domingo, 13 de abril de 2014

Relator quer usar 'mentira' de Vargas para dar continuidade a processo de cassação


Deputado Júlio Delgado (PSB-MG) se manifestará a favor da investigação na Câmara porque petista disse ter contato superficial com doleiro preso 
André Vargas: relator diz que petista mentiu na tribuna da Câmara
André Vargas: relator diz que petista mentiu na tribuna da Câmara (Gustavo Lima/Câmara dos Deputados)
Relator do pedido de cassação de André Vargas (PT-PR) no Conselho de Ética da Câmara, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) deve se manifestar a favor do prosseguimento das investigações contra o petista com base no fato de ele ter mentido em