Por Percival Puggina
Boa parte da fábula
narrada por George Orwell em "A revolução dos bichos" transcorre
durante o governo exercido por Bola de Neve e Napoleão, os dois porcos que
comandam a revolução e assumem a direção de uma granja. Junto com eles, ascende
um terceiro porco dotado de extraordinária força de persuasão, o Garganta,
encarregado da propaganda.
Nos últimos dias,
dois fatos lançaram luzes fortíssimas sobre aspectos da realidade nacional,
tornando impossível não extrair deles as devidas conclusões. São fatos que
fazem lembrar o livro de Orwell e pensar se não estamos, há bom tempo, diga-se
de passagem, sob uma revolução dos bichos, colocando a nação sobre quatro
patas.
No sábado, dia 23, à
noite, no sempre interessante programa Painel, da Globo News, William Waack
recebeu três economistas para uma conversa sobre o sistema tributário nacional.
Entre eles o meu amigo Paulo Rabello de Castro, sempre brilhante, membro do
Pensar+ e líder do Movimento Brasil Eficiente, organismo "que trabalha com
propostas concretas para a Simplificação Fiscal e a Gestão Eficiente das despesas
do Governo no Brasil". Lá pelas tantas, Paulo Rabello de Castro disparou:
"Sabe por que o programa fiscal denominado "Simples" tem esse
nome? Porque o outro sistema é o Complicado". Ou seja, o governo cria um
programa simples porque ele sabe que adota um outro cuja complexidade onera o
Custo Brasil. E ninguém faz coisa alguma para simplificar o complicado! Bola de
Neve resolveria melhor.
No domingo pela
manhã, cai no meu Facebook texto do jornalista Alison Maia relatando conversa
que manteve, em banco de delegacia, com um jovem de 14 anos detido por porte de
arma. O que ouviu é de arrepiar até pelo de porco. Criado sem pai, por mãe
problemática, em duas ocasiões procurou e encontrou emprego para poder se
sustentar e estudar. Em ambas o seu patrão foi processado por contratar menor e
ele teve que ir ganhar a vida nas ruas vendendo droga. O relato do jovem
termina assim: "Então, seu Alison, guarde seus conselhos para esses
safados que vocês votam e acham que menor não pode trabalhar, mas pode roubar,
matar e traficar".
Não sei de qual
espírito de porco saiu essa ideia de que o trabalho pode fazer mal a um
adolescente e, por isso, o impede de usar parte do dia para trabalhar
aprendendo algum ofício. Aprender a trabalhar também é se educar. Toda
experiência humana, com infindáveis exemplos, ensina que trabalho adequado à
idade, por tempo limitado, em condições de segurança, só faz bem a quem o
exerce. É preciso diminuir a quota de Gargantas nos poderes da República.
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