Deputado Júlio Delgado (PSB-MG) se manifestará a favor da
investigação na Câmara porque petista disse ter contato superficial com doleiro
preso
André Vargas: relator diz que petista mentiu na tribuna da
Câmara (Gustavo Lima/Câmara dos Deputados)
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Relator do pedido de cassação de André Vargas (PT-PR) no
Conselho de Ética da Câmara, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) deve se
manifestar a favor do prosseguimento das investigações contra o petista com
base no fato de ele ter mentido em plenário sobre as relações obscuras que
mantém com o doleiro Alberto Youssef. Na tribuna da Câmara, em sua primeira
tentativa de defesa, Vargas alegou que mantinha contatos superficiais com
Youssef, preso na operação Lava Jato. Ele apontou que seu relacionamento com o
doleiro se resumia ao fato de lidar com grandes empresários de Londrina, onde
tem base eleitoral. No dia 2 de abril, Vargas resumiu sua parceria com Youssef
como “uma relação de 20 anos com o proprietário do maior hotel de Londrina”.
A reunião do Conselho de Ética que deve discutir o relatório
preliminar de Delgado está agendada para o dia 22. Nesta reunião será debatido
se há ou não indícios para que o processo de perda de mandato continue
tramitando no colegiado. “Eu já tenho fundamentos para pedir a admissibilidade,
mas tenho que esperar a defesa e os fatos que vierem à tona, para o voto
definitivo”, disse Delgado neste sábado ao site de VEJA. “Eu tenho que me ater
à representação [que pede a perda do mandato] e à fala no plenário. A falta da
verdade no plenário é tão grave ou até mais grave do que questão do tráfico de
influência. Só por isso já dá para encaminhar pela continuidade da
representação.”
De acordo com a edição de VEJA que chega as bancas neste fim
de semana, André Vargas começou um processo de chantagem contra integrantes do
próprio PT para tentar se manter ainda no cargo de deputado federal. Ele elegeu
como primeiros alvos o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a senadora e
ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, ambos com bases eleitorais no
Paraná, além do ex-ministro da Saúde e pré-candidato petista ao governo de São
Paulo, Alexandre Padilha. As ameaças de André Vargas chegaram ao ministro de
Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, e ao presidente nacional do PT, Rui
Falcão.
Vargas tem insinuado que Bernardo seria beneficiário do
esquema ilegal de distribuição de recursos que envolve a Petrobras e atuaria
como intermediário entre a estatal e o grupo Schahin, conforme revela VEJA. Em
depoimento ao Ministério Público, por exemplo, o operador do mensalão Marcos
Valério informou que a construtora Schahin, personagem recorrente em escândalos
políticos, simulou serviços prestados a Petrobras e pagou pelo silêncio de um
empresário que poderia comprometer o ex-presidente Lula com o assassinato do
ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. A Schain usou recursos pagos pelo
contrato não executado.
Outro foco da chantagem de Vargas é o ex-ministro da Saúde
Alexandre Padilha. As ameaças do petista incluiriam informações sobre contratos
da pasta. Como informou VEJA na semana passada, Vargas articulava com o doleiro
Alberto Youssef parcerias entre a Saúde e o laboratório Labogen em um processo
em que planejavam enriquecer juntos.
Se aprovada a admissibilidade do processo de cassação, a
ideia do relator é pedir a documentação que prova que a pasta então comandada
por Padilha recebeu pedido de Vargas para que os representantes da Labogen
fossem ouvidos no Ministério da Saúde. O petista negou ter se reunido no
Ministério da Saúde para tratar do laboratório Laborgen, apontado como uma das
empresas do esquema do doleiro, e afirmou que apenas “orientou” Youssef, como
faria com qualquer sindicalista, empresário ou prefeito que o procurasse.
“Nós, parlamentares, sabemos, e há muitos homens experientes
aqui da nossa Casa, que recebemos prefeitos procurando verbas, orientação em
relação a programas de governo e outras orientações, recebemos presidentes de
sindicatos procurando plano de cargos e salários ou reajuste salarial e
regulamentação da carreira, e recebemos empresários que apresentam projetos que
entendam ser bons para a nação. Isso ocorre comumente com todos nós
parlamentares. Procurado por empresário da minha cidade que havia apresentado
uma perspectiva de um laboratório para fazer uma parceria com o Ministério da
Saúde, fiz como fiz em vários outros momentos, mesmo com outros empresários, o
orientei na forma da lei, encaminhando, orientando naquilo que tinha
conhecimento do dia a dia”, justificou na época.
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