Pela terceira vez em cinco meses, o Brasil mostrou nas ruas
que está farto de corrupção, incompetência e vigarice. Uma mobilização nacional
de tal porte e tamanha intensidade, decididamente, não é pouca coisa. Mas o 16
de Agosto foi muito mais que isso. A unificação das palavras de ordem, por
exemplo, consumou o sumiço dos nostálgicos de intervenções militares, tragados
pelo oceano verde e amarelo formado por democratas que rechaçam todas as tribos
autoritárias. O coro da multidão identificou com exemplar objetividade os
tumores a remover antes que o estado de direito seja abatido pela infecção
letal.
Em todas as regiões, a multidão exigiu o imediato despejo da
presidente que já não governa e bombardeou Lula com acusações alicerçadas em
fatos (além dos adjetivos, todos contundentes e todos merecidíssimos, há tanto
tempo aprisionados na garganta). Aécio Neves, José Serra e outros líderes oposicionistas enfim se juntaram
aos atos de protesto e afinaram o discurso com o grito dos indignados.
Inscrições em faixas e cartazes saudaram o juiz Sérgio Moro e os avanços da
Operação Lava Jato. Prudentemente, Dilma trancou-se no Palácio da Alvorada com
um punhado de ministros.
Deveria ter trancado no banheiro o companheiro que preside a
CUT. À solta, o delinquente Vágner Freitas materializou mais uma irretocável
ideia de jerico: promover uma boca-livre a favor do governo nas cercanias do
Instituto Lula. Enquanto pelegos miavam no microfone, os gatos-pingados pagos
para aplaudir os ataques à burguesia golpista disputavam bravamente pedaços de
churrasco e garrafas de cerveja. O contraste entre a bebedeira no esconderijo
do chefão e a portentosa passeata na Paulista valeu por 20 recordes de
impopularidade estabelecidos por Dilma.
Neste domingo, o Brasil que presta deixou claro que continua
em vigor o parágrafo único do artigo 1° da Constituição: todo o poder emana do
povo e em seu nome deve ser exercido. Se tiverem juízo, os figurões dos três
Poderes farão a vontade de quem manda.