Por Milton Pires
Marina Silva em 1986, no Acre, liderando camponeses.
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No dia 13 de agosto de 2014, a morte do candidato à
presidência da República, Eduardo Campos, trouxe mais uma vez ao cenário
político a possibilidade de Marina Silva ocupar o cargo supremo do Executivo
nacional. O que apresento nas próximas linhas é um apanhado histórico e crítico
daquilo que penso ser, do ponto de vista teórico, a base do seu pensamento
político e tomarei como ponto de partida o conceito de “ecoteologia”, segundo
as definições de Afonso Murad (ver. Revista Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba,
v. 1, n. 2, p. 277-297, jul./dez. 2009). Uma comparação entre o fanatismo
ecológico no Brasil e o genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja é a
conclusão que faço ao final.
Ecoteologia é, antes de tudo, um conceito revolucionário
naquilo que se refere à teologia tradicional. Trata-se de um nova interpretação
da mensagem divina que, desde a Gênese até o Apocalipse, modifica a ideia
básica do projeto de salvação contida na mensagem dos profetas, de Jesus Cristo
e, finalmente, dos apóstolos, afirmando que a própria natureza e todos os seres
que dela fazem parte serão salvos no fim dos tempos e no Segundo Advento. Nas
palavras de Afonso Murad:
“o eixo temático da ecoteologia consiste na forma de
compreender a relação entre criação, graça e pecado e entre encarnação,
redenção e consumação, ou seja: a unidade e a interdependência dos elementos
que constituem a experiência de salvação cristã e, no interior dessa reflexão,
proclamar como todos os seres participam do projeto salvífico de Deus.”
Diz o autor mais adiante que “naturalmente, isso tem impacto
na percepção sobre o valor da materialidade”.
Naquilo que se refere à Marina Silva, o conteúdo
escatológico do seu pensamento pode ser percebido em declarações como essa:
"Hoje, todos nós sabemos que somos finitos como raça.
E, além de não saber como lidar com a imprevisibilidade dos fenômenos
climáticos, temos pouco tempo para aprender como fazê-lo.”
Observe-se portanto que, ao participar simultaneamente do
debate ecológico e da comunidade religiosa formada no Brasil pela denominação
pentecostal “Assembleia de Deus”, a política transformou-se, para Marina Silva
e sua “Rede”, numa espécie de interface, num campo onde o “discurso da
salvação” adquire aquilo que se convencionou recentemente chamar de
“transversalidade” ou seja: pode pautar o debate sobre o “futuro desse mundo
material” e daquilo que eventualmente poderá substituí-lo por ocasião do
Apocalipse e do Segundo Advento. (N.do E.: Deve-se ressaltar que a influência
teológica decisiva que faz Marina Silva ser o que é não é pentecostalismo, e
sim a chamada “teologia da libertação”, elaborada para infiltrar comunistas na
Igreja Católica, e sua versão protestante, a “teologia da missão integral”,
conforme a própria Marina Silva admite).
O termo “Khmer Rouge”, (Khmer Vermelho, em francês) foi
cunhado pelo chefe de estado cambojano Norodom Sihanouk, e mais tarde adotado
pela comunidade anglófona. A expressão se referia, de uma forma pejorativa, a
uma sucessão de partidos comunistas no Camboja que evoluíram para se tornar o
Partido Comunista da Kampuchea (CPK), e mais tarde no Partido do Kampuchea
Democrático. A organização foi conhecida também como Partido Comunista Khmer e
Exército Nacional do Kampuchea Democrático. Estima-se que o Khmer Vermelho tenha
provocado através de execuções, torturas, trabalhos forçados e, sobretudo da
fome, a morte de cerca de 5 milhões de cambojanos. Seus líderes principais
chamavam-se de “irmãos” e tinham como meta transformar o país numa sociedade
ABSOLUTAMENTE agrária (sem dúvida alguma uma proposta bastante “ecológica”) em
que a economia deveria ser baseada no escambo e toda forma de “cultura
tradicional” destruída para que o Camboja voltasse a um período (mais
importante) dos séculos XIII ao XV em que era conhecido como Reino de Angkor.
Não há dúvida, observem, de que se tratava, então em 1975, quando o Khmer toma
a cidade de Phnom Penh, de um projeto de “salvação nacional”.
Há, em toda história política brasileira, um gosto mórbido
pelo messianismo. Pelos projetos que, se não mergulharam o país em tantas
revoluções armadas como em outras partes do mundo, ofereceram sempre “soluções
esotéricas” e “mágicas” e que encantaram (e continuam encantando) o povo com
seus “enviados divinos”. Marina Silva é mais um desses personagens que, de
tempos em tempos, surge para dominar o inconsciente coletivo dos brasileiros.
Ela substituiu Campos para apresentar-se como uma “ungida” capaz de encontrar o
“meio termo entre Dilma e Aécio” e nos conduzir no caminho da “salvação”
juntamente com todos os animais, plantas, rios e florestas da Amazônia
Brasileira.
Seu apelo é tão forte que faz com que todas os seus
eventuais eleitores esqueçam os seus quase 23 anos de petismo, sua participação
no governo desse regime criminoso e o atrevimento e a audácia de uma proposta
que visa reinterpretar toda mensagem cristã sobre o outro mundo para
ressuscitar toda mensagem revolucionária nesse aqui: só poderemos viver nesse
mundo nos preparando para salvação no outro. Nessa “salvação” levaremos conosco
os animais e toda floresta. Nossos “guias” são Marina Silva e os “irmãos da
Rede”.
Aproxima-se do Brasil a chegada do Khmer Verde.
Fonte: Mídia Sem Máscara
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Milton Pires é médico.
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