Por Jornal do Brasil
Categoria decide em abril se entra em estado de greve e vai
aguardar reajuste até junho
Policiais Civis do Rio de Janeiro exigem que o governo
cumpra sua promessa de atender às reivindicações salariais da categoria, e
levantam a possibilidade de entrar em greve na Copa do Mundo. Em dezembro, o
governador Sérgio Cabral anunciou para eles que o pedido de inclusão de uma das
gratificações, o da Delegacia Legal, ao salário dos trabalhadores, seria
anunciado neste mês de março. A Secretaria de Planejamento já havia inclusive
apresentado um plano para esses pagamentos. Em reunião entre governo e
categoria na semana passada, no entanto, o vice-governador Luiz Fernando de
Souza, o Pezão, que assume o governo no próximo mês, disse que precisaria de
tempo para pensar, e que daria um retorno sobre a comprovação do reajuste até
junho.
A questão salarial da categoria é antiga, de acordo com
Francisco Chao de la Torre, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do
Estado do Rio de Janeiro (Sindpol RJ). Como o salário é baixo, os servidores
precisam contar com gratificações especiais que, em caso de licença médica, por
exemplo, deixam de cair na conta do trabalhador. O que eles sugeriram para o
governo era que uma dessas gratificações, a Delegacia Legal, com o valor de R$
850, entrasse no vencimento de todos os policiais civis. A gratificação, que só
seria totalmente inserida em um prazo de cinco anos, seria extinta com o tempo
e o servidor não correria o risco de ver seu salário cair ao se aposentar,
acidentar ou tirar uma licença maternidade.
Centenas de Policiais Civis realizaram uma assembleia de
mobilização nesta segunda-feira (24) para debater a situação. No dia 29 de
abril, o Sindipol-RJ vai promover outra, para decidir se a categoria entra em
estado de greve. No último encontro, eles resolveram esperar até 30 de junho
pelo reajuste salarial. Francisco reforça que espera um retorno positivo do
governo antes do prazo.
"A sociedade quer uma polícia melhor, é delicado a
gente discutir salário na esfera da segurança pública. O Rio viveu uma evasão
de empresas, investimentos, que agora teve um retorno, mas até quando? A
situação está delicada, ninguém ignora que existe, no mínimo, uma
instabilidade. Ninguém quer retrocesso, independentemente da cor política do
projeto, a gente quer avanço", declarou Francisco ao JB.
O porta-voz dos policiais civis ressalta que o salário dos
delegados de polícia do Rio é o maior da federação, enquanto o dos agentes está
na penúltima colocação nacional, de acordo com a Confederação Brasileira de
Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol). Francisco é inspetor de polícia de
terceira classe, duas para chegar ao topo, tem 19 anos de polícia, e seu
salário líquido é de R$ 4.500. Na aposentadoria, ele reforça, perderia metade
disso, devido às gratificações que o governo oferece por fora.
"Somos 11 mil policiais civis na ativa. Pelo menos 30%
têm tempo de profissão suficiente para se aposentar e não se aposenta, para não
ter os salários reduzidos." Ele explica que são vários os patamares de
gratificação. O Delegacia Legal, por exemplo, não favorece todos os policiais
civis, apenas os que trabalham em locais que fazem parte do programa.
De acordo com Francisco, o secretário de Estado de Segurança
do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame tem sido o principal articulador das
pautas da categoria, um "grande avalista da negociação salarial, que agiu
altruisticamente".
Além da questão salarial, os policiais civis do Rio ainda se
veem agora, acrescenta, com um aumento da demanda pelos seus serviços. Falam
ainda das altas taxas de letalidade.
"Cabral determinou que o nosso pleito fosse atendido, a
gratificação fosse dada, o Pezão nos pede tempo, até junho, prazo fatal para
conceder aumento aos servidores, devido ao processo eleitoral. A gente sempre
tenta construir uma estrada de mão dupla, a gente compreende as dificuldades do
estado, mas também precisamos ser valorizados", complementa Francisco.
O JB entrou em contato com a assessoria de
imprensa do governo do Rio, mas não recebeu retorno até o fechamento desta
matéria.
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