A Human Rights Watch não é, como gostariam de pensar alguns
cretinos, uma entidade “de direita”. Costuma apontar violações de direitos
humanos sem olhar a coloração ideológica de quem está no poder. E o faz depois
de entrevistar vítimas, apurar detidamente os casos, investigar enfim. Agora
resta evidente: há tortura sistemática na Venezuela e violação deliberada dos
direitos humanos. Já sabíamos disso. VEJA publicou no mês passado uma eloquente
reportagem com depoimentos dos torturados.
Pois bem: o Judiciário da Venezuela é cúmplice da tortura, e
o governo brasileiro, que empresta apoio integral ao torturador Nicolás Maduro,
também. Agressões a direitos fundamentais não são novidade no país. Foi uma
constante durante todo o governo de Hugo Chávez. Aos poucos, ele foi minando as
estruturas do estado de direito. O passo mais importante foi se apoderar
inteiramente do Poder Judiciário. Fiquemos atentos: algo parecido pode estar em
curso no Brasil. Mas isso fica para outra hora.
Foi com Nicolás Maduro, no entanto, que o regime de força
algo mitigado assumiu a sua fuça escancarada. Sob Chávez — afinal, um líder
carismático e de fala messiânica —, as milícias armadas ainda estavam
submetidas a algum controle. Na gestão Maduro, que tem o carisma de um cabo de
guarda-chuva velho, o regime perdeu definitivamente a vergonha e a timidez:
espanca, tortura e mata.
Em tese ao menos, o Brasil é o líder de um
subcontinente chamado América Latina. Tem o maior território, a maior economia,
a maior população e deveria ter, também, a voz política mais importante. Mas
quê… Ninguém dá bola. Em vez de Dilma Rousseff cobrar de Maduro respeito aos
direitos humanos — e, politicamente, ela teria autoridade para isso —,
mostra-se conivente com a tortura. Isso explica por que a revista americana
“Time”, ao fazer a lista das 100 pessoas mais influentes, incluiu o delinquente
presidente da Venezuela, mas excluiu a presidente do Brasil. Ou por outra:
amiga de torturador tem menos peso do que o próprio torturador. E não custa
arrematar lembrando que esta Venezuela que trata adversários no porrete foi
levada para o Mercosul por Dilma Rousseff, violando o conteúdo do próprio
tratado do bloco econômico, que veta o ingresso de regimes ditatoriais.
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