses votos foi dada
em defesa do nacionalismo - em defesa da Petrobras. Lula e o império do
oprimido conquistaram o monopólio da defesa do que é nosso e não têm culpa se o
povo não entendeu que eles estavam lutando pelo que é "só nosso". No
caso, os dividendos bilionários que a Petrobras podia dar a um esquema
subterrâneo de sustentação política. É mais ou menos como a situação do padre
pedófilo, que guarnece a pureza da criança para poder abusar dela.
Os brasileiros levaram essa curra ideológica e continuam
relaxados. Ninguém deu queixa. A Operação Lava Jato continua sendo assistida
como um filme de gângsteres, como se isso se passasse na cabeça de algum
roteirista de Hollywood. Um mistério insondável permanece impedindo que se
entenda por que as vítimas do estupro ainda não botaram os gângsteres para
correr. Talvez isso comece a se esclarecer no dia 15 de março de 2015. Ou não.
Em junho de 2013, o petrolão ainda não tinha jorrado nas
manchetes em todo o seu esplendor. Mas o mensalão e seus sucedâneos já
revelavam a jazida de golpes do governo popular contra o Estado - esse que o PT
jurava defender contra a sanha da direita neoliberal. Ou seja: o padre pedófilo
já estava escondido com a batina de fora, não via quem não queria. Foi então
que o Brasil saiu às ruas indignado, disposto a dar um basta nos desmandos que
já lhe custavam, entre outras coisas, a subida da inflação e o aumento do custo
de vida. O padre pedófilo assistiu àquela explosão de olhos arregalados, certo
de que tinha sido descoberto e de que agora vinham buscar o seu escalpo. Mas os
revoltosos nem o notaram, e ele pôde até, tranquilamente, estender seu tempo de
permanência na paróquia. Foi o fenômeno conhecido como a Primavera Burra.
Agora o outono se aproxima, com ares primaveris. As vítimas
do abuso começam, aparentemente, a entender que o seu protetor é o seu algoz.
Como sempre no Brasil, tudo muito lento, meio letárgico e confuso, com as
habituais cascas de banana ideológicas largadas no caminho pelo padre - "a
culpa é de FHC", "querem a intervenção militar", "é a
burguesia contra o Bolsa Família" etc. Como escreveu Fernando Gabeira, o
velho truque de jogar areia nos olhos da plateia - única instituição que dá
100% certo no Brasil há 12 anos. O problema é que, mesmo com areia nos olhos,
está dando para ver que o petrolão ajudou a financiar a reeleição de Dilma. E
agora?
Agora é hora de tirar a batina do padre e mostrar que o rei
está nu. Sem medo dos exércitos de aluguel que farão o diabo para defender o
que é nosso (deles).