A Petrobras decidiu construir a refinaria Abreu e Lima (PE),
sua obra mais cara, sem ter um projeto definido e fazendo uma "conta de
padeiro" para estimar o custo inicial, disse o ex-diretor da estatal Paulo
Roberto Costa, 60. Investigado por suspeita de corrupção e envolvimento com um
bilionário esquema de lavagem de dinheiro, ele recebeu a Folha na semana
passada para sua primeira entrevista desde que foi libertado, após 59 dias de
prisão.
Com custo inicial estimado em US$ 2,5 bilhões (R$ 5,6
bilhões), Abreu e Lima deverá custar US$ 18,5 bilhões (R$ 41,5 bilhões) quando
ficar pronta, em 2015. "A Petrobras errou", disse Costa.
"Divulgou o valor de US$ 2,5 bilhões sem saber quanto a refinaria iria
custar, sem um projeto." O ex-diretor afirmou que não houve
superfaturamento nas obras, apesar dos indícios apontados pelo TCU (Tribunal de
Contas da União). Réu na Justiça junto com o doleiro Alberto Youssef, Costa
disse que nunca fez remessas ilegais ao exterior.
Paulo Roberto Costa diz que foi indicado para o cargo de
diretor de abastecimento da Petrobras, que ocupou de 2004 a 2012, pelo PP. Seu
padrinho político foi o deputado José Janene (PP), ligado ao doleiro Alberto
Youssef. É preciso, porém, competência técnica para ser aprovado pelo conselho,
segundo Costa.
Para todas as perguntas da Folha de São Paulo, o ex-diretor
da Petrobras teve uma resposta que torna normais as operações realizadas. É um
corrupto profissional. Selecionamos, então, as respostas que comprovam a
ligação de amizade entre Paulo Roberto Costa, Lula e Dilma.
-
Folha - Numa agenda sua, apreendida pela PF, aparecem nomes
de empresas com anotações sobre promessas de doações políticas. O sr.
arrecadava fundos para alguém?
Paulo Roberto Costa - Esse documento não foi escrito por
mim. Eram ações que iam ser tomadas e não foram. Era arrecadação legal.
Para qual partido?
Era uma ação de apoio para uma candidatura. O nome eu não
posso falar. Participei da reunião, mas não posso falar quem estava lá.
Há fornecedores da Petrobras na lista que o sr. conhecia.
Tinha fornecedor da Petrobras e outros que não eram. Eu não
era mais diretor quando houve essa reunião. Foi uma semana ou 15 dias antes de
eu ir para o lugar a que fui [ao ser preso, em março].
O sr. virou diretor da Petrobras por indicação política?
Quem me indicou foi o PP. Mas eu tinha uma longa carreira.
Havia entrado em 1977 por concurso e estava lá há 27 anos. Tinha também
diretores indicados pelo PMDB.
O PP pediu algo em troca?
Refinaria gera mais imposto e emprego, o que é bom para
deputado, governador.
Só isso? Não é pouco crível?
Eu não tive cobrança de partidos na Petrobras.
Dizem que a presidente Dilma não gostava do sr. por causa
das suspeitas de corrupção.
Ela nunca me falou isso pessoalmente. Tivemos uma relação
técnica e amistosa. Nunca tive problemas com ela e ela foi presidente do
conselho de administração [da Petrobras]. Nossa relação sempre foi muito
próxima.
Dilma nunca fez reparos ao trabalho do sr.?
Nunca. Ela foi várias vezes à refinaria Abreu e Lima e sabe
disso tudo que eu te falei. O presidente Lula e a presidente Dilma iam visitar
[as obras de] Abreu e Lima e perguntavam como estavam as coisas. Eu dizia que
tinha problemas porque tinha de fazer três vezes a mesma licitação por causa
dos preços altos. Minha relação com ela sempre foi de muito respeito.
Dizem que o presidente Lula gostava do sr. É verdade?
A minha relação com o presidente Lula sempre foi amistosa e
de respeito.
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