Alexandre Padilha, com a então ministra da Casa Civil,
Gleisi Hoffmann, e com o então petista que não andava em jatinho de doleiro
preso, André Vargas, em campanha de arrecadação de fundos para a Santa Casa de
Londrina: "anjinhos"!
Foi o doleiro Alberto Youssef quem conseguiu financiamento
de R$ 31 milhões do Ministério da Saúde para o laboratório Labogen por meio de
"contatos políticos", segundo depoimento à Polícia Federal de um dos
sócios da empresa, Leonardo Meirelles.
Um dos contatos políticos de Youssef é o deputado André
Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara, segundo interceptações de mensagens
feitas pelas PF. Em uma das mensagens, reveladas anteontem pela Folha, Youssef
e Vargas falam sobre a Labogen, segundo relatórios da Operação Lava Jato.
Vargas diz ao doleiro que a reunião com o secretário de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Gadelha, "foi boa demais".
"Ele garantiu que vai nos ajudar", afirma.
A Labogen assinou em dezembro do ano passado um acordo com o
Ministério da Saúde para produzir o citrato de sildenafila, o Viagra, usado
para tratamento de hipertensão pulmonar. À época, o ministro era Alexandre
Padilha (PT), pré-candidato ao governo de São Paulo. O acordo previa pagamento
de R$ 31 milhões em cinco anos e fazia parte de um programa cujo objetivo era a
"redução de preços de produtos estratégicos para a saúde".
Meirelles foi preso pela Operação Lava Jato, que investiga
lavagem de dinheiro, e decidiu colaborar com a PF. O empresário contou que
nunca teve contatos com o ministério. Outro sócio da Labogen, Pedro Argese,
também colabora com a PF.
A Labogen foi usada por Youssef para fazer remessas ilegais
ou internalizar US$ 37 milhões (R$ 84 milhões) com a simulação de importações e
exportações, segundo a PF. O financiamento de R$ 31 milhões para a Labogen só
foi cancelado pelo Ministério da Saúde na quinta-feira, após a Folha questionar
a instituição sobre suspeitas da PF.
E-mails apreendidos apontam que o diretor de produção
industrial e inovação da pasta, Eduardo Jorge Oliveira, teria orientado a
Labogen a se associar com a EMS. Na parceria, a EMS cuidaria sozinha da
produção de 35 milhões de comprimidos ao ano. A suspeita da PF é que a Labogen
foi usada apenas para pagar propina a servidores públicos por causa da
diferença de porte entre as empresas. A Labogen tem folha de pagamento de R$ 28
mil. Já a EMS é o laboratório com o maior faturamento no país (R$ 5,8 bilhões
em 2012).
OUTRO LADO
André Vargas disse ontem, em pronunciamento na Câmara, que
orientou Youssef "a respeito de encaminhamentos burocráticos no Ministério
da Saúde", como faz "normalmente" com quem o procura com
projetos "viáveis e de interesse público". Disse ainda que não
participou, não agendou, não soube previamente nem acompanhou nenhuma reunião
no ministério sobre qualquer assunto relacionado à Labogen.
O Ministério da Saúde diz que nunca teve contato
com a Labogen. Não houve pagamento, segundo a pasta, porque isso só ocorreria
após a entrega do medicamento. O advogado de Youssef disse que fazer contatos
políticos não é crime e que não há provas contra seu cliente. Padilha disse
apoiar a apuração aberta pelo ministério e a suspensão da parceria. O advogado
de Leonardo Meirelles não quis se pronunciar. O defensor da Labogen diz que as
suspeitas de que a Labogen é uma empresa de fachada são infundadas. A EMS diz
que a parceria obedeceu "critérios técnicos".
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