sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Que diferença há entre as vítimas da Palestina e as das FARC?

Por Andrés Candela

Senador Iván Cepeda: pouco, quase nada, utilizo vivências pessoais, embora tenha argumentos e exemplos que me permitam sustentar qualquer coluna. Queria escrever sempre como verdadeiramente penso e sinto, mas é impossível: as palavras sempre são poucas e estarão limitadas ante a impotência, a injustiça, e talvez a única coisa que teremos como improvisado relator da situação é um profundo suspiro, é o mais próximo à dor, que desconhece as palavras. O senhor deve saber melhor que eu. Não obstante, permita-me traçar-lhe um breve parágrafo como cabeçalho para tratar o tema do título.

A paternidade me avivou angústias que minha juventude sempre calou. Eu, literalmente, deixei de ser a primeira pessoa do singular para me converter a todo momento em “ela” e seu bem-estar. Quando a puseram entre meus braços não soube o que fazer. Isso nunca foi um segredo. Eu jamais me converti no “homem mais feliz do mundo” nesse dia, como ocorreu a muitos. Além disso, estive em “estado de choque” e de silêncio por vários dias, e necessitei tempo para assimilar essa diminuta vida que já faz parte da minha e que hoje necessitaria mais que a vida para imaginar minha existência sem sua proximidade.

Pois bem, senador Cepeda, considero que encobrir as vítimas das FARC de forma implícita (sem nunca se referir a elas) é uma vil canalhice, depois de tantos anos de massacres, porém parece ser uma ordem tácita, porque assim estariam fazendo muitos funcionários, senadores e jornalistas para esquentar a coroa para Santos com tão oneroso e improdutivo processo de “paz”, cujos únicos e notórios resultados são a grande quantidade de insensatez apregoadas pelos camaradas de Havana, o aumento das incursões subversivas e o regresso das FARC a diversos territórios do país onde já não estavam. Além disso, senador Cepeda, parece ao senhor que nossa realidade é tão perfeita ou imaculada que carecemos de vítimas e que devemos importá-las de Gaza? Não lhe parece que a Colômbia já tem sua boa dose de sacrificados - tanto das FARC como dos para-militares - para sair a nos ocupar dos problemas de outras latitudes no mesmo dia da instalação do Congresso da Colômbia, com um cartaz que dizia “fim do massacre em Gaza”?! E qual é - segundo seu critério, senador Cepeda - a importância que merecem as vítimas de Gaza acima das vítimas das FARC?! Porque nesse caso também devo lhe perguntar: para qual país legislará o senhor?!

Senador Cepeda, no fim de semana antes de ver sua fotografia no Twitter e a de seus companheiros no Congresso com o mencionado cartaz, também me chegou um vídeo que, lhe asseguro!, só tive coragem de vê-lo uma só vez. Um vídeo cuja cena, como pai de família, me destroçou a alma... E que Deus me ajude no parágrafo seguinte porque não sou ávido atirando letras, sou obstinado organizando-as! Essa é - talvez - minha única virtude.

E foi transitando nos caminhos de meu ócio como encontrei uma dor desmesurada, uma angústia solitária (embora houvesse muita gente a seu redor), a cara da vida e da morte postas de frente, sem as quais nenhuma existência se avaliaria. Entretanto, presenciar tão incalculável sofrimento em tão tenra idade não tem nada de vida, embora estejamos falando da morte de um verdadeiro herói sem cadeira política! Quem pode passar por cima da tragédia de um menino que implora o olhar de seu pai morto? “Papai, papai, papai... por favor, olhe para mim, paizinho!”. Não houve uma só voz que o consolasse, nem um só regaço que o protegesse... Por que? Porque a maioria de nossa pérfida classe política desvalorizou nossos verdadeiros heróis e a justiça jogou fora a venda, e agora posa com os olhos enfocando o ouro! Depois... um grupo de senadores acreditado ser o tribunal moral de todo o mundo, do mundo inteiro!

PS: O vídeo, segundo a informação que encontrei, data de um dos tantos massacres contra a Polícia Nacional e orquestrado, indubitavelmente, pelas FARC.


Tradução: Graça Salgueiro



De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Processe-me!

Por Ucho Haddad

ucho_25Como sempre faço em nossos colóquios redacionais, Dilma, lembro que deixarei de lado a formalidade para não comprometer a fluidez do texto. Você pode até estar pensando que fiquei louco, mas isso ainda não aconteceu. E saiba que não lhe darei esse privilégio. O dia que isso acontecer, que seja por uma mulher inteligente. E esse não é o seu caso, apesar de você continuar acreditando que é o Aladim com uma dose cavalar de progesterona.

Imagino o quanto deve ser difícil comandar um país com as dimensões e os problemas do Brasil, mas você abusou da irresponsabilidade ao errar seguidas vezes e não pedir para sair. Tivesse feito isso, com certeza teria entrado para a história. Mas não, você precisava mostrar aos brasileiros a extensão da sua incompetência, que de tão grande coloca na sua alça de mira até mesmo quem conta verdade sobre a economia. Veja a situação do analista do Santander que decidiu revelar aos clientes do banco o que mais da metade do planeta já sabia: que uma eventual vitória sua nas urnas de outubro próximo provocará um desastre ainda maior na economia.

Muito estranhamente, Dilma, você é economista. E por isso sabe que o tal analista, agora desempregado, não está errado. No máximo pode-se dizer que ele foi ousado, mas o Brasil ainda é uma democracia. Ou será que estou enganado, Dilma? Ao invés de rebater o conteúdo do comunicado estampado nos extratos bancários dos clientes especiais do Santander, você trabalhou nos bastidores para que o sujeito fosse demitido. Decisão típica de ditadores travestidos de democratas. O pior é que você sequer teve coragem para pressionar o presidente do banco, pois se a notícia vazasse seria o fim. Então surgiu a ideia esdrúxula de colocar em cena o “doutor honoris causa” em besteiras e alucinações.

Jamais acreditei em uma só palavra balbuciada por você, pois a política se confunde com a prática de omitir a verdade. E nesse quesito você é especialista. Eis a primeira oportunidade para me processar: afirmei que você esconde a verdade, o que não significa que tem mentindo mais. Apenas deu uma repaginada na mitomania de sempre. Quer dizer, Dilma, que aquele que fizer críticas à sua atuação genial diante da economia tupiniquim está com dos dias contados?

Como não tenho medo de cara feia e muito menos de ameaça, algo que seus “cumpanheros” fazem com invejável maestria, continuarei criticando de forma contundente, ácida e dura as barbaridades que você e seus estafetas cometeram e comentem na seara econômica, a ponto de colocar o Brasil a um passo do despenhadeiro da crise. Mesmo assim, você ousa dizer que o Brasil está prestes a entrar em um novo ciclo. Só se for o ciclo final da máquina de triturar. O estrago que você provocou na economia só tem uma explicação: a declaração de Lula, feita em 2010, de que você era, à época, a garantia de continuidade. Por isso reconheço desde já que nesse quesito você se mostrou extremamente competente. Continuou a lambança iniciada por Lula. Não contente, resolveu turbinar o estrago ao seu modo.

