Verdade revelada – Há quem diga que a imprensa é o quarto
Poder, mas é preciso abandonar essa ideia distorcida. O papel da imprensa é
fiscalizar os Poderes, o que não lhe confere o direito de ser mais um. Da mesma
forma é necessário dissociar os veículos de comunicação que são verdadeiras
usinas de manchetes daqueles que lutam pelo Brasil e pelos brasileiros, sem se
preocupar com a repercussão imediata de um escândalo ou com a alavancagem das
vendas de uma revista nos finais de semana, por exemplo.
Passar o Brasil a limpo, algo cada vez mais necessário, não
se faz no vácuo de uma reportagem supostamente exclusiva, que na semana
seguinte é deixada de lado e prontamente substituída por um novo imbróglio. É
preciso determinação de sobra e faro jornalístico para trilhar um caminho
árduo, longo e nem sempre tranquilo.
Quando o ucho.info afirma que defende o País e seus
cidadãos, não o faz por mero proselitismo, mas com base na sequência de fatos
que marcam a trajetória do site ao longo de quase treze anos de existência e
bom jornalismo. Na esteira da mencionada sequência de fatos decidimos adotar o
slogan “A MARCA DA NOTÍCIA”, que muito estranhamente foi copiado de maneira
escandalosa por importante emissora de rádio brasileira. O que mostra que
estamos a fazer escola, ensinando inclusive os grandes da comunicação nacional.
Sempre acreditando que o jornalismo sério e responsável vai além de uma
manchete ou um escândalo qualquer.
Muito tem se falado, nas últimas semanas, sobre a Operação
Lava-Jato, da Polícia Federal, e seus múltiplos desdobramentos, mas até agora
nenhum veículo da imprensa se preocupou em noticiar o nascedouro da
investigação da Polícia Federal que vem chacoalhando o Palácio do Planalto.
Queira ou não a grande imprensa, o ucho.info foi o primeiro veículo de
comunicação do País a denunciar o esquema criminoso que reunia alguns dos
investigados na Operação Lava-Jato. E vem insistindo nas denúncias desde 2009,
não se deixando intimidar pelas muitas ameaças que surgiram ao longo do tempo.
A partir desta terça-feira (22), os leitores do ucho.info
poderão acompanhar uma série de reportagens sobre o cardápio criminoso –
corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e desvio de dinheiro público
– que acabou na mira da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da
Justiça Federal. As matérias têm como base documento da Polícia Federal,
encaminhado ao juiz federal Sérgio Moro, que trata da Operação Bidone, um
desdobramento da Operação Lava-Jato.
Primeiro passo
Tudo começou em janeiro de 2009, quando o destacado
jornalista Antonio Castigliola, já falecido, pediu ao editor do ucho.info para
dar “guarida” a um amigo, o qual vivia um drama e era perseguido de maneira
covarde por político inescrupuloso. Castigliola, por sua grandeza comop
profissional e ser humano, foi prontamente atendido em seu pedido. A partir de
então teve início o conjunto de denúncias que culminou na Operação Lava-Jato.
Empresário do setor de tecnologia industrial, Hermes Magnus
desembarcou na capital paulista, em fevereiro de 2009, para uma conversa com o
editor do ucho.info. Em um café no bairro do Bom Retiro, zona central da
cidade, o empresário, em conversa recheada de detalhes e que avançou pela
madrugada, dissecou a armadilha que foi colocada em seu caminho. Buscando um
investidor para a empresa (Dunel Indústria e Comércio), o que garantiria a
expansão dos seus negócios, o empresário foi apresentado, em Curitiba, a José
Mugiatti Neto, que se dizia muito bem relacionado no universo político e das
finanças.
Não demorou muito e Mugiatti apresentou ao empresário o
deputado federal José Janene, já falecido, que à época estava às voltas com os
desdobramentos do Mensalão do PT, o maior e mais ousado escândalo de corrupção
da história política brasileira. Sempre focado em suas invenções, Magnus jamais
ouvira falar, até então, em José Janene. O que o tornou presa fácil de uma
figura nefasta da política nacional.
No começo, a relação do empresário com o grupo de Janene foi
quase uma “lua de mel”, até que situações estranhas passaram a marcar o
cotidiano de uma empresa reconhecida em todos os cantos do planeta pela
inovação e excelência de seus produtos. Nos primeiros encontros com José Janene
e seu grupo ficou acertado que a empresa receberia aporte inicial de R$ 2
milhões, quantia irrisória se comparada aos R$ 10 bilhões movimentados pelo
grupo do doleiro Alberto Youssef, sócio e compadre de Janene.
Golpe premeditado
Ao concordar com a proposta de investimento na “Dunel”, José
Janene viu a possibilidade de transformar a empresa em uma das muitas
lavanderias financeiras que integravam o seu guarda-chuva de negócios nada
ortodoxos, muitos deles em parceria com o doleiro Alberto Youssef. Contudo,
Janene, o xeique do Mensalão do PT, não contava com a inteligência e a retidão
do empresário, que passou a questionar a origem dos depósitos feitos na conta
bancária da empresa. Isso porque os pagamentos a fornecedores eram feitos a
partir de empresas estranhas ao negócio da Dunel.
