Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz,
Presidente do Pró-Vida deAnápolis

Se um edifício tem uma fachada linda, paredes bem
resistentes, pilares grossos, mas não tem alicerce, ninguém de bom senso se
atreverá a morar nele.
Assim, há candidatos com muitas qualidades humanas:
capacidade de administração, boa retórica, boas relações com o público, preparo
intelectual, mas nenhum cristão pode votar neles se houver falhas no que há de
fundamental: o respeito à vida e à família.
Para escolher um candidato, é preciso examinar três coisas:
primeiro, o seu Partido, segundo o seu Passado e, por último, as suas
Promessas. É importante observar a ordem deste PPP. As Promessas estão em
último lugar. Não devemos dar importância a elas se o Partido do candidato é
antivida ou se o candidato no seu Passado favoreceu a cultura da morte.
1º) O Partido
A Igreja, justamente por ser católica, isto é, universal,
não pode estar confinada a um partido político. Ela “não se confunde de modo
algum com a comunidade política”[1] e admite que os cidadãos tenham “opiniões
legítimas, mas discordantes entre si, sobre a organização da realidade
temporal”[2].
Isso não significa, porém, que os fiéis católicos podem
filiar-se a qualquer partido. Há partidos que abusam da pluralidade de opinião
para defender atentados contra a lei moral, como o aborto e o casamento de
pessoas do mesmo sexo. “Faz parte da missão da Igreja emitir juízo moral também
sobre as realidades que dizem respeito à ordem política, quando o exijam os
direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas”[3].
Um exemplo de um partido incompatível com a moral cristã é o
Partido dos Trabalhadores (PT). No 3º Congresso do PT, ocorrido entre agosto e
setembro de 2007, foi aprovada a resolução “Por um Brasil de mulheres e homens
livres e iguais”, que inclui a “defesa da autodeterminação das mulheres, da
descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no
serviço público”[4]. Todo candidato filiado ao PT é obrigado a acatar essa
resolução. O Estatuto do PT põe como requisito para ser candidato pelo Partido
“assinar e registrar em Cartório o ‘Compromisso Partidário do Candidato ou
Candidata Petista’” (art. 140, c)[5]. Tal assinatura, diz o Estatuto, “indicará
que o candidato ou candidata está previamente de acordo com as normas e
resoluções do Partido, em relação tanto à campanha como ao exercício do
mandato” (art. 140, §1º). Se o político contrariar uma resolução como essa, que
apoia o aborto, “será passível de punição, que poderá ir da simples advertência
até o desligamento do Partido com renúncia obrigatória ao mandato” (art. 140,
§2º). Em 17 de setembro de 2009, dois deputados petistas (Luiz Bassuma e
Henrique Afonso) foram punidos pelo Diretório Nacional. O motivo alegado é que
eles “infringiram a ética-partidária ao ‘militarem’ contra resolução do 3º
Congresso Nacional do PT a respeito da descriminalização do aborto”[6].
Não deve causar espanto que o PT aprove o aborto, uma vez
que já no artigo 1º de seu Estatuto, tal partido se declara defensor de uma
doutrina inúmeras vezes condenada pela Igreja: o socialismo[7].
Convém aqui recordar o ensinamento dos dois Papas
canonizados pelo Papa Francisco: João XXIII e João Paulo II.
São João Paulo II explica que “o erro fundamental do
socialismo é de caráter antropológico. De fato, ele considera cada homem
simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social. [...] O homem
é reduzido a uma série de relações sociais, e desaparece o conceito de pessoa
como sujeito autônomo de decisão moral”[8].
O socialismo vê na criança por nascer algo que está
subordinado à vontade da sociedade. Se for proveitosa para a sociedade, que
nasça. Se for trazer ônus ao Estado, se trouxer mais custos que benefícios, que
seja abortada.
Explica-se assim como há uma afinidade estreita entre o
socialismo e a causa abortista. Não é à toa que o primeiro país do mundo a
legalizar o aborto foi a Rússia, em 1920, logo após a revolução comunista de
1917. Não é à toa também que durante a vigência do nazismo (nacional
socialismo), a Alemanha legalizou a prática do aborto com fins de purificação
da raça (eugenia). Não é à toa que na China, que se tornou comunista desde a
revolução de 1949, o aborto não é só permitido, mas até obrigatório como meio
de controle de natalidade. E não é à toa que em Cuba, sob o regime dos irmãos
Castro, ocorrem anualmente cerca de 66 abortos provocados para cada 100
partos![9]
Poderia haver um tipo de socialismo tão suave que pudesse
ser aceito pelos cristãos? A essa pergunta, São João XXIII responde
negativamente, recordando os ensinamentos de seu predecessor Pio XI: “Entre
comunismo e cristianismo, o Pontífice declara novamente que a oposição é
radical. E acrescenta não poder admitir-se de maneira alguma que os católicos
adiram ao socialismo moderado”[10].