Mesmo assim, confesso que minha admiração por você é descomunal e crescente. Fato é, que tenho pensado em lhe presentear, talvez com uma camisa de força, pois dizem as más línguas palacianas que com você o jogo é duro e bruto. Entendo esse seu comportamento, Wanda, quer dizer, Dilma, pois a clandestinidade embrutece. É o que dizem os clandestinos de então, agora críticos contumazes do seu desgoverno. Quem diria, a guerrilheira Estela acabando seus dias de suposta glória na mira dos pretéritos companheiros de armas. Ou seja, lhe falta competência até para convencer os mais próximos.

Não venha com a aquela conversa melodramática de que foi torturada durante os plúmbeos anos, pois você tem se mostrado uma direitista de mão cheia. Senti literalmente na pele o que isso significa e sei o quão difícil é apagar esses momentos da memória. Talvez você tenha aprendido nos porões da ditadura como se pede a cabeça de alguém, como aconteceu, de forma covarde, em relação à pessoa do Santander que ousou afirmar que sua vitória nas urnas provocaria uma débâcle na economia da nossa querida e descontrolada Botocundia.

Um dia, não faz muito tempo, quando seus companheiros de palácio surgiram com a ideia de que a imprensa deveria ser controlada – sem contar aquela banda podre que passa no caixa do governo –, você, sem me convencer, disse que preferia o ruído da democracia ao silêncio da ditadura. Por sorte não me decepcionei, pois sempre soube que o ácido desoxirribonucléico – o tal do DNA – que ocupa sua carcaça é totalitarista. Fico imaginando o que acontecerá com os jornalistas que têm criticado de maneira recorrente as insanidades que descem a rampa do Palácio do Planalto dia após dia para destruir a nação e vilipendiar os direitos mais básicos do cidadão.

Faltar com a verdade já não é problema pra você, Dilma. Fico a imaginar o que pensará o seu neto, o Gabriel, quando souber dos desvarios governamentais da avó. E discorro os porquês. Você insiste em “vender” à população a ideia de que o Brasil é o País de Alice, aquele das maravilhas. Provavelmente esse deve ser o seu endereço oficial, pois não é possível que a presidente do Brasil desconheça a realidade (dura) da economia local. Para você está tudo certo, maravilhoso, impecável, apenas e tão somente porque o seu partido descobriu a fórmula mágica de governar, transformando-se na derradeira salvação do universo.

Creio que há muito você não vai ao supermercado ou sai em campo para as compras corriqueiras do cotidiano. Por isso afirma, sem saber o que fala, que a inflação oficial está perto do teto da meta, mas sob controle. Dilma, para adoçar nosso apimentado colóquio cito alguns exemplos. Sou do tempo em que engordava-se os porcos com abóbora. Hoje, sob o manto da genialidade petista, um quilo de doce de abóbora custa R$ 35.

Tudo bem, você dirá que isso é uma exceção. Vamos à outra ponta da doçaria. Na infância, quando aos domingos saía para almoçar com a família, eu e meu pai, após o regabofe, nos rendíamos à doçura de suculentas cocadas. Coisa de gordo, assunto que você não desconhece, até porque sua cintura de pilão não deixa dúvidas a respeito. Recentemente encontrei um cidadão, em dada feira-livre da Pauliceia Desvairada, fazedor de cocadas. Por questões óbvias tornei-me cliente do sujeito. As cocadinhas, deliciosas, é bom lembrar, custavam R$ 4 cada.

Um belo dia, numa sexta-feira, saí em cima da hora para buscar as cocadas e descubro que os trocados que carregava no bolso eram insuficientes para levar as costumeiras doçuras para casa. O preço da cocada saltara de R$ 4 para R$ 5. Perguntei ao “seu cocada”, assim o chamo, sobre a razão do aumento, e ele me respondeu: pergunte à Dilma. Na sequência o “seu cocacada” disparou: INFLAÇÃO. Ou seja, nesse país que você sequer conhece, o Brasil, a inflação que reina no tabuleiro da baiana já está em 25% ao ano. Dilma, já passei da idade de sonhar com determinadas coisas, mas admito que o meu sonho maior no momento é morar nesse seu país. Que coisa bacana conviver com inflação de 6,5% ao ano!

Conhecida pela humildade e também pela facilidade com que reconhece os próprios equívocos, você há de dizer que no Brasil o responsável pela economia é um tremendo cretino. E serei obrigado a concordar, Dilma. Que bando de incompetentes. O pior é que esses alarifes costumam pedir a cabeça de quem os critica. Definitivamente, os ditadores foram infectados pelo vírus da canalhice.

Diante da minha casa, magnânima Dilma, tem uma daquelas máquinas de assar frango, as chamadas “televisões de cachorro”. Nesse país chamado Brasil, minha terra natal e pela qual luto diuturna e incansavelmente, já tem gente se juntando aos cachorros que ficam a contemplar os frangos rodando debaixo das resistências incandescentes. Isso porque cada frango assado custa R$ 30. Pasme, Dilma, que a presidente do meu país crê que ter aumentado o salário mínimo em pouco mais de R$ 40 foi um ganho enorme para o trabalhador. Ou seja, essa incompetente deu ao trabalhador comum um aumento salarial que corresponde a um frango assado e um punhado de cacarejos, mas acredita que está abafando.

Você também poderá alegar que as penosas estão mesmo pela hora da morte. Tudo muito bem… Passo ao pão de queijo, que você já deve ter ouvido falar. O danado do pão de queijo custava, onde costuma saborear essa guloseima, R$ 4, mas agora está custando R$ 5. De novo a inflação verdadeira, aquela que atormenta os brasileiros a todo instante, está na casa de 25% ao ano. Ultimamente tenho pensado em procurar um analista, não de economia, mas aquele de divã, porque ando dividido entre a cocada e o pão de queijo. E não sei que caminho tomar. Do doce de abóbora já desisti, pois está mais barato comer marrom glacê em uma daquelas charmosas pâtisseries parisienses. Em relação ao frango, ainda não decidi a identidade canina que adotarei de agora em diante.

Saindo do devaneio e voltando à realidade, cheguei à conclusão, Dilma, que presenteá-la com apenas uma camisa de força é pouco. O melhor é chegar na “loja” e pedir uma de cada cor, assim você poderá combinar com seus enfadonhos terninhos. Não pense que decifrei esse enigma sem uma inspiração de sua parte. Você despenca na minha cidade, a Pauliceia Desvairada, onde sua reputação está abaixo da axila da serpente, e como fosse um papagaio de pirata inovador diz que a “verdade vai vencer o pessimismo”. Isso porque sua espantosa criatividade precisou se escorar no besteirol de Lula, vociferado em 2002, quando a cantilena da ocasião era “a esperança vai vencer o medo”.