A primeira reunião para tratar do negócio aconteceu no
escritório da CSA Project Finance, empresa controlada por José Janene, Alberto
Youssef e Paulo Roberto Costa, os dois últimos presos na Operação Lava-Jato por
ordem do juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba.
A CSA funcionava em um edifício localizado no número 1208 da
Rua Pedroso Alvarenga, no disputado e caro bairro do Itaim Bibi, na Zona Sul da
cidade de São Paulo. No mesmo prédio funcionava a corretora Bônus-Banval,
acusada de envolvimento no escândalo do Mensalão do PT e onde uma das filhas de
Janene fez estágio durante o escândalo palaciano de cooptação de parlamentares
por meio de mesadas.
Do primeiro encontro participaram, além do empresário, o
mensaleiro José Janene, o doleiro Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa (então
diretor da Petrobras), Carlos Alberto da Costa e Claudio Mente, os dois últimos
sócios da CSA. Foi nessa reunião que ficou acertado o valor do investimento na
empresa de tecnologia e como isso se daria.
Prova dos nove
Após alguns meses de investigação e checagem de informações,
então de posse de um organograma dos crimes cometidos pelo grupo de José
Janene, o ucho.info passou a publicar matérias sobre o tema, entre as quais se
destacam:
Em 5 de agosto de 2011, uma nova matéria – “Herdeiros deJanene se surpreendem com os ‘amigos cítricos’ do xeique do Mensalão do PT” –
apontava a indignação dos familiares de Janene com a descoberta de que alguns
“laranjas” se apropriaram de bens do falecido mensaleiro, como o caso da conta
bancária aberta no exterior e que, segundo apurou o site, tinha à época saldo
de R$ 180 milhões, valor reclamado nos bastidores por alguns herdeiros.
Em 16 de abril de 2012, outra matéria – “Herdeiros de Janenepodem ser desmascarados em caso de participação oculta em empresa” – revelou o
descumprimento das regras de fiel depositário por parte da empresa Dunel, que
Janene passou a controlar com o objetivo de transformá-la em lavanderia
financeira. Mais uma vez, o ucho.info mencionou a CSA Project Finance, empresa
que serviu como base para os muitos crimes cometidos pelo grupo e que acabaram
investigados pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato.
Ameaças violentas e o fim da parceria
A relação entre o dono da Dunel e o grupo liderado por José
Janene deteriorou-se com o passar do tempo, a ponto de o negócio ter sido
paralisado no vácuo de ameaças graves feitas pelo então deputado e seus
capangas, conhecidos em Londrina pela atuação violenta no cumprimento das
ordens dadas pelo chefe. Em muitas ocasiões, usando telefones públicos da
cidade de Londrina, Hermes Magnus telefonou para a Polícia Federal, deixando
gravações em que pedia socorro. Mas nenhum dos seus pedidos de ajuda foi levado
em conta. Ao contrário, esses telefonemas serviram para azedar ainda mais a
relação com José Janene.
Muitas foram as situações de intimidação, em sua maioria
originadas pelo fato de o dono da Dunel cobrar de José Janene mais
transparência nos depósitos bancários e o cumprimento do acordo de
investimento, que passou a rarear na medida em que tornava-se turbulento o
convívio entre o empresário e o grupo do mensaleiro. Os fornecedores passaram a
condicionar a entrega de suprimentos e peças à comprovação da origem do
dinheiro utilizado nos depósitos bancários, mas o grupo comandado por Janene
simplesmente se omitiu.
A situação se agravou sobremaneira e o empresário ficou sem
os equipamentos produzidos durante a parceria com Janene e viu o segredo de
suas invenções ser surrupiado por quadrilheiros, que viram na empresa a
possibilidade de lavar dinheiro ilícito e praticar a evasão de divisas de
maneira supostamente legal, uma vez que parte da produção da empresa era
destinada à exportação. Sem vislumbrar qualquer saída, o proprietário da Dunel
procurou a Polícia Federal, em Londrina, que no vácuo das matérias do ucho.info
acabou instaurando inquérito policial para investigar a atuação criminosa de
Janene e seu bando.
Mesmo assim, a investigação só avançou depois de muita
insistência por parte de Hermes Magnus, proprietário da Dunel, e do editor do
ucho.info, já que o poderio financeiro e a influência de Janene eram voz
corrente na segunda mais importante cidade paranaense, inclusive na Polícia
Federal, onde contava com a simpatia de alguns integrantes da corporação.
Com a formalização da denúncia e a repercussão das matérias
do ucho.info, Janene acionou o estafeta José Mugiatti, que em conversa
telefônica tentou acalmar o empresário e convencê-lo de que a situação
precisava ser contornada e revertida. Mugiatti afirmou na conversa que os
equipamentos e maquinários reclamados pelo empresário estavam guardados e sem
sofrer qualquer tipo de dano, mas tudo não passou de uma enorme mentira. Até
hoje, Hermes Magnus não conseguiu reaver seus bens. Clique e confira o áudio da
conversa telefônica, divulgada com exclusividade pelo ucho.info em 2009.
Na próxima reportagem da série, o ucho.info mostrará os desdobramentos da dissolução da sociedade, as ameaças feitas ao empresário e a retomada das investigações, desta vez pelo Ministério Público Federal.