Eis a lista dos partidos políticos brasileiros que se
declaram comunistas ou socialistas:
Partido dos Trabalhadores (PT) - 13
Partido Comunista Brasileiro (PCB) - 21
Partido Popular Socialista (PPS), sucessor do PCB - 23
Partido Comunista do Brasil (PC do B) - 65
Partido da Causa Operária (PCO) - 29
Partido Democrático Trabalhista (PDT) - 12
Partido da Mobilização Nacional (PMN) - 33
Partido Pátria Livre (PPL) - 54
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) - 50
Partido Socialista Brasileiro (PSB) - 40
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) - 16
Partido Verde (PV)[11] – 43
Exclua, portanto, os candidatos cujos números começam por
13, 21, 23, 65, 29, 12, 33, 54, 50, 40, 16 e 43.
Não votar em tais candidatos – mesmo que sejam seus amigos –
é um ato de correção fraterna. Votar neles é ser cúmplice do erro que eles
cometeram ao filiar-se a um partido anticristão.
2º) O Passado
Excluídos os candidatos pertencentes aos partidos acima, é
preciso agora examinar o passado de cada candidato. Se ele já foi parlamentar,
deve-se examinar como foi o seu voto nas questões relativas à vida e à família.
Verifique, por exemplo[12]:
1) se em 02/03/2005 ele foi um dos deputados que votou
contra ou a favor do artigo 5º da Lei de Biossegurança, que permite a
destruição de embriões humanos.
2) se em 13/08/2008 ele foi um dos deputados que assinaram o
Recurso 0201/08, de José Genoíno (PT/SP), solicitando que o projeto abortista
PL 1135/91 não fosse arquivado, mas primeiro fosse apreciado pelo plenário da
Câmara.
3) se em 28/05/2009 ele foi um dos deputados que assinaram a
PEC 367/2009, pretendendo dar um terceiro mandato (pró-aborto) ao presidente
Lula.
4) se em 19/05/2010 ele foi um dos deputados que votaram
contra o Estatuto do Nascituro na Comissão de Seguridade Social e Família.
5) se em 22/04/2014 ele foi um dos senadores que votaram a
favor da ideologia de gênero no Plano Nacional de Educação.
3º) As Promessas
As promessas de defender a vida desde a concepção até a sua morte
natural etc., ainda que sejam feitas por escrito e assinadas, só têm algum
valor se o candidato já venceu as duas etapas anteriores: o Partido e o
Passado. É totalmente inútil, por exemplo, que um candidato petista (que,
portanto, já assinou o Compromisso Partidário do Candidato Petista em defesa do
aborto) venha agora assinar um outro compromisso em defesa da vida. Cuidado,
portanto, com os “pró-vida” de última hora!
Fonte: Julio Severo
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Notas:
[1] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et
Spes”, n. 76.
[2] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral “Gaudium et
Spes”, n. 75.
[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 2246, citando “Gaudium
et Spes, n. 76.
[4] Resoluções do 3º Congresso do PT, p. 82. in:
http://old.pt.org.br/arquivos/Resolucoesdo3oCongressoPT.pdf
[5] Partido dos Trabalhadores. Estatuto, art. 140, c in:
http://old.pt.org.br/arquivos/ESTATUTO_PT_2012_-_VERSAO_FINAL_registrada.pdf
[6] DN suspende direitos partidários de Luiz Bassuma e
Henrique Afonso. Notícias. 17
set. 2009, in: http://www.pt.org.br/portalpt/documentos/dn-suspende-direitos-partidarios-de-luiz-bassuma-e-henrique-afonso-254.html
[7] “Art. 1º - O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma
associação voluntária de cidadãos e cidadãs [...] com o objetivo de construir o
socialismo democrático”.
[8] JOÃO PAULO II, Encíclica Centesimus annus, 1991, n. 13.
[9] Cf. Anuario Estadístico de Salud 2013, p. 166, in:
http://files.sld.cu/dne/files/2014/05/anuario-2013-esp-e.pdf
[10] João XXIII, Encíclica Mater et magistra, 1961, n.º 31
[11] O PV não se declara socialista, mas em seu Programa
defende o homossexualismo e a legalização do aborto (cf.
http://pv.org.br/wp-content/uploads/2011/02/programa_web.pdf).
[12] Pode-se verificar isso clicando em “Como votaram”, no
sítio do Pró-Vida de Anápolis: www.providaanapolis.org.br
Comentário de Julio Severo:
Embora o alvo do artigo do Pe.
Lodi sejam os católicos, o público em geral também pode se beneficiar de suas
instruções, que são especialmente importantes para os católicos, considerando a
hegemonia esquerdista da CNBB na Igreja Católica do Brasil.