quinta-feira, 24 de abril de 2014

Se eu fosse o PT, tomaria cuidado com Vargas; se eu fosse Vargas, tomaria cuidado com o PT


“Sou persistente e vou continuar insistindo para ver se o convenço. O principal argumento é a preservação do partido e da vida do André para ele ter melhores condições de defesa para ele mesmo. O André, em benefício dele e do PT, deveria renunciar, mas é uma decisão personalíssima e o partido ou a bancada não podem impor a renúncia. É um pedido que temos feito a ele e reiterado”.

Nossa! As palavras acima são de Rui Falcão, do PT, e o “André” a que ele se refere é o deputado André Vargas, aquele que, ao saber que o doleiro Alberto Youssef havia alugado um jatinho, por R$ 100 mil, para que ele tivesse férias confortáveis, exclamou: “Isso é coisa de irmão!”. A fala  de Falcão está em reportagem de Laryssa Borges, na VEJA.com.

Eu, hein! Se estivesse no lugar de Vargas e se Falcão dissesse uma coisa dessas, eu renunciaria correndo e ainda iria me benzer, né? Imaginem se, da minha renúncia, dependessem, como ele afirmou, “a preservação do partido e da vida”… Sim, claro!, entendi que esse “a vida” não é exatamente no sentido, digamos, biológico — aquela que Celso Daniel, por exemplo, perdeu —, mas existencial. Mesmo assim, eu daria no pé.

André Vargas está que é pura indignação! Sabe na ponta da língua os serviços que já prestou ao partido, e ninguém da cúpula aparece para defendê-lo. Vejam que curioso: cassado, ele será, isso é certo, e estará inelegível por oito anos a partir de 2015. Se renuncia, também estará inelegível pelos mesmos oito anos, mas o desgaste é menor, ainda que o processo no Conselho de Ética continue.

Então por que a resistência? Virou uma disputa lá da, digamos, “famiglia”. Ele já tinha dito que não aceitava ser enxotado. A interlocutores, tem sugerido que o ministro Paulo Bernardo e a senadora Gleisi Hoffmann — ambos, como ele, do PT do Paraná — seriam beneficiários de um esquema ilegal de distribuição de recursos na Petrobras que envolveria o grupo Schahin.

Padilha

Quem deve estar contente, dado o potencial de estrago, com o atual estágio do noticiário é Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. Afinal de contas, não foi só o avião fretado por Youssef que fez Vargas cair em desgraça, mas também o lobby que ele fez no Ministério da Saúde em favor do laboratório-fachada Labogen, uma estrovenga que, segundo à Polícia Federal, servia à lavagem de dinheiro.

O ministro da Saúde quando se celebrou o contrato era Padilha. O caso, curiosamente, sumiu do noticiário. Essa história, mais do que qualquer outra, evidencia tanto as relações de compadrio de Vargas com Youssef como o uso da máquina federal em benefício de um grupo criminoso. E isso se deu debaixo do guarda-chuva de Padilha, que também é alvo das mágoas de Vargas.

Nas hostes petistas, o ainda deputado é considerado um homem-bomba, um “pote até aqui de mágoa”, como diria o petista Chico Buarque. Por isso, é tratado com todo cuidado. Sabem como é… “Qualquer desatenção/ faça não!/ Pode ser a gota d’água.” Eu, se fosse o PT, tomaria cuidado com Vargas. Eu, se fosse Vargas, tomaria cuidado com o PT.

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