Dilma, para finalizar e não mais tomar o seu precioso tempo, até porque gênios têm a agenda repleta de compromissos, a economia brasileira está uma grande porcaria. E se você for reeleita a situação ficará muito pior. Você chama isso de pessimismo, mas eu chamo de verdade.

Pedir a minha cabeça, apenas porque afirmo e repito que você é incompetente, é um direito seu, mas nesse caso o assunto deve ser tratado comigo mesmo. Como ainda não cheguei a um grau de loucura que me leve a ensaiar harakiris, sugiro que você me processe. Quanto ao Lula, o irresponsável que lhe inventou como presidenciável, você não precisará acioná-lo para me intimidar. Faça isso sozinha, pois desse falso “doutor honoris causa” cuido eu.

Como não consigo desejar o mal ao próximo, despeço-me com a elegância de sempre e sem finalizar com “PT saudações”, porque essas duas consoantes, quando juntas, provocam gastura.


Fonte: ucho.info


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Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

Conselho quer punição de desembargador que criticou MP

Entrevista do desembargador à BBC Brasil gerou reação entre membros do Ministério Público
Após manifestar repúdio às declarações dadas pelo desembargador Siro Darlan à BBC Brasil, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu por unanimidade levar o caso ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) "para que sejam tomas as providências cabíveis".

Em entrevista publicada na última segunda-feira, Darlan criticou a superlotação das prisões brasileiras e disse que "o MP é eficiente na repressão do povo pobre, do povo negro".

O desembargador, que concedeu habeas corpus a 23 ativistas investigados pela polícia por envolvimento com atos violentos em protestos, disse ainda que o MP "é uma inutilidade", "muito eficiente quando lhe interessa".

Em nota publicada na noite da quarta-feira, Darlan disse que "em nenhum momento" afrontou o MP, "onde militam ilustres profissionais democratas e fiéis defensores dos princípios republicanos". No texto, ele clama pelo "direito de manifestar livremente [suas] opiniões".

A decisão contra Darlan aconteceu na sessão ordinária do CNMP, na última terça-feira, em Brasilia. Segundo o presidente da entidade, o procurador-geral da República Rodrigo Janot, o encaminhamento ao CNJ deve acontecer após a aprovação da ata da reunião, até o próximo dia 18.

Procurados pela reportagem, representantes do CNJ informaram que as penalidades previstas neste tipo de situação vão desde advertência até aposentadoria compulsória do magistrado. "Mas não podemos comentar sobre este caso específico", disseram os porta-vozes.

Esclarecimento

Darlan comentou a repercussão da entrevista e justificou o uso do termo "inutilidade".

"A entrevista que dei por telefone para a BBC Brasil tratava da questão do enclausuramento excessivo no Brasil, fato público que tem sido motivo de preocupação do Conselho Nacional de Justiça, dos Tribunais e também dos Tribunais Internacionais de Direitos Humanos", diz a nota do desembargador.

No texto, ele explica que "diante da falta de aplicação da Lei de Execuções Penais, em vigor desde 17 de julho de 1984, e a ausência de ações necessárias e pertinentes do Ministério Público, fiscal da lei e também do sistema penitenciário, afirmei ser uma inutilidade".

Durante a reunião do CNMP, Rodrigo Janot classificou "sem fundamento e irresponsáveis" as críticas do desembargador.

"Isto aqui não é um órgão corporativo, nós não somos um sindicato de categoria e por isso me sinto à vontade de repelir esse tipo de agressão gratuita", disse o presidente do conselho do MP na reunião. "Este é mais um episódio da série 'morro e não vejo tudo'".
Na ocasião, a AMPERJ (Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) também divulgou nota de repúdio.

Após a aprovação unânime, o CNMP decidiu enviar cópia da ata da sessão e da entrevista realizada pela BBC Brasil para o Corregedor Nacional de Justiça, no CNJ.

Leia abaixo as notas de Siro Darlan e da AMPERJ na íntegra:

NOTA DE ESCLARECIMENTO - Desembargador Siro Darlan

A entrevista que dei por telefone para BBC Brasil tratava da questão do enclausuramento excessivo no Brasil, fato público que tem sido motivo de preocupação do Conselho Nacional de Justiça, dos Tribunais e também dos Tribunais Internacionais de Direitos Humanos.
Nesse contexto, onde é público e notório a existência de maus tratos, torturas e mortes no sistema penitenciário nacional, assim como violência e corrupção contra presos e seus familiares, pessoas humildes e inocentes que são submetidas a vexatórias revistas íntimas para exercerem o direito de visitar seus parentes presos. Diante da falta de aplicação da Lei de Execuções Penais, em vigor desde 17 de julho de 1984 e a ausência de ações necessárias e pertinentes do Ministério Público, fiscal da lei e também do sistema penitenciário, afirmei ser uma inutilidade.
No caso das unidades de aplicação das medidas sócio educativas no Rio de Janeiro, embora a lei dite expressamente que só cabe medida de internação em casos em que houve grave ameaça ou violência a pessoa, permanece superlotada por atos análogos ao tráfico de drogas, e pior, muitas são as mortes de adolescentes sem a apuração devida.
De certo que tal afirmação foi pontual e não se dirigiu à instituição, pilar de qualquer democracia e necessária para garantia do estado democrático de direito, além de imprescindível na defesa da sociedade.
De sorte que diante do fracasso do sistema penitenciário, que se atribui também a pouca operosidade e ao descaso das administrações dos tribunais no fortalecimento e aparelhamento adequado das Varas de Execuções Penais, a melhor resposta seria mostrar sua eficácia apontando os caminhos de solução dessas mazelas que transformam pessoas constitucionalmente protegidas pelo princípio da dignidade humana em homens e mulheres habituados à violência como reação ao processo de indignidade que recebem do estado brasileiro.
Diante disso, venho esclarecer que em nenhum momento afronte a instituição do Ministério Público, onde militam ilustres profissionais democratas e fiéis defensores dos princípios republicanos, mas, assim como assumo a responsabilidade da falta de zelo de uma parcela do judiciário no aperfeiçoamento do cuidado com o respeito aos direitos de crianças e adolescentes e pela falta de fiscalização adequada e necessária no sistema penitenciário, sinto-me no dever de buscar o aperfeiçoamento e o direito de manifestar livremente minhas opiniões.
Siro Darlan de Oliveira
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

