Dois partidos que controlam ministérios e apoiam o governo
no Congresso criaram constrangimento para a presidente Dilma Rousseff nos
últimos dias, lançando dúvidas sobre sua capacidade manter a coalizão
partidária montada para sustentar sua campanha à reeleição.
Ontem, a bancada do PR na Câmara lançou um manifesto com um
apelo para que o ex-presidente Lula entre na corrida presidencial como
candidato no lugar de Dilma, argumentando que ela não é preparada como ele para
fazer a economia do país voltar a crescer com vigor. Durante entrevista
coletiva, após ler uma carta aberta assinada por 20 dos 32 deputados do PR, o
líder da bancada, deputado Bernardo Santana (MG), levantou-se e pendurou na
parede um quadro com a fotografia oficial de Lula quando presidente.
Em São Paulo, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), que em
novembro declarou apoio à reeleição de Dilma, reuniu domingo num jantar em seu
apartamento o pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), o
ex-governador paulista José Serra, derrotado pelo PT em duas eleições
presidenciais, e outras lideranças tucanas. O governador Geraldo Alckmin
(PSDB-SP) quer atrair Kassab para sua campanha à reeleição e também participou
do evento. Ontem, Aécio afirmou que o jantar foi um "encontro de
amigos" e disse que o PSD estará junto com os tucanos em Estados como
Goiás e Minas Gerais.
Dilma espera ter 11 partidos a seu lado na campanha à
reeleição e, com isso, dispor de cerca de 12 minutos em cada bloco de 25
minutos da propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Juntos, o PR e o PSD
asseguram à petista 21% desse tempo. Na cúpula do PT, a movimentação dos dois
partidos preocupa porque expõe a fragilidade da presidente e estimula os
defensores da volta de Lula à disputa eleitoral, num momento em que a
popularidade da presidente está em queda e a insegurança da população com os
rumos da economia está crescendo.
Em entrevista a uma rede de televisão portuguesa, Lula
reafirmou no fim de semana que apoia a reeleição de Dilma e não pretende
disputar as eleições deste ano. Em dezembro, o PT pediu aos partidos aliados
que formalizassem o quanto antes o apoio à reeleição, mas até agora só o PDT
fez isso. A presidente foi pessoalmente ao escritório do PSD em Brasília em
novembro, quando Kassab declarou apoio à sua reeleição.
O PR só deverá definir sua posição sobre a presidente na
convenção do partido, provavelmente em junho. Os 20 deputados que apoiaram o
manifesto divulgado ontem têm cerca de 75% dos delegados com poder de voto na
convenção, segundo Santana. O manifesto afirma que somente o ex-presidente Lula
pode "inaugurar um novo ciclo virtuoso de crescimento pela via da
conciliação nacional". Santana disse que o partido apoiará Dilma se Lula
não atender ao apelo dos deputados. "Não estamos contra a Dilma, nem vamos
sair do governo", afirmou.
Santana é ligado ao grupo do ex-deputado
Valdemar Costa Neto (SP), que foi condenado à prisão no julgamento do mensalão
e hoje cumpre pena em regime semiaberto em Brasília, trabalhando de dia num
restaurante em que continua mantendo contatos políticos, como a Folha revelou
em março. (Folha de São Paulo)
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