Editorial – O Estado de São Paulo
A direção do Partido dos Trabalhadores (PT) entrou na
Justiça Eleitoral para obrigar a Rede Globo a ampliar a cobertura das
atividades de campanha de Alexandre Padilha, candidato do partido ao governo do
Estado de São Paulo. Ao pretender determinar o que uma emissora de TV deve
mostrar a seus telespectadores, os petistas reafirmam sua visão autoritária a
respeito do trabalho da imprensa e seu desprezo pelo jornalismo independente.
A tarefa de informar bem seus leitores, ouvintes e
telespectadores obriga as empresas jornalísticas a estabelecer critérios de
seleção de informações, para entregar a seu público as notícias que terão
relevância em sua vida, deixando de lado as que, a seu juízo, têm menor
importância. Assim, cada redação define quais acontecimentos serão dignos de
cobertura extensiva e quais merecerão espaço menor. Tais parâmetros, que
integram o bê-á-bá do jornalismo, podem mudar de veículo para veículo, mas há
algo que, em democracias, não mudará nunca: o princípio de que as empresas
jornalísticas devem ter ampla liberdade para adotar os padrões de seleção de
informações que melhor atendam seu público.
É justamente nessa liberdade, central para o exercício do
jornalismo independente, que o PT pretende interferir, em defesa de uma suposta
"isonomia" de tratamento para todos os candidatos ao governo
paulista. Tal exigência de igualdade, da maneira como está sendo enunciada
pelos petistas, serve apenas para ferir a autonomia que um veículo deve ter
para determinar o que é digno de ser publicado e o que não é.
A Rede Globo entendeu que deveria dar mais espaço em seus
telejornais aos candidatos ao governo paulista com mais de 6% de intenções de
voto. Com isso, recebem destaque diário apenas os dois primeiros colocados, o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) e Paulo Skaf (PMDB). Na última pesquisa do
Ibope, Padilha, o candidato petista, surge em terceiro lugar, com 5% das
menções. É o mais bem colocado entre os "nanicos" - está à frente de
outros três candidatos que dispõem de 1% cada - e por isso aparece com
frequência menor no noticiário da emissora.
No entender dos petistas, porém, a Globo estabeleceu
parâmetros sob medida para, deliberadamente, sonegar de seus telespectadores o
noticiário sobre a campanha de Padilha. Em carta à emissora, o presidente
estadual do PT e coordenador da campanha petista, Emidio de Souza, disse que
"não cabe a um veículo de comunicação definir critérios" para a
veiculação de informações sobre a eleição. Para questionar as escolhas da
Globo, Emidio diz que, pela margem de erro da pesquisa, de três pontos
porcentuais, Padilha pode estar com 8% - acima, portanto, do piso estabelecido
pela emissora. Por essa lógica, porém, o petista pode estar com 2%, em empate
técnico com os outros "nanicos".
O aspecto relevante nessa polêmica, no entanto, não são
alguns pontos porcentuais para mais ou para menos, e sim a reafirmação da
vocação autoritária do PT e de sua hostilidade contra a imprensa livre. Em nota
sobre sua petição à Justiça Eleitoral, o partido chega a exigir que a Globo
"abra espaço diariamente em sua programação normal para todos os
candidatos" ou então "que se abstenha de cobrir a agenda de qualquer
um deles". Trata-se de uma tentativa grosseira de pautar uma emissora de
TV.
Ainda que arrogante, no entanto, a manifestação petista não
se compara às grosserias do ex-presidente Lula, que qualificou como
"sacanagem" os critérios da Globo para a cobertura eleitoral em São
Paulo. "Já fui vítima de todas as sacanagens que vocês possam imaginar,
mas tem coisa que vai ficando insuportável", disse Lula num evento de
campanha no início de agosto. "Em São Paulo, a sacanagem é tamanha que
eles decidiram que só vão colocar os candidatos acima de 10% (sic) para tirar o
Padilha da televisão. Cada jogo, em cada eleição, é uma sacanagem."
Como aquele que jamais se constrangeu ao fazer propaganda
eleitoral fora de hora nem a colocar a máquina do Estado a serviço de seus
candidatos, Lula deveria saber o que, de fato, é "sacanagem".
Fonte: A Verdade Sufocada
Nenhum comentário:
Postar um comentário