Augusto Nardes
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No meio da missa negra celebrada neste 8 de abril em
intenção dos blogueiros estatizados, o chefe supremo ordenou o início da guerra
nada santa: “Vamos para cima”, disse Lula a seus discípulos. Para cima da CPI
que ameaça devassar as catacumbas da Petrobras. E para cima de qualquer
indívíduo, partido ou entidade que insista na devassa das incontáveis
delinquências que vêm tornando ainda mais complicada a reeleição de Dilma
Rousseff.
Excitados pela palavra do mestre, sacerdotes companheiros e
sacristãos alugados resolveram ampliar a ofensiva com a multiplicação das
frentes de combate. A estratégia naufragou, informa o balanço dos confrontos.
Pela primeira vez, líderes da oposição e descontentes em geral não renunciaram
à troca de chumbo, e receberam o inesperado apoio de brasileiros convencidos de
que é preciso impor limites a uma seita fora da lei. E o exército lulopetista
acumulou fracassos suficientes para que o país soubesse que é dirigido por um
punhado de generais da banda.
Enquanto senadores do PT e do PMDB iam para cima da CPI da
Petrobras, adversários do governo recorreram ao Supremo Tribunal Federal para
garantir a sobrevivência de um instrumento de investigação indispensável à
democracia. Enquanto Dilma retomava a louvação do nacionalismo em barris,
agentes da Polícia Federal invadiram a sede da empresa empunhando mandados de
busca e apreensão. Como instrumento eleitoreiro, a estatal devastada pela
necrose administrativa e moral hoje é tão valiosa quanto a sucata bilionária de
Pasadena.
É possível que a CPI morra nos trabalhos de parto. Nem por
isso Graça Foster escapou de comparecer ao Congresso para explicar a
transformação de uma grande empresa petroleira em usina de negociatas. A essas
derrotas somaram-se dois reveses produzidos por súditos mais realistas que o
reizinho nu. A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, por exemplo, resolveu ir
para cima da PNAD contínua, que desmoralizou os índices ufanistas invocados
para mascar a verdadeira taxa de desemprego real. Colidiu com diretores
inconformados com a revogação do método que estende a centenas de municípios um
levantamento até agora restrito a seis regiões administrativas.
Nenhum dos fracassos foi tão desconcertante para o Planalto
quanto o ocorrido no Tribunal de Contas da União. Por exigir que o governo faça
o que lei determina e deixa de fazer o que a lei proíbe, a instituição tem
barrado o avanço de obras viciadas por grosseiras irregularidades e pela
corrupção institucionalizada. Compreensivelmente, figura desde 2003 entre os
alvos preferenciais dos donos do poder. Decidida a concretizar o sonho de Lula,
Dilma resolveu encurtar o caminho com a remoção dos intermediários. E ordenou
aos ministros Ricardo Berzoini e Aloizio Mercadante que fossem para cima do TCU
com a candidatura do senador Gim Argello a uma vaga prestes a ser aberta.
A tropa reforçada pelo senador Renan Calheiros tropeçou na
altivez do presidente do Tribunal, Augusto Nardes. Deputado federal pelo PP
gaúcho de 1986 a 2005, Nardes sabe quem é quem em Brasília. E compreendeu que
todos os limites seriam ultrapassados se um prontuário ambulante fosse
promovido a juiz da gastança do patrão a quem presta vassalagem. “Reuni todos
os ministros para tomarmos uma posição”, revelou em entrevista ao Estadão.
“Propus que não deveríamos aceitar simplesmente a indicação, pelo fato de que
estava se descumprindo a legislação brasileira.”
Com o aval dos colegas, Nardes divulgou uma nota
aconselhando ao Senado “a observância dos requisitos constitucionais previstos
para a posse de qualquer cidadão que venha a ser membro da corte”. Um dos
requisitos é “reputação ilibada”. Em conversas reservadas com parlamentares
governistas, Nardes avisou que o TCU “não podia aceitar um condenado”. Também
revelou que, caso a afronta se consumasse, não daria posse a Gim Argello. O
ultraje ao Tribunal de Contas da União morreu sem ter nascido.
As páginas reservadas ao noticiário político-policial
confinaram em poucos centímetros um dos fatos mais relevantes desse começo de
abril com cara de antigos agostos. O gesto de Nardes – endossado por todos os
ministros do TCU, insista-se – demonstrou que o país em aparente decomposição
pode recuperar a saúde se os brasileiros decentes reaprenderem a dizer não.
A pesquisa do Ibope prova que Lula teve uma
péssima ideia. Ao ordenar que a turma fosse para cima, mandou Dilma para baixo.
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