Por Márcio Accioly
Apesar de todos os pesares (e malgrado distorções e
diferenças), forçoso é reconhecer a enorme contribuição oferecida pelo Brasil
no ramo da ciência política. Somos país admirável, com uma economia que por
vezes se apresenta como a sétima do mundo, mas que, em ocasiões, aparece como
garantida em sexto lugar. Tudo isso, num rincão onde pouquíssimos são os que
estudam ou leem, país dominado pela ignorância crônica e analfabetismo
funcional que servem como modelo e exemplo ao mundo.
O Brasil é, talvez, o único lugar do planeta onde o sistema
democrático foi revirado e adaptado, traduzindo-se de forma concreta e clara,
ao bom observador, numa gatunocracia ou roubocracia que se expõe com toda
clareza àqueles que conseguem chamar as coisas pela correta designação. Vivemos
num sistema de faz-de-conta, onde os que se mostram no comando administrativo
nada mais fazem do que se locupletar de maneira clara e direta, mascarando
ações deletérias na maior cara de pau!
Recentemente, nos EUA, um cidadão que foi presidente de uma
sociedade de investimento, Bernard Lawrence Madoff, praticou uma fraude
financeira de 65 bilhões de dólares, sendo preso pelo FBI, em dezembro de 2008,
e condenado pelo juiz federal Louis L. Stanton a uma pena de 150 anos.
Morasse no Brasil, o larápio norte-americano de 76 anos de
idade seria perdoado pela presidente, Dilma Roussef, que indultou o juiz
Nicolau dos Santos, vulgo Lalau (na última semana), preso por ter desviado R$
169,5 milhões da obra de construção do fórum do TRT de São Paulo. Com 85 anos
de idade, Lalau ficou com mais da metade do dinheiro surrupiado. Madoff morrerá
na cadeia, submetido às mesmas regras vigentes para os condenados por crimes
assemelhados.
O que dizer de Maluf, larápio do mesmo naipe, detentor de
mandato parlamentar e passaporte diplomático, mas sem poder colocar o pé fora
dos limites nacionais, pois será preso e recambiado para Nova York onde a
Justiça norte-americana quer submetê-lo a julgamento por lavagem de dinheiro?
Quando uma sociedade determina que todos são iguais perante a lei, a segurança
das instituições torna a qualidade de vida mais palatável, na certeza de que
regras e determinações devem ser cumpridas.
No Brasil, é público e notório que o contínuo assalto aos
cofres públicos enriquece os que se situam em todos os escalões da esfera
administrativa, na absoluta certeza da impunidade. Os casos flagrados e
documentados pululam nas prateleiras do Judiciário, favorecidos por recursos
intermináveis. A maioria significativa dos que elaboram as leis se
especializaram em criar brechas que fazem processos se arrastarem por anos sem
fim, criando sentimento de frustração social que qualquer dia irá eclodir em
desordem generalizada. Eles não perdem por esperar.
Os nossos gatunocratas (ou roubocratas) conseguiram ficar
tão parecidos no modus operandi que, em qualquer disputa eleitoral, a grande
dificuldade é adivinhar quem irá roubar menos, permitindo, dessa forma, escolha
que reduza sobressaltos. As alternativas são pobres. As eleições se processam
na compra aberta de votos e concessão de favores, com o aparato estatal
patrocinando crimes e falcatruas. Ninguém é punido.
As CPIs que se anunciam falecem em acordos espúrios nos
quais o cipoal de ações desonestas encaminha barganhas vergonhosas em todos os
quadrantes. Os principais envolvidos desconhecem o nível de saturação da
sociedade massacrada e humilhada por aqueles que deveriam apresentar soluções e
oferecer exemplos.
A roubocracia brasileira vai sucumbir no esgotamento da
caixa de truques de irresponsáveis protagonistas. As pilastras se esfarelam e
já ameaçam ruir.
Fonte: Alerta Total
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Márcio Accioly é Jornalista.
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