Diante de dados que mostram como o vice-presidente da
Câmara, André Vargas (PT-PR), articulava para ajudar o doleiro Alberto Youssef
a obter sucesso em seus negócios, deputados da oposição cobram que o petista se
afaste do cargo para que a Casa possa investigá-lo com isenção. Reportagem da
edição de VEJA que chegou às bancas neste sábado mostra que o envolvimento de
Vargas com o doleiro, preso em operação da Polícia Federal que desbaratou um
esquema de lavagem de dinheiro, rendia benefícios além do empréstimo de um
jatinho: o deputado prestava serviços a Youssef, encontrando oportunidades de
negócio para o doleiro no governo federal. Vargas, inclusive, ajudou Youssef a
obter um contrato de 150 milhões de reais com o Ministério da Saúde.
Em mensagens trocadas em setembro do ano passado e
interceptadas pela PF, Youssef fez um apelo a Vargas: “Tô no limite. Preciso
captar”. O vice-presidente da Câmara prontamente respondeu: “Vou atuar”. No
mesmo dia, técnicos do Ministério da Saúde, então comandados por Alexandre
Padilha, hoje candidato ao governo de São Paulo, foram destacados para certificar
o laboratório farmacêutico Labogen Química Fina e Biotecnologia, de propriedade
do doleiro. A ajuda foi materializada em um contrato inicial de 30 milhões de
reais firmado com a pasta.
Tais revelações desmentem a versão apresentada por Vargas na
tribuna da Câmara. Na última quarta-feira, o petista negou ter se reunido no
Ministério da Saúde para tratar do laboratório e afirmou que apenas “orientou”
Youssef – como, diz ele, teria orientado qualquer sindicalista, empresário ou
prefeito que o procurasse. Na ocasião, o afirmou ainda que foi um “equívoco”
ter viajado em uma aeronave alugada pelo doleiro. O “presente” a Vargas custou
100.000 reais.
“Agora não basta mais discurso, tem que ter um gesto. E esse
gesto principal é de se licenciar do cargo para dar condições plenas de a Mesa
Diretora avaliar com isenção essas denúncias que o colocam em uma situação
muito difícil”, afirmou o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR),
referindo-se ao fato de que Vargas, por ser o vice-presidente da Câmara,
integra a diretoria da Casa. “É óbvia essa relação promíscua e que o doleiro é
operador de um dinheiro público desviado para o partido e para o deputado. O
André Vargas é de confiança de Dilma e de Lula. Tomara que ele não siga essa
cartilha do PT de dizer que não sabe de nada e que não cometeu nenhum crime. A
primeira atitude que ele tem de tomar é se afastar da vice-presidência. Depois,
renunciar”, completa o vice-líder do PSDB, deputado Nilson Leitão (MT).
Com as novas denúncias contra o petista, a oposição vai
ampliar os argumentos para solicitar que a Câmara o investigue. Embora a
Secretaria-Geral tenha rejeitado o pedido do PSOL para que a Corregedoria
avaliasse o caso do jatinho, o partido planeja incluir as novas revelações no
parecer para insistir no pedido de investigação. “Quero uma posição definitiva
da Mesa. Justamente porque ele é vice-presidente a diretoria tem de se
pronunciar formalmente. É um constrangimento, neste momento, dizer que não há
nada”, afirmou o líder Ivan Valente (PSOL-SP).
Em uma segunda investida para que o caso seja apurado, o DEM
e o PSDB vão acionar o Conselho de Ética no início da próxima semana. “Nós já
tínhamos indicações claras de quebra de decoro com a viagem no jatinho. Agora,
a situação assume uma nova dimensão e a gravidade das ocorrências vai ser
incluída na representação”, disse o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA). “As
versão foram sendo mudadas no curso das notícias e o deputado está em uma
situação cada vez mais complicada”, continuou o líder do DEM, Mendonça Filho
(PE).
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