A Folha Online traz os dados da mais recente pesquisa Datafolha.
Se a eleição fosse hoje — ainda bem que não é! —, no cenário mais provável, a
presidente Dilma seria reeleita no primeiro turno, com 38% dos votos, contra
16% do tucano Aécio Neves e 10% de Eduardo Campos, do PSB, ex-governador de
Pernambuco. Poderia ser um resultado desastroso, já digo por quê. Antes, vamos
a alguns outros números (todas as ilustrações e gráficos foram feitos pela
Editoria de Arte da Folhapress).
O levantamento foi realizado nos dias 2 e 3. Há pouco mais
de dois meses, Aécio tinha os mesmos 16%, e Campos, 9%. Logo, os dois estão
onde estavam. Dilma, no entanto, caiu 6 pontos percentuais. Na pesquisa dos
dias 19 e 20 de fevereiro, ela aparecia com 44%. Em relação ao levantamento
anterior:
1 – houve um aumento de 4 pontos nos que acham o governo
“ruim ou péssimo” (de 21% para 25%);
2 – caíram de 41% para 36% os que pensam que ele é ótimo
bom, e variaram de 37% para 39% os que o consideram regular;
3- a maior
insatisfação está no Sudeste, onde o “ruim/péssimo” (31%) vence o “ótimo/bom”
(28%); 40% acham apenas regular;
4 – a região mais satisfeita é o Nordeste: 51% de
“ótimo/bom”, contra 12% de ruim/péssimo — para 36%, é regular;
5 – no Norte/Centro-Oeste, a avaliação positiva ainda supera
a negativa: 32% a 25% (com 32% de regular);
6 – no Sul, os
índices tendem a se igualar, mas ainda são favoráveis à presidente: 33% a 29%,
com 37% de regular.
7 - Atenção! Nada menos de 72% dizem esperar que o próximo
governo aja de maneira diferente desse que está aí;
8 – torcem pela mesma
coisa apenas 24%.
Dito isso, voltemos ao fim do primeiro parágrafo.
Imaginem quão ruim seria eleger mais do mesmo quando,
convenham, poucos estão realmente satisfeitos com o governo. Seria garantir a
continuidade do que não está bom. Esses não são os únicos indicadores de
insatisfação e de preocupação, não. Há outros:
9 – 65% acham que a
inflação vai aumentar;
10 – 45% acreditam que haverá aumento do desemprego (só 20%
pensam o contrário);
11 – 28% pensam que
haverá aumento do poder de compra dos salários, mas 35% pensam o contrário.
1 2 – 9% avaliam que a economia vai piorar, contra 27% que
preveem o contrário; 39% acham que ficam tudo na mesma;
13 – 63% dizem que Dilma fez menos do que esperavam.
É claro que esses não são números confortáveis para Dilma. E
não há razão para supor que vá haver uma mudança substancial na economia — ao
contrário até: alguns índices caminham na contramão dos que mantêm expectativas
positivas. Mas…
As oposições
Mas os dois nomes da oposição ainda não empolgaram — ao
menos segundo os dados da pesquisa. Se 72% querem um governo que atue de modo
muito diferente desse, a soma dos pontos dos dois candidatos que se opõem a
Dilma é de apenas 26%. Indagados sobre quem poderia fazer as mudanças esperadas,
vejam como se distribuíram os que responderam a pesquisa:
Lula: 32%
Marina: 17%
Dilma: 16%
Aécio: 13%
Campos: 7%
Vale dizer: parte considerável daqueles 72% que esperam um
governo diferente ainda aposta que a mudança possa ser conduzida pelos próprios
petistas. Eis aí uma evidência de que os candidatos do PSDB e do PSB precisam
assumir com mais clareza o discurso mudancista. Até porque, num eventual
segundo turno, se a eleição fosse hoje, Dilma venceria Aécio por 51% a 31%, e
Campos, por 51% a 27%.
Ruim para Campos
Avalio que o resultado é particularmente ruim para Campos —
e talvez os números lhe sirvam de alerta para mudar o rumo de seu estranho
discurso. O horário político gratuito do PSB foi ao ar dia 27. Estava bem
produzido, foi feito com competência, era coisa de profissionais. Ainda estão
no ar as minipropagandas do partido. Mesmo com essa exposição massiva e com a
queda de Dilma, ele não se mexeu: continuou nos 10 pontos percentuais.
Será que não há aí um indicador de que esse seu esforço para
preservar Lula e o petismo — centrando seus ataques só em Dilma — acaba sendo
ineficaz? Tendo a achar que sim. Tenho pra mim já há algum tempo que o
ex-governador de Pernambuco ambiciona um lugar no discurso político que é
difícil, quase impossível: o de continuador de Lula, mas sem pertencer ao PT.
Notem: a maioria concorda, sim, com a pregação de Campos. Nada menos de 72%
também acham que o governo precisa mudar. Mas 48% ainda escolhem petistas para
fazer isso: 32% acham que Lula é que tem de operar essa transformação, e 16%, a
própria Dilma. Só 7% acham que Campos é o homem certo para a missão.
Aécio
O tucano Aécio Neves tem ocupado ativamente o espaço que
cabe a um líder oposicionista, especialmente nestes dias de escândalos em série
da Petrobras. Os índices ainda não se mexeram, mas é visível que existe
potencial para isso. É claro que a exposição dos candidatos de oposição no
noticiário ainda é muito menor do que a da já candidata à reeleição Dilma
Rousseff.
Não parece plausível que Dilma vença a disputa no primeiro
turno. Com índices muito melhores em 2006 e em 2010 em todas as áreas, o
governismo não logrou tal intento. De resto, a eleição ainda não está entre as
principais preocupações dos brasileiros. Se todos os partidos hoje na base
governista se mantiverem unidos, Dilma terá um latifúndio na TV e do rádio: dos
25 minutos diários, terá nada menos de 15min25s — 62%. Aécio ficaria com 4
minutos: 16%, e Campos, com apenas 1min23s: 6%. Trata-se de uma diferença gigantesca.
Mesmo assim, a oposição estará mais presente na TV e no rádio do que hoje. Na
hipótese de um eventual segundo turno, essa diferença desaparece.
Há outra questão fundamental: 52% dizem conhecer Dilma muito
bem, mas apenas 17% dizem o mesmo sobre Aécio, e 7%, sobre Campos. Só 12% nunca
ouviram falar da petista, índice que chega a 33% quando é citado o nome do
ex-governador de Pernambuco e a 35% quando se trata do senador mineiro. Quando
se cruzam esses dados com a rejeição — os três estão com 33% —, chega-se a uma
evidência: boa parte dos que rejeitam Dilma a conhecem de fato; no caso de
Aécio e Campos, boa parte da rejeição pode se confundir com desconhecimento, o
que também pode explicar a adesão ainda baixa às duas candidaturas.
A população quer mudanças, mas ainda não
encontrou o caminho. Cabe aos que se opõem ao governo esse trabalho de
convencimento.
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