Por Luciano Pires*
Em 2013, conforme o Sistema de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde, tivemos no Brasil 56.337 assassinatos, chegando à taxa de
29 mortos para cada 100 mil brasileiros. A Organização Mundial da Saúde considera
aceitável no máximo 10 mortes a cada 100 mil habitantes. A França tem 1,1,
Portugal tem 1,2, Estados Unidos tem 4,2 e a Noruega tem 0,6, só para efeito de
comparação.
Nós temos 29. Nunca antes na história deste país.
E é necessário olhar nossos números com desconfiança, pois
existem suspeitas de que estejam maquiados pelos governos estaduais de diversas
formas. Eles podem ser consideravelmente maiores.
Conforme relatório da ONU, na América Latina e Caribe que
têm população estimada em 600 milhões de pessoas, são assassinadas 100 mil
pessoas por ano. O Brasil, com um terço dos 600 mil habitantes, responde por
mais da metade dos assassinatos.
Observação óbvia, mas necessária: é assim que se mede a
violência, mortes a cada 100 mil habitantes. Desse modo é possível comparar um
estado com 30 milhões de habitantes com outro com 2 milhões. E os números estão
aí: enquanto Santa Catarina tem 12,8 mortos por 100 mil, São Paulo tem 15,1,
Rio de Janeiro tem 28,3, Bahia tem 41,9, Pará tem 41,7, Ceará tem 44,6 e
Alagoas, o campeão, tem 63,3!
E esse aumento se dá num cenário em que, ao menos em teoria,
milhões saíram da pobreza para aquela "classe média" que o governo
criou. E quando se faz uma comparação da violência por estados, ela explode no
nordeste, região do Brasil que mais evoluiu em termos econômicos.
Cai a pobreza e a violência sobe. E agora?
Bem, agora vou mexer num vespeiro. Os dois estados
brasileiros com índices mais baixos são Santa Catarina com 12,8 e São Paulo com
15,1. O que acontece nesses estados que não acontece nos outros? Qualquer
explicação rápida e óbvia, como melhoria dos índices econômicos ou campanhas de
desarmamento não serve, pois isso aconteceu em todo o país.
Será porque São Paulo é o estado que mais prende? Segundo o
Anuário de Segurança Pública, São Paulo tem 633,1 presos por 100 mil habitantes
com mais de 18 anos. No Rio, com quase duas vezes mais mortos por 100 mil que
São Paulo, a taxa é de 281,5 presos. A Bahia, que tem três vezes mais mortos
por 100 mil que São Paulo, prende 134,6.
Essa discussão dá pano pra manga.
Em 1980 a taxa era de 11,7 para cada 100 mil. O Governo de
Fernando Henrique entregou em 2002 o índice de 28,5; o governo do PT começou
com 28,9 em 2003 e bateu o recorde com 29 em 2013. O descontrole da violência é
obra de todos os governos brasileiros desde a redemocratização, nenhum, repito,
nenhum governo, seja do PMDB, PRN, PSDB ou PT, seja de esquerda ou
“neoliberal”, seja progressista ou conservador, seja de "direita" ou
de esquerda conseguiu ganhar essa guerra interminável.
E se esse assunto não é prioritário, não sei o que pode ser.
Boa Copa.
Fonte: Alerta Total
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*Luciano Pires é Escritor. Autor do livro “Brasileiros
Pocotó”. Originalmente publicado no site Café Brasil, em 30 de maio de 2014.
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