Por Nelson Motta - O Estado de São Paulo
A cada nova pesquisa, ninguém mais tem dúvidas de que a
grande maioria da população está insatisfeita com a vida no país e, na mesma
proporção, descontente com a economia e preocupada com a inflação. Os números
não mentem, a discussão possível é sobre as responsabilidades por esta situação
e sobre o que deu errado. E o que fazer para corrigir os rumos e reduzir os
danos.
Quando Lula aconselha Dilma a culpar a crise internacional
pelos nossos números, a coisa está mesmo feia. Na América Latina, o Brasil só
cresceu mais e teve menor inflação do que Argentina e Venezuela.
O sentido mais sensível do eleitor não é a visão, a audição,
o tato ou o faro, mas o bolso. Em qualquer democracia, quando a grande maioria
da população está insatisfeita — e há três anos a mesma maioria estava
satisfeita —, dificilmente o governo consegue ser reeleito. Jimmy Carter e Bush
pai foram derrotados pela economia.
Aqui, não é a oposição que avança, é o governo que está
derrotando a si mesmo. Ao contrário de 2010, João Santana vai ter que remar
contra a corrente, com vento de proa.
Vão dizer que faltaram comunicação e divulgação dos feitos
do governo: as pessoas estão vivendo melhor, mas não sabem disso — é preciso
informá-las e convencê-las. Apesar dos três anos de propaganda massiva do governo
na televisão, incluindo as grandes estatais, que, como no governo Garrastazu
Médici, vendem a crença do Brasil Grande.
Hoje, 20 milhões de famílias, 28% delas da classe C, têm TV
por assinatura e estarão livres do horário eleitoral. As vantagens no tempo da
propaganda partidária, que custaram o loteamento do governo, só valerão para a
TV aberta.
Sim, as eleições são decididas mais pela emoção do que pela
razão, mas como convencer um eleitor que a sua vida está melhorando se ele está
sentindo piorar? Talvez o ameaçando com um novo governo que pode piorar ainda
mais as coisas, na esperança que o medo vença a razão.
Mas a pior ameaça de volta ao passado é ter o PT na
oposição, sabotando todas as ações de um eventual governo adversário, como fez
com o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Fonte: A Verdade Sufocada
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