O deputado Argolo, feliz da vida.
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O doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato,
mantinha um serviço de entrega de dinheiro vivo a seus clientes. É isso que
aponta reportagem publicada neste fim de semana pela revista “Veja”. A
publicação teve acesso a escutas feitas pela Polícia Federal e registrou
conversas sucessivas entre o doleiro, identificado como “Primo”, e um
interlocutor frequente — possivelmente um de seus clientes — conhecido pela
sigla “L.A”. Em mensagens trocadas em setembro passado, “L.A.” cobrou de
Youssef um pagamento.
— E aí? — perguntou “L.A”.
— Meninos foram para o banco agora. Vamos ver o que
conseguimos sacar e vamos para aí — respondeu o doleiro.
Segundo a revista, no dia seguinte “L.A.” ligou novamente, e
Youssef pediu a confirmação do endereço de entrega. Seu interlocutor respondeu
então fornecendo um endereço completo. Horas depois, o doleiro escreveu: “Já
chegou. Desembarcando. A caminho”. O endereço da entrega da encomenda é,
segundo a “Veja”, o do apartamento funcional onde mora o deputado baiano Luiz
Argôlo, que recentemente trocou o PP pelo Solidariedade.
O deputado nega ser “L.A.” e diz à revista que tudo não
passa de uma ilação. Segundo “Veja”, no entanto, há outros fatos que ligam o
deputado a Youssef. O doleiro teria transferido R$ 120 mil a Vanilton Bezerra,
chefe de gabinete de Argôlo. Mas Bezerra nega essas transações.
Em outubro, “L.A.” avisou ao doleiro: “A fatura da Malga
este mês será de 155. Preciso receber na data, por favor”. A Malga Engenharia é
uma das empresas de fachada usadas pelo doleiro para receber repasses de propina.
“L.A.” dá a entender, segundo a reportagem, que tem uma
espécie de conta clandestina com Youssef: “Tenho o saldo 36”, escreveu ele, ao
fazer um balanço dos pagamentos recebidos do doleiro no fim do ano passado.
Procurado pela revista, o deputado reafirmou que não possui qualquer ligação
com as investigações da Polícia Federal e estranhou “divulgações acerca de
depósito indevido em conta de um assessor” de seu gabinete.
Enquanto esteve no PP, Argôlo era próximo de pessoas
importantes do partido, como o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte. Um
irmão do ex-ministro, Adarico Negromonte, ia com frequência ao escritório do
doleiro, mas, segundo ele, por uma infeliz coincidência: à revista, Adarico
Negromonte afirmou que lá visitava um amigo que havia prometido lhe arrumar um
emprego. A revista lembra ainda que a segunda fase da Operação Lava-Jato deve
esclarecer as dúvidas em relação a diversas mensagens e telefonemas dados e
recebidos pelo doleiro. (O Globo)
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