NOTA DE REPÚDIO - AMPERJ

Em razão da entrevista com o Sr. Siro Darlan, publicada ontem no site da BBC Brasil, a Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - AMPERJ vem apresentar seu total REPÚDIO ao conteúdo das pesadas críticas lançadas contra o Ministério Público.
O entrevistado, ao ser indagado sobre ferramentas de investigação criminal, se referiu ao Ministério Público como uma "inutilidade", chegando também a afirmar que a Instituição "...é muito eficiente quando lhe interessa", porque somente é eficiente na prisão de pessoas negras e pobres, além de imputar-lhe omissão e responsabilidade pela superpopulação carcerária e pela política de combate ao tráfico de drogas.
O Ministério Público, além de diuturnamente promover a defesa da sociedade no combate à criminalidade, que tanto assola a população brasileira, levando a julgamento os autores de crimes de tráfico de drogas - e outros ainda mais graves decorrentes dessa atividade ilícita -, luta contra a superpopulação carcerária, seja nas constantes inspeções e controles que realiza, seja através das inúmeras ações civis públicas ajuizadas perante o Poder Judiciário.
A atuação do Ministério Público, sempre firme e combativa, tem merecido o respeito e a admiração daqueles que lutam pelo respeito à ordem jurídica vigente e ao regime democrático reinante em nosso país, como também o imenso reconhecimento do grande destinatário de sua existência, que é a sociedade brasileira.
E essa postura do Ministério Público, extremamente útil e relevante, encontra resistência muitas vezes naqueles que fazem do debate o campo para sua promoção pessoal e não para o efetivo enfrentamento da segurança pública no nosso país.
Luciano Mattos
Presidente da Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

MP recorre contra habeas corpus a black blocs. E uma entrevista absurda de Siro Darlan, que parece ter a vocação para ser um “tirano do bem”

 
O procurador de Justiça Riscalla Abdenur, do Ministério Público do Rio, entrou com recurso contra a liminar do desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, que concedeu habeas corpus a 23 pessoas acusadas de formação de quadrilha armada. Abdenur pede que o próprio Darlan reconsidere a decisão; caso contrário, que ela seja submetida à 7a Câmara Criminal em 48 horas — nesse caso, um grupo de desembargadores tomará a decisão final.

Vamos lá. Desde o começo me pareceu que havia algo de estupidamente errado na decisão de Darlan. Por quê? As evidências que vieram a público — e ele confessou não ter lido o inquérito — eram e são por demais eloquentes. Como se vê, o homem as ignorou. Antes de tomar sua decisão, postou no Twitter uma mensagem que misturava Lupicínio Rodrigues com o Hino da Proclamação da República que parecia bastante eloquente:

“O pensamento parece uma coisa à-toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar” (Lupicínio), emendando “Liberdade! Liberdade! Abra as Asas sobre Nós!” (hino).

Senti no ar o cheiro da carne queimada da lei misturado à fumaça da demagogia. E eu estava certo, não é? Se vocês recorrerem à Internet, verão que doutor Darlan não é um homem avesso aos holofotes. Muito pelo contrário. Ele os aprecia muito. E concedeu anteontem uma espantosa entrevista à BBC Brasil, com ataques estúpidos ao Ministério Público do Rio. Entre outras barbaridades, disse o sr. Darlan:

“O Ministério Público é uma inutilidade. Ele é muito eficiente quando lhe interessa. Mas há situações em que o MP se omite. Hoje estamos com prisões superlotadas porque o MP é eficiente na repressão do povo pobre, do povo negro. 70% do sistema penitenciário do Rio de Janeiro está vinculado a crimes de drogas, o que efetivamente não tem nenhuma periculosidade. Vender droga ilícita é absolutamente igual ao camarada que vende cachaça. São drogas. Mas a nossa sociedade resolveu criminalizar a venda de determinadas drogas. E coincidentemente quem vende é a população mais pobre. Isso coincide com o interesse de exclusão social dessa população.”

Trata-se de uma soma tão monumental de besteiras que deixarei para destrinchar seu inteiro conteúdo em outro post. A fala não passa de uma grosseria irresponsável. Para começo de conversa, não é o Ministério Público que faz as leis. Ao órgão cabe atuar segundo a legislação que existe. E, até onde sei, Darlan tem de fazer a mesma coisa. Ou ele foi eleito por alguém para legislar, por exemplo, sobre a lei antidrogas? A propósito: quem é ele para decidir que a sociedade, que paga o seu salário, está errada em cultivar determinados valores? Doutor Darlan é juiz para aplicar as leis que temos — consolidadas pelo estado democrático e de direito — ou para fazer justiça com a própria toga?

O sábio resolveu ser também juiz da imprensa. Afirmou: “Falar de liberdade de expressão no Brasil hoje é bastante complicado. Porque os meios de comunicação mais importantes não usam essa liberdade. Só é endereçado ao público aquilo que interessa financeira, ideológica e socialmente aos donos dos jornais e televisões”. Eu me atrevo a dizer que o doutor não entende nada de imprensa e que, se essa instituição estivesse sob seus cuidados, certamente não tardaria a haver censura no país sob o pretexto de se garantir a liberdade de expressão.

Doutor Darlan está indo muito além das suas sandálias. Alguns dos casos mais graves e escabrosos envolvendo a vida pública brasileira — um deles resultando até na deposição de um presidente — vieram a público em razão do trabalho da imprensa. Infelizmente, não decorreu do esforço do Poder Judiciário, que ele integra.

Li a entrevista e cheguei à conclusão de que doutor Darlan não gosta das leis que temos, não gosta da sociedade que temos, não gosta da imprensa que temos etc. É evidente que ele tem o direito de gostar e de não gostar do que bem entender. Ele só não pode inventar as próprias leis e exigir que o Ministério Público faça o mesmo.


Menos, doutor Darlan! Não tenha a tentação, meu senhor, de ser um tirano do bem! Não existe tirania do bem! Seja servil às leis, doutor, e estará prestando um enorme serviço ao Brasil.

"O que é (sic) R$ 10 mil?”, desdenha Dilma. Haja cinismo




Agência chinesa pode ter confirmado, por descuido, míssil intercontinental secreto

Por Megha Rajagopalan

Df41PEQUIM (Reuters) - A agência de monitoramento de uma província chinesa aparentemente confirmou a existência de um míssil intercontinental balístico que pode ser capaz de carregar diversas ogivas e ter um longo alcance, podendo chegar até os Estados Unidos.

Um tabloide que tem apoio estatal publicou uma reportagem sobre o míssil em sua edição online nesta sexta-feira, baseado em uma publicação na Internet feita pelo Centro de Monitoramento Ambiental da província de Shaanxi, o qual disse que a instalação militar na região estava desenvolvendo armas.

O governo chinês nunca reconheceu a existência do míssil Dongfeng-41 (DF-41), mas o Departamento de Estado dos EUA disse, em um relatório neste ano que esse armamento poderia carregar um grande volume de ogivas.

Analistas disseram que o míssil pode ter um alcance de cerca de 12 mil quilômetros.

O jornal informou que o míssil era “uma carta estratégica que é, sem dúvida, a mais misteriosa e mais capaz de intimidação”.

