Por Percival Puggina
Mergulhou fundo em
estranhas confabulações o relatório do TCU sobre a aquisição da refinaria de
Pasadena. Saiu ensopado, mas saiu como o governo queria, nada respingando para
o lado do Conselho de Administração. Ou seja, para o lado da presidente Dilma,
que, à época da inconcebível compra, pilotava o órgão de aconselhamento
superior da estatal.
O jornal O Estado de São Paulo informa, na edição do dia 25
de julho, que o ministro do TCU José Múcio Monteiro, na segunda-feira 21, dois
dias antes da sessão de julgamento, esteve reunido em São Paulo com o
ex-presidente Lula. Segundo o ministro, foi uma visita para matar saudade e
jogar conversa fora. Para Lula, nem isso. Jacaré não vai para o céu e Lula sabe
muito bem o motivo. Recusou-se a comentar o assunto. Para as fontes do jornal,
no entanto, o encontro efetivamente ocorreu como parte de uma investida do
governo para blindar a presidente e evitar danos à sua imagem quando ela está
em plena campanha para suceder a si mesma. Até o início da semana havia a
expectativa de que o relator do processo, ministro José Jorge, indicaria
responsabilidade de Dilma em virtude de sua posição no Conselho à época dos
fatos.
Transcrevo parte da matéria: "Após a conversa com Lula,
o ministro do TCU procurou os colegas e ponderou que responsabilizar Dilma
neste momento pré-eleitoral seria politizar demais o caso, além de repetir a
defesa do governo de que a presidente votou a favor da compra da refinaria com
base em resumo incompleto sobre o negócio. Um ministro, ouvido pelo Estado sob
a condição de anonimato, relatou que até uma vaga no Supremo Tribunal Federal
foi mencionada. A votação foi unânime". Noutra parte da mesma matéria,
lê-se: "Lula sinalizou que até mesmo cargos em um eventual segundo mandato
de Dilma poderiam ser usados como elemento de convencimento dos ministros".
No dia 23, enquanto os corredores se agitavam e os celulares
esquentavam as orelhas, o ministro Benjamin Zymler pediu vistas ao processo. O
pedido, formulado com intuito preventivo, foi imediatamente retirado quando se
evidenciou que a maioria dos membros da corte se inclinava em favor da não
inclusão da presidente. Nesse mesmo sentido, aliás, posicionou-se o relator,
ministro José Jorge, no voto que proferiu. Decisão unânime.
A questão que fica no ar, sem possibilidade de resposta
conclusiva, é a seguinte: a deliberação do TCU foi influenciada, ou não, pelo
que ocorreu nos bastidores? O que sim, se sabe, é que as fontes do Estadão
relatam algo que, desgraçadamente, se torna muito verossímil porque tem toda a
cara do Brasil que, a cada dia, mais e melhor conhecemos.
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Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor,
titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais
e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.