Por Carlos Chagas - Tribuna da Internet
No mínimo temerária foi a afirmação da presidente Dilma de
que a violência não se repetirá na copa. Além de faltar-lhe uma bola de
cristal, sua promessa vai de encontro aos fatos. Em matéria de violência, está
acontecendo tudo. Até índios alvejando policiais com arco e flecha em pleno
Eixo Monumental de Brasília. Não é necessário alinhar as demonstrações de estar
a paz pública em eclipse total, seja através de greves sucessivas, paralisações
do tráfego em cidades grandes e pequenas, depredações, vandalismo e invasões.
Acima de tudo, porém, a justa indignação da maioria. Basta ler um jornal por
dia.
Esse horror seria interrompido no dia da inauguração do
certame, por um passe de mágica? Ou as manifestações desta semana exprimem o
ensaio geral de uma explosão anunciada?
Ignora-se onde a presidente se baseou para conclusão tão
precipitada quanto a feita esta semana junto a empresários. Só se ela pretende
renunciar à realização da copa do mundo, hipótese agora impossível. Ou, como
alternativa, se mandará as forças armadas cercarem o território nacional dando
a ordem de “teje todo mundo preso”.
A dúvida é saber se vivemos um espasmo de revolta social das
camadas menos favorecidas ou se, em breve, a indignação atingirá a classe
média. Adianta muito pouco sustentar que isso acontece porque os governos Lula
e Dilma elevaram o padrão de vida das massas com tal intensidade que
despertaram anseios por muito mais, da parte delas. É mentira. Por trás dos
protestos pela melhoria nos serviços públicos e das condenações por gastos
abusivos na construção de estádios de futebol, estão os protestos diante dos
baixos salários, do desemprego, da falta de oportunidades para os jovens que
ingressam no mercado de trabalho, da ausência do poder público na correção dos
desníveis sociais e, acima de tudo, a certeza de que apenas agindo pela própria
iniciativa as comunidades discriminadas conseguirão alterar o sistema que as
discrimina.
Ninguém se iluda: estamos vivendo tempos inusitados,
dificilmente capazes de retroagir. O velho Antônio Carlos Ribeiro de Andrada
aconselhava as elites a fazerem a revolução antes que o povo a fizesse. Até o
PT elitizado tentou. Pois agora o povo está fazendo a revolução. A copa do
mundo está sendo apenas um pretexto, uma cortina de fumaça.
Fonte: A Verdade Sufocada
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