Tanto a reportagem do tabloide quanto as informações da agência foram retiradas do ar.



Sessão de Emergência da ONU sobre Gaza

Por Hillel Neuer


Hillel C. Neuer é diretor executivo da UN Watch, Organização de Direitos Humanos com sede em Genebra, na Suiça - cuja missão é monitorar o desempenho da Organização das Nações Unidas pelo critério de sua própria Carta. É credenciada no Estatuto Consultivo Especial do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) e Associada ao Departamento de Informações Públicas da ONU (DPI).

A Guerra das Redes

Por Carlos I. S. Azambuja
 
“Militares norte-americanos avaliam que o resultado das guerras modernas depende cada vez mais da informação e da comunicação, o que facilita a flexibilidade e tende a incentivar organizações em rede, no lugar das hierarquias dos exércitos tradicionais" (Francis Pisani, "A Doutrina Militar das Redes", Le Monde Diplomatique, junho de 2002)

O dia 11 de setembro de 2001 tem um significado dramático: nessa data foi desencadeada a primeira guerra mundial do século XXI, uma guerra na qual, queiramos ou não, já estamos mergulhados.

Qual é essa guerra? De quem contra quem? Como se prevê que ela vai se desenrolar? Só compreendendo em que guerra estamos, poderemos agir sobre ela a partir de nossos diferentes valores e interesses.

E o que há de novidade neste novo terrorismo? A sua cultura, fundada no dogma teocrático e no fundamentalismo religioso que revela um poder de mobilização extremo e desconhecido. Poder de mobilização praticamente impossível de ser obtido em sociedades laicas. O fundamentalismo religioso maximiza não apenas a capacidade de matar como a predisposição para morrer. O mártir que morre matando é uma arma poderosíssima.

Não é um choque de civilizações e nem um choque de religiões, porque a grande maioria dos muçulmanos e a quase totalidade dos governos dos países islâmicos se opõem ao terrorismo e, em grande medida, apostam na integração à economia mundial e à comunidade internacional. Tampouco é um choque entre os pobres e o capitalismo mundial, embora a exclusão social leve ao desespero do qual se alimenta o fanatismo.

Estamos diante de uma guerra das redes fundamentalistas islâmicas terroristas contra as instituições políticas e econômicas dos países ricos e poderosos, em particular dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Os confrontos armados entre Estados nacionais deram lugar a conflitos assimétricos em que um dos lados é integrado por grupos terroristas e/ou organizações criminosas. Outros fatores tornaram-se mais importantes que os físicos - número de efetivos e quantidade de armamento - e não há campo de batalha definido. Tudo pode acontecer, qualquer dia, a qualquer hora e em qualquer lugar.

Mas iludem-se os que imaginam que é suficiente uma resposta exclusivamente militar. Não é. É preciso mais do que isso: criar riqueza, estabilidade social e, sobretudo, restaurar o Estado e a Democracia, lá, onde prosperam as redes terroristas. Muitos estrategistas começam a duvidar de que somente a força física resolverá os complexos problemas de relacionamento entre os povos. O editor de temas de segurança do The Guardian, Richard Norton Taylor, escreveu em um artigo que dificilmente "o poder militar, sozinho, vencerá uma guerra novamente", especialmente a chamada "guerra contra o terror". Observem o que ocorre hoje, julho de 2014, na guerra assimétrica entre o Poder Militar israelense e o grupo terrorista HAMAS.

Na Netwar, ganha quem tem a melhor informação, não quem tem a maior bomba. O resultado dos conflitos depende cada vez mais da informação e da comunicação, o que facilita a flexibilidade e tende a incentivar organizações em rede, no lugar das hierarquias dos exércitos tradicionais.

John Arquilla, um norte-americano, ex-fuzileiro naval, professor em uma universidade militar, calcula que no conflito atual "90% de nossos esforços são constituídos de estratégias militares contra Estados (state actors). Isso reflete um pensamento militar arcaico, que data da ameaça soviética e não permite responder às necessidades de uma guerra contra uma rede". É também uma solução fácil, explica ele: "É um pouco como se, não sabendo o que fazer, se fizesse o que se sabe fazer. Sabemos como nos comportar diante dos Estados-Nações, mas não sabemos bem que atitude adotar frente às redes".

A identidade humilhada e o menosprezo cultural e religioso dedicado ao islamismo por algumas lideranças das potências ocidentais conduzem à resistência e à convocação à guerra santa. E essa resistência se concretiza na oposição à existência de Israel e se alimenta falando "da opressão" que Israel exerce sobre o povo palestino.

Portanto, o xis da questão está nessa identidade islâmica (não árabe) exacerbada e no projeto de defesa/imposição desses valores em todo o mundo, a começar pelos países muçulmanos. Essas redes de terror se alimentam também da frustração de setores (ou governos?) de alguns países muçulmanos, humilhados pelo que imaginam ou sentem ser o neocolonialismo dos países ocidentais. É possível, também, que as redes terroristas de origem distinta, incluindo setores da economia criminosa, possam encontrar formas táticas de cooperação com as redes islâmicas.

Resumindo, de um lado estão os EUA, a União Européia e todos os países que, de uma forma ou de outra, participam do sistema econômico e tecnológico dominante, incluindo a Rússia (que também se confronta com redes islâmicas, partindo da Chechênia), o Japão, a China e a Índia.

Do outro lado, há um núcleo duro e irredutível de redes terroristas do fundamentalismo islâmico, com possíveis cumplicidades de alguns governos, com alianças táticas com outras redes terroristas e desfrutando da simpatia difusa de setores das populações dos países muçulmanos e até de grupos de pessoas e de alguns dirigentes dos países citados no parágrafo anterior.

Essas redes diversificadas procuram impor seus objetivos utilizando as únicas armas eficazes, dada sua situação de inferioridade tecnológica e militar: o terrorismo de geometria variável, abrangendo desde o atentado individual até as matanças maciças, passando pela desorganização da complexa infra-estrutura material em que se baseia nossa vida diária, e contando com a transformação de pessoas em munição inteligente, mediante a prática generalizada da imolação.

Nesse sentido, o governo dos EUA iniciou, com o apoio de seus aliados, a mais difícil das guerras: a guerra contra uma rede global capaz de rearticular-se constantemente e de acrescentar novos elementos conforme outros vão sendo destruídos, porque se alimenta do fanatismo e do desespero social de milhões de muçulmanos.

Essa guerra não será parecida com a do Golfo. Até a morte e o sofrimento serão diferentes. Será uma guerra cruel, prolongada, insidiosa, que chegará a todos os cantos com múltiplas reações violentas dessas redes multiformes e bem equipadas, que sabem o que estão provocando e estão preparadas para enfrentá-las, sem excluir a possibilidade de armas químicas e bacteriológicas.

