Por Percival Puggina
Já vi concentrações maiores, inundadas por bandeiras
vermelhas. Eram manifestações assustadoras! Nada era dito sobre o Brasil e
muito era dito sobre a tomada do poder no Brasil. Festejavam vitórias no mesmo
tom com que o MST comemora suas invasões. Algo fora tomado de alguém. A
democracia dava mais um passo para trás e a revolução mais um passo a frente. E
eram vistosas as manifestações.
Foi curioso perceber
que a eleição do dia 26 de outubro não proporcionou qualquer daquelas antigas
explosões estelares e escarlates. Ao contrário, viu-se muita gente cabisbaixa,
com expressão de criança que sujou as fraldas. Fez e sabe que fez. De algum modo,
manifestavam o sentimento nacional, o sentimento de um país que precisa trocar
as fraldas, um país que não pode continuar sendo governado por um governo que
não controla os esfíncteres.
No início da tarde do último sábado, feriado de 15 de novembro, aniversário da Proclamação da República, um grupo de 5 mil pessoas se reuniu numa das esquinas do Parque Moinhos de Ventoem Porto Alegre (vídeos
aqui e aqui). Era um desses dias esplendorosos, em que o céu da capital gaúcha
se engalana num azul de lápis de cor. Vi pais levando seus filhos em carrinhos
de bebê. Vi uma senhora de 93 anos percorrer altiva e solene a longa caminhada
de três horas até o Monumento do Expedicionário, no Parque Farroupilha.
No início da tarde do último sábado, feriado de 15 de novembro, aniversário da Proclamação da República, um grupo de 5 mil pessoas se reuniu numa das esquinas do Parque Moinhos de Vento
Qual a força que me levou até lá, uniu-me a eles numa aderência
eletrostática, que nos imantou e mobilizou a todos através da marcha? Não
hesito em afirmar: foi um sentimento de bastança, de demasia. O partido que nos
governa foi longe demais e a multidão regurgitava 12 anos de desaforos levados
para casa. Quem estava ali eram pais e mães de família de verdade,
trabalhadores que trabalham, empresários que fazem andar a roda dos negócios
mas não se vendem, estudantes que estudam, pessoas de fé que rezam e pessoas
sem fé que respeitam a religiosidade alheia, pensadores que pensam a liberdade,
a democracia, os bons princípios e os mais elevados valores. "Ou ficar a
Pátria livre ou morrer pelo Brasil" sussurrou-me alguém ao ouvido. E essas
palavras acompanharam-me ao voltar para casa.
É preciso libertar a Pátria. Soltar as amarras em que vem
sendo gradualmente envolta. Romper a teia conspiratória e apátrida que quer nos
unir à "Pátria Grande" neocomunista, bolivariana, no mapa continental
vermelho, sem fronteiras e virado do avesso, proposto pelo Foro de São Paulo. E,
por fim, mas não por último, acabar com eleições que não merecem crédito, com o
império da mentira, da enganação, da chantagem, da injúria, onde o juiz da
partida é sócio do clube, onde se faz gol com a mão, três horas depois do
segundo tempo. O Brasil do bem não suporta mais ser explorado, taxado,
tributado, rotulado, dividido, roubado, enganado, e reagirá com os meios
proporcionados pelo Estado de Direito e pela democracia.
É preciso dizer à imprensa infiltrada, submissa e omissa, à
imprensa "empadinha", que combater o comunismo, ainda que disfarçado
e com vergonha do próprio nome, não é fascismo (como acusavam embusteiramente
os marxistas-leninistas ao levar seus opositores para o agasalho definitivo das
covas rasas). Ao contrário, é indeclinável exigência moral, numa sociedade de
homens livres, que conhecem História. E foi o que fizemos, da melhor forma que
pudemos, numa tarde em que o céu de Porto Alegre exibia, orgulhoso, um céu azul
de lápis cor.
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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.