Por Percival Puggina
Revirei meus arquivos. Revisei a história. Puxei pela
memória. Nada. Busquei inutilmente um exemplo em que a comunicação do governo e
as manifestações de lideranças petistas não tivessem como objetivo enganar a
nação, falsificar a verdade, criar ilusão, manipular fatos, dissimular males
praticados, induzir a opinião pública a erros de julgamento, soterrar em
publicidade as própria faltas. Pergunto: o que motivou os crimes contra a Lei
de Responsabilidade Fiscal, senão o desejo de esconder a realidade e falsear as
contas públicas, sob o nome original de "contabilidade criativa"?
Concluí: líderes petistas só dizem a verdade em delações
premiadas.
Fiz mais. Debrucei-me sobre o estouro das contas públicas.
Examinei os números das eleições presidenciais de 2014. Abri o arquivo dos
escândalos e escrutinei a lista das fortunas, expandidas com a velocidade
daqueles automóveis que aceleram de 0 a 100 km/h em poucos segundos. Constatei,
também, que menos de 10% da população aprova o governo Dilma, ao passo que 38%
dos deputados votaram por uma Comissão de Impeachment governista. Perderam, mas
fizeram muito voto!
Concluí: o governo não vence nas urnas nem nas votações do
Congresso Nacional sem, de alguma forma, comprar votos.
Este governo é filho da mentira. Elegeu-se mentindo. Nas
palavras de Lula: "ganhamos as eleições, sabe, com um discurso e, depois
das eleições, sabe, nós tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que
nós dizíamos que não íamos fazer". Muita conversa, Lula, para substituir a
palavra "mentimos". Bastaria essa corrupção fundamental, a corrupção
da verdade durante a campanha eleitoral, para mostrar quão pouco respeito
merece um mandato tão mal parido. Bastaria isso para que o governo inteiro e
seus apoiadores cruzassem pelos cidadãos, nas ruas, nos restaurantes, nos
aeroportos, de olhos baixos, envergonhados. No entanto, - fato previsível sob
tais condições morais - o governo tornou-se, também, centro de uma organização
criminosa imensa em vulto. E várias vezes bilionária em resultados. Poucos anos
bastaram para levar da pobreza à abastança uma plêiade de companheiros.
Concluí: a mentira é o primeiro degrau da corrupção. É
corrupção da verdade. Daí ao roubo dos fundos de um banco, ou de uma
petroleira, é questão de tempo e oportunidade.
Lênin, Goebbels e outros ensinaram (e todos que precisam
saber sabem): a mentira insistentemente repetida fica suficientemente parecida
com a verdade. Por isso, quando os petistas passam, em coro, a repetir algo de
um modo exaustivo, alerte-se, leitor: a verdade deve ser buscada no inverso da
afirmação. Nestes dias, a palavra golpe aparece duas vezes em cada frase
proferida por um defensor do governo. Logo, eles sabem que impeachment não é
golpe. E sabem isso melhor do que qualquer signatário de algumas das dezenas de
requerimentos de impeachment que foram protocolados na Câmara dos Deputados ao
longo deste ano, pelo simples motivo de que ou foram mentores, ou conhecem bem
a natureza dos atos praticados pela presidente.
Golpe foi quebrar o país. Golpe foi tentar fazer de Eduardo
Cunha uma espécie de dono do impeachment. Logo ele, que sentou durante meses
sobre os requerimentos apresentados pela sociedade. Logo ele que nunca disse
palavra que fosse, a favor de tais iniciativas. Logo ele que com sua atitude
passiva desestimulou a mobilização popular. Golpe é, também, tentar mudar o
rito do impeachment depois de iniciado o processo.
Mesmo assim, parido na mentira, o governo repete, como se
adestram cães - golpe, golpe, golpe! E não falta matilha para abanar o rabo.
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Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista
de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra
o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil,
integrante do grupo Pensar+.