As redes humanas são bem diferentes das redes eletrônicas. Elas não são a Internet. São conexões políticas e emocionais entre pessoas que devem confiar umas nas outras para a rede funcionar. No caso das redes terroristas, as pessoas estão ligadas por laços familiares, casamento, princípios comuns, bem como interesses e objetivos. Mesmo que os terroristas estejam dispersos, eles sabem o que fazer. Não têm necessidade de uma liderança central.

Mas como se ataca uma rede? Falando em termos assépticos e com base em pesquisas sobre esses temas, parece necessário distinguir entre três processos. O primeiro é a desarticulação da rede. O segundo consiste em impedir que ela se reconfigure. O terceiro é evitar sua reprodução.

É sobre esse terceiro nível que versa a maioria das discussões bem intencionadas: é preciso estabilizar o mundo mediante a inclusão no desenvolvimento daqueles que hoje estão excluídos dele, é preciso praticar a tolerância multicultural, é preciso forçar Israel a aceitar um Estado palestino e vice-versa, e impor a judeus e palestinos a convivência mútua. Isso é difícil, mas não impossível. Há que tentar.

A primeira tarefa, na qual os governos ocidentais estão engajados agora, é a de vencer esta guerra, começando com a desarticulação da rede. Isso requer, por um lado, a identificação e eliminação de seus núcleos estratégicos, nos quais reside a capacidade de coordenação e tomada de decisões. Vem daí a intenção de destruir as bases operativas no Afeganistão, no Iraque, na Síria, no Líbano, na Líbia, no Iraque e em outros lugares ainda não determinados. Também nesse contexto foi importante a morte de Bin Laden, tanto por sua importância carismática de profeta do movimento como pelo valor simbólico de sua eliminação. Mas está ficando demonstrado que isso não é fácil!

O ponto fraco dos norte-americanos é a baixa qualidade das informações de que dispõem, conseqüência da queda no nível de seus serviços de Inteligência nos últimos tempos. Mas eles esperam compensá-la com a ajuda israelense, saudita, e, sobretudo, com a colaboração dos paquistaneses que sabem o que acontece no Afeganistão. Daí o papel decisivo que o Paquistão desempenha como aliado dos americanos.

A guerra do Afeganistão é apenas um elemento, embora importante, nessa fase de desarticulação das redes. Ao mesmo tempo, ações pontuais e imprevisíveis na Palestina, no Líbano, possivelmente na Líbia, no Egito e a invasão do Iraque pretendiam neutralizar, destruir e desorganizar os pontos de conexão identificados. Mas parece que isso não aconteceu.

A segunda fase seria evitar que grupos e agentes-chaves se transfiram ou reorganizem suas atividades com novos membros. O que conta aqui são três tarefas: detectar e interceptar os fluxos financeiros; interceptar as comunicações eletrônicas nas quais se baseiam os contatos globais; e enfrentar as novas ações de terrorismo com que as redes vão responder à luta.

A guerra contra essas redes vem sendo conduzida por um grupo de Estados e suas respectivas Forças Armadas, numa geometria complexa de alianças e interesses na qual os governos têm que lidar com a dupla dependência de sua lealdade à rede de defesa conjunta e das diferentes sensibilidades de suas diversas opiniões públicas. E as alianças vão variar na medida em que em alguns países, especialmente em países muçulmanos, ocorrerem reações populares contra o terrorismo.

A esperança de sobrevivência daquilo que hoje é a nossa sociedade é que, durante o processo de destruição das redes de terror, sejam assentadas as bases sociais, econômicas, culturais e institucionais necessárias para evitar que elas se reproduzam.

O certo é que, em curto e médio prazos, o mundo estará em guerra contra o terrorismo.


Fonte: Alerta Total

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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

Dados Bibliográficos:
"A Doutrina Militar das Redes", Francis Pisani, Le Monde Diplomatique, junho de 2002;
"A Guerra das Redes", Manuel Castells  

Em campanha, Dilma ouve 2h de sermão no Templo de Salomão

 

Dilma Rousseff ficou por pouco mais de três horas na inauguração do Templo de Salomão. Nem os organizadores do evento esperavam tanto. Como está em campanha, aguentou estoicamente duas horas e meia de delirantes discursos de bispos da Igreja Universal sobre “cura” de homossexuais  e etc. com os quais ela não concorda com uma palavra sequer.

É a economia, estúpido !


A ameaça de Dilma ao Santander. E a verdade sobre a economia


O ódio da esquerda aos “especuladores”


especuladores“Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores – uma bala na cabeça, imediatamente – não chegaremos a lugar algum!”. A recomendação radical foi feita pelo revolucionário Lênin, incitando seus camaradas comunistas à violência contra os “especuladores”.

Felizmente, parece que o uso da força física na batalha das idéias saiu um pouco de moda, à exceção de alguns grupos minoritários, como os baderneiros do MTST ou os black blocs. Mas isso não quer dizer que a agressão moral contra esses bodes expiatórios de sempre tenha desaparecido. Pelo contrário.

Desde Shakespeare, com Shylock representando o ícone desses “desalmados agiotas”, o ódio contra os financistas e especuladores nunca esteve tão alto. Eles são o alvo preferido de quase todos quando o assunto é apontar culpados por crises econômicas. O governo argentino os culpa pela crise que deve culminar em novo calote. A presidente Dilma os condena pelo pessimismo com a economia. Mas será que há bons fundamentos por trás disso?

“Sem especulação não pode haver nenhuma atividade econômica alcançando além do presente imediato”, disse o economista austríaco Ludwig von Mises. Poucas são as profissões tão repudiadas pelo senso comum como a especulação de ativos. No entanto, o principal motivo para esse preconceito reside na falta de conhecimento acerca das funções que a especulação exerce no mercado.

Em primeiro lugar, podemos considerar os arbitradores de preços em termos geográficos, ou seja, aqueles indivíduos que buscam o lucro através de oportunidades que surgem pelo fato de o preço de um determinado produto estar elevado em um lugar e baixo em outro. Havendo livre mercado, essa diferença tende a desaparecer, restando somente o custo de transporte como diferencial de preços.

A mesma tendência de equalização se aplica no caso de preços no tempo. Eis onde surge o importante papel dos especuladores. A relação entre o preço presente e o preço futuro de uma commodity é que eles tendem a diferir não mais do que os custos de estocagem somados a uma taxa de lucro do capital que deve ser investido nessa estocagem.

Os especuladores tentam antecipar os movimentos que vão ocorrer nos mercados. Agindo dessa forma, eles acabam diluindo as oscilações abruptas no tempo. A atividade dos especuladores serve então para transferir oferta de um período no qual ela é menos urgente, como indicado pelos preços menores, para um período no qual ela é mais necessária, como indicado pelos preços maiores.

Como exemplo, pode-se pensar no petróleo. Antecipando algum tipo de escassez futura, pelo motivo que for, os especuladores irão comprar petróleo no presente e estocá-lo. Isso irá forçar seu preço para cima no momento atual, incentivando uma menor demanda. Em compensação, esse petróleo estocado terá que ser consumido algum dia, e nesse momento os preços serão pressionados para baixo, estimulando a demanda.

É importante lembrar que toda empresa que decide sobre estoque de produção está especulando também, pelo mesmo princípio que o especulador. Consumidores que adiam ou antecipam as compras estão especulando também. Especular é apenas tomar uma decisão hoje com base em uma expectativa futura, sempre incerta, por definição.

Mas pelo fato de a especulação transmitir os preços maiores esperados no futuro para o presente, ela é denunciada como a causa desses maiores preços. Aqueles que assim o fazem estão ignorando que os estoques acumulados no presente como resultado da especulação terão que ser usados algum dia, e neste momento irão necessariamente agir de forma a reduzir os preços. Quando o preço do barril disparou para US$ 150, todos culpavam os especuladores, mas quando ele despencou para baixo de US$ 90, ninguém se lembrou dos especuladores como responsáveis pela queda.

Além disso, se os especuladores errarem em suas estimativas, eles mesmos pagam o preço, pois compraram o produto e investiram em sua estocagem a preços maiores, sendo que deverão vender a preços mais baixos, arcando com o prejuízo. Se, por outro lado, acertaram na previsão, apenas anteciparam uma mudança na relação entre a oferta e a demanda, suavizando seu impacto nos preços no tempo.

É verdade que em alguns casos, a própria expectativa dos especuladores pode afetar o futuro, como numa profecia autorrealizável. É o que George Soros chamou de “reflexividade” dos mercados. Mas os pilares de uma economia precisam ser de areia para que os especuladores possam mudar assim os fundamentos. Era o caso da Inglaterra, quando o próprio Soros ganhou bilhões especulando contra sua moeda, artificialmente manipulada pelo governo.

Foi também o caso da crise asiática, novamente vítima de erros dos próprios governos locais. Costuma ser mais comum os especuladores apenas anteciparem os fatos, tentando trabalhar em cima dos fundamentos em si. São esses que realmente importam. Em uma economia livre e saudável, a especulação só tem a agregar, através dessa arbitragem de preços. Negar isso é o mesmo que dizer que remédios testados não são desejáveis, pois em alguns casos podem acarretar em piora do doente, que já estava mesmo com um pé na cova.

Em resumo, essa é a mais importante função dos especuladores: a arbitragem de preços tanto geograficamente como no tempo, garantindo maior liquidez para os mercados, o que leva à sua maior eficiência. Aqueles que culpam os especuladores por uma mudança nos preços presentes estão ignorando um princípio básico de economia. Estão confundindo correlação com causalidade. Estão, em suma, condenando um termômetro por mostrar a febre do doente.

* * *

Compreendendo melhor a função do especulador, conclui-se com mais facilidade que a intervenção e tentativa de intimidação do governo no caso Santander é inaceitável. A função dos analistas dos bancos é justamente especular acerca do impacto político e eleitoral no valor dos ativos de seus clientes. Como escreveu Carlos Alberto Sardenberg em sua coluna de hoje:

Pior foi a reação da direção do banco, que pediu desculpas ao governo e demitiu o(a) analista. Disse que ele(a) fizera coisa errada. Quer dizer que o certo é comprar ações quando aumentarem as chances de Dilma? Os clientes do banco foram enganados nos últimos relatórios ou estão sendo enganados agora?

E o dono do banco, Dom Emilio Botin, defendeu o seu negócio. O governo é regulador e muito bom cliente. Uma ordem, e governos, prefeituras e entidades públicas podem fechar contas com o Santander. Resumo: prevaleceram o ataque à liberdade de informação e de fazer negócios; e o interesse do banqueiro.

Acontece que, em tempos de internet e redes sociais, para agradar ao governo o banco acabou incomodando milhares de correntistas, agora receosos da influência política em suas análises, o que polui o julgamento isento. Foi o que escreveu o colunista da Veja Geraldo Samor em sua carta à Dilma hoje:

O Santander — que como qualquer banco quer estar de bem com o Poder — esqueceu que o poder hoje não emana apenas do Estado. Ele também está nas mãos de seus milhões de correntistas, nas ideias da sociedade e na voz da opinião pública, conectada e potencializada pela tecnologia.

Os governos só gostam dos especuladores quando eles estão estimando algo positivo à frente, e puxando o valor dos ativos para cima no presente. Mas não dá para ser tão seletivo assim. A função do especulador é justamente tentar enxergar melhor o futuro. Não há mal algum nisso.

Se os fundamentos forem sólidos, são eles que vão perder. O problema é quando o governo sabe que os fundamentos são péssimos, e precisam sacrificar algum bode expiatório no altar da hipocrisia, para apagar sua culpa no cartório e enganar os eleitores mais leigos…

Funcionários do Santander: As vítimas do regime petista


Santander passa cheque sem fundo


LAMA NA PETROBRAS: O ESQUEMA


As Contradições do Marxismo

Por Carlos I. S. Azambuja

“Nem todos os membros da esquerda subscrevem as palavras de Danielle Mitterrand: “Cuba representa a síntese do que o socialismo pode realizar” – frase que constitui a mais arrasadora condenação socialismo jamais proferida”. (Jean-François Revel, no livro “A Grande Parada” – 2001).

Os comunistas não admitem que existem contradições no marxismo e sim nos marxistas, que cometem falhas ao tentar colocar em vigor a “doutrina científica”.

Uma das manifestações mais visíveis da vassalagem explícita de todos os partidos comunistas do mundo a Stalin foi a adoção da tática das Frentes Populares, que significava uma aliança de partidos comunistas, socialistas e democrático-burgueses contra o fascismo, sancionada oficialmente pelo 7º Congresso do Komintern, em julho de 1935.

Em Cuba, todavia, como o PC – então denominado Partido Socialista Popular (PSP) – não conseguiu encontrar aliados social-democratas, liberais ou democratas, acabou apoiando o ditador Fulgêncio batista: “O Coronel Batista tornou-se um elemento importante da frente das forças progressistas (...). A reação e o fascismo unem suas forças e urdem planos desesperados para derrubar Batista” (Resolução Política do III Congresso do PSP, janeiro de 1939).

O Chile foi o único País da América Latina em que se tornou possível uma aliança desse tipo. Ali, o PC, o PS e o Partido Radical uniram-se sob a hegemonia deste último, possibilitando, em 1938, que Aguirre Cerda, líder da sua ala direita, fosse um candidato à Presidência e eleito presidente. Isso em detrimento de Marmaduque Grove, membro do PS, que havia liderado uma efêmera República Socialista, instalada no Chile durante 12 dias, em um levante militar, em 1932.

Mais tarde, em 1952, quando o PC e uma ala do PS finalmente uniram de fato, o candidato de ambos, o socialista Salvador Allende, obteve apenas 6% dos votos, só vindo a ser eleito presidente do Chile em 1970, quando se candidatou pela terceira vez.

Algumas declarações de um dos líderes do PC argentino, Gonzales Alberdi, ilustram os zigue-zagues da doutrina científica. Escreveu ele, em 1933, a respeito dos presidentes dos EUA, Franklin Delano Roosevelt: “Em Cuba, o poderoso movimento revolucionário das massas mostrou que Roosevelt é tão imperialista quanto Hoover” (“Informaciones”, outubro de 1933).

Mais tarde, em 1938, já sob a tática de Frente Popular ditada pelo Komintern, Gonzales Alberdi escreveria que “as tentativas ítalo-nazistas de promover o antiimperialismo contra os ianques fracassaram. As nações do continente compreenderam que a colaboração estreita com Roosevelt, que não pode ser considerado um representante das forças imperialistas do Norte, não diminui a autonomia de cada país e nem afeta a dignidade individual” (“Orientacion”, 15 de dezembro de 1938).

Mais adiante, em 1940, depois do pacto Molotov-Ribbentrop, Alberdi mudou de opinião mais uma vez e escreveu: “Em nome da luta contra o nazismo, o imperialismo ianque conspira contra as liberdades públicas das nações americanas” (“La Hora”, 14 de julho de 1940).

Após junho de 1941, no entanto, quando da invasão da Rússia pela Alemanha, e no contexto de uma aliança entre EUA e URSS, as análises voltaram a mudar. Então, qualquer propaganda contra o Imperialismo norte-americano passou a ser duramente criticada pelos partidos comunistas como “uma manobra a serviço do fascismo” e os críticos passaram a ser tachados de Trotskistas. “La Voz de México”, de 13 de maio de 1945, por exemplo, criticou a “demagogia antiimperialista dos trotskistas” e assinalou que “o esmagamento dos répteis trotskistas deve ser uma tarefa dos antifascistas”.

Desde essa época, denunciados como “provocadores” e “agentes do fascismo” pelos partidos comunistas, empurrados para as margens do movimento operário e internamente divididos em tendências e frações por lutas internas, os trotskistas ficaram e permanecem, até hoje, reduzidos a seitas compostas, em sua maioria, por intelectuais.

Em Cuba, embora Fulgêncio Batista tenha assumido o governo pela segunda vez, em 1952, por um golpe militar, o Partido Socialista Popular foi mantido na legalidade e seu diário, “Hoy”, continuou a sair. O ataque ao Quartel Moncada, em 26 de julho de 1953, do qual participou Fidel Castro, foi denunciado pelo PSP como “uma tentativa golpista, uma forma desesperada de aventureirismo típico dos círculos pequeno-burgueses sem princípios e envolvidos em gangsterismo” (“Carta do Comitê Executivo do PSP aos Militantes, 30 de agosto de 1953).

Apenas seis meses após o desembarque em Cuba, em 1956, dos integrantes do Movimento 26 de Julho, sob liderança de Fidel Castro, a direção do PSP voltou a manifestar-se: “É importante reafirmar que hoje, assim como ontem, rejeitamos e condenamos, e continueremos a rejeitar e condenar métodos terroristas e golpistas como ineficazes, prejudiciais e contrários aos interesses do povo” (revista “Fundamentos”, julho de 1957).

Somente em 1958, alguns líderes militantes do PSP se integrariam ao Movimento de 26 de Julho, contribuindo para o triunfo da guerrilha em 1959. Todavia, Blas Roca, Secretário-geral do PSP, em 1960, após a guerrilha ter tomado o poder, ainda escrevia: “Dentro dos limites a serem estabelecidos, é necessário garantir os lucros das empresas privadas, e seu funcionamento e desenvolvimento normais” (“Balanço do Trabalho do Partido desde a última Assembleia Nacional e o Desenvolvimento da Revolução”, Havana, 1960. Wladimiro Roca, filho de Blas Roca, é, hoje, um dissidente do regime cubano.

Após a morte de Stalin, em 1953, e o famoso discurso de Kruschev, em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCUS, denunciando os crimes de Stalin, foi inaugurada uma nova era para o comunismo na América Latina. Seguindo, como sempre, a orientação do PC soviético, que passou a defender uma política de coexistência pacífica, os partidos comunistas latino-americanos passaram a apoiar governos capitalistas considerados progressistas, como os de Juscelino Kubitschek e João Goulart, no Brasil.

Logo, o Partido Comunista Brasileiro buscou um fundamento teórico para essa nova linha política: “A contradição entre o proletariado e a burguesia não exige uma solução radical na presente etapa. Nas presentes condições do país, o desenvolvimento capitalista corresponde aos interesses do proletariado e de todo o povo (...). O proletariado e a burguesia se aliam em torno de um objetivo comum de luta por um desenvolvimento independente e progressista contra o imperialismo norte-americano” (“Declaração Política do Comitê Central”, Rio de Janeiro, Março de 1958).

A partir da Revolução Cubana, frente à nova tática posta em prática pelo Movimento 26 de Julho, baseada nos escritos de Che Guevara e Regis Debray, que generalizaram para toda a América Latina determinadas lições da revolução Cubana – a principal delas a chamada “Teoria do Foco Guerrilheiro” -, iniciou-se um novo período revolucionário, classificado de Castrismo ou Fidelismo, fazendo com que os ortodoxos partidos do continente entrassem em queda livre devido à sangria de militantes que, cada vez mais, optavam pela luta armada imediata.

Nesse sentido, o documento conhecido como a “2ª Declaração de havana”, em 1962, desempenhou um papel fundamental, assinalando que “o dever de todo o revolucionário é fazer a revolução. Sabemos que a revolução será vitoriosa na América e no mundo, mas é indigno de um revolucionário sentar-se à porta de sua casa e esperar que passe o cadáver do Imperialismo”.

A vassalagem, no entanto, continuou, agora ao Estado cubano, conforme relatou Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz (“Clemente”), que foi o último dos comandantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) durante os anos da Luta Armada. Em seu livro “Nas Trilhas da ALN”, teceu críticas à interferência dos cubanos na luta armada no Brasil, causadora de inúmeras mortes de militantes” e referiu-se “às evidentes contradições entre o real e a versão divulgada América Latina afora pelos cubanos”, assinalando que “o poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de ideias e impôs a versão oficial sobre a Revolução Cubana”.

Em tudo isso, não foi a monumental ignorância da doutrina científica que esteve na origem dos erros e contradições da esquerda, mas ela própria. Todavia, como o Partido  (assim, com inicial maiúscula) jamais erra, pois a doutrina é científica, a culpa nunca foi creditada á linha política, mas à sua má aplicação pelos militantes.

Nenhum partido comunista do mundo fez, jamais, uma autocrítica desses erros e dessas contradições. É como se não tivessem ocorrido... 


Fonte: Alerta Total


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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.