Gen Clovis Purper Bandeira
Durante alguns meses fomos submetidos a intenso e eficiente
trabalho de marqueteiros, regiamente subvencionados por grandes empresas
patrocinadoras, que nos convenceu de que tínhamos uma das melhores seleções de
futebol jamais reunida e que a Copa realizada no Brasil, a Copa das Copas, era
nossa de direito.
Massacrados diariamente por intensa campanha publicitária,
vimos o campeonato mundial se transformar num oba-oba, num já ganhou, num
conosco ninguém podemos, enquanto ouvíamos entrevistas com o vizinho, a
professora, o amigo de infância, a periguete da vez na vida do craque e
assistíamos a closes de sua unha encravada, do edema resultante da pancada que
recebeu no treinamento, tudo isso transformado em problemas de importância
nacional.
Assim, começou a competição e a equipe brasileira, aos
trancos e barrancos, foi passando pelos primeiros adversários com crescente
dificuldade, o que é até natural nesse tipo de competição eliminatória.
Até que a realidade inescapável apresentou dois problemas: a
suspensão por motivos disciplinares de um dos principais defensores e a lesão
grave do principal atacante e astro de nossa equipe. Isso ocorreu exatamente
quando a fase de brincadeiras acabava e restavam quatro equipes disputando as
semifinais.
Qualquer que fosse o adversário, seria difícil enfrentá-lo.
E coube-nos enfrentar a Alemanha, finalista ou semifinalista nas quatro últimas
edições da competição, com uma equipe baseada em excelentes e vitoriosas
equipes germânicas, uma delas a campeã europeia deste ano, séria candidata ao
título de campeã mundial.
Na hora da verdade, as deficiências da equipe, ainda mais
desfalcada, ficaram evidentes e nossa seleção foi derrotada por acachapantes 7
a 1.
Agora, não há mais nada que o marketing, por mais bem
remunerado que seja, possa fazer. Diz o velho ditado, contra fatos não há
argumentos.
A joia faiscante era vidro e se quebrou.
No cenário nacional algo semelhante acontece.
Há meses, ou mesmo há anos, somos bombardeados por eficiente
campanha orquestrada pelos mestres da propaganda, regiamente pagos com verbas
públicas para divulgar as realizações do governo, muitas vezes com informações
deturpadas, meias verdades, números e dados mentirosos ou distorcidos, tudo com
a finalidade de manter-nos maravilhados com o desempenho de nossos governantes
e dispostos a conceder-lhes a reeleição.
Os fatos que realmente importam, a queda do desempenho
econômico; a ineficiência da gestão pública; as deficiências educacionais, de
criatividade e de produtividade; a baixa qualidade e remuneração dos salários
pagos; a desindustrialização; a maquiagem dos números de desempregados, tirando
da amostragem os trinta milhões de dependentes das bolsas-esmola, pois eles não
procuram emprego, muito pelo contrário; o gigantismo da máquina estatal,
totalmente aparelhada por mais de 20.000 funcionários livremente nomeados pelos
políticos; a corrupção desenfreada; a impunidade dos corruptos e dos
corruptores; as fraudes nas licitações e contratos, o superfaturamento nas
obras públicas etc, nada disso é devidamente informado ou discutido.
Escândalos se sobrepõem a escândalos, os mais recentes
apagando os da semana passada, tornando-se banais pela repetição impune.
E nós, iludidos pelo marketing governamental, apreciando as
unhas encravadas, as bolsas isso e bolsas aquilo, os PAC milagrosos e
mentirosos, os números multiplicados ou diminuídos quando há interesse
político, as promessas de sempre – que nunca serão cumpridas.
No entanto, um dia a realidade chegará.
E, em vez de um simples resultado esportivo muito adverso,
por mais doloroso que este seja para o orgulho popular, o custo social,
econômico e político será grande.
Os que se locupletam nas verbas públicas não entregarão com
facilidade o acesso privilegiado às tetas estatais. Haverá reação, talvez mesmo
violência nas ruas, em nome da “democracia”. E mais corrupção, compra de votos,
distribuição de benesses aos eleitores.
Todavia, os fatos estão aparecendo. Não há como argumentar
contra eles, não podem nem mesmo ser atribuídos à “herança maldita”, pois o
partido corrupto e corruptor está no poder há doze anos.
E não haverá marketing capaz de esconder os crimes – e não
simplesmente malfeitos – cometidos. Teremos que encarar a vergonha de vermos
expostas e discutidas nossas mazelas, e teremos de enfrentá-las e pagar o preço
para resgatá-las.
Não será fácil nem indolor, mas terá que ser feito.
As miçangas são de vidro e se quebrarão.
Mas a luz da verdade nos mostrará um mundo melhor, mais
humano e mais justo. Sem necessidade de marqueteiros.
Fonte: A Verdade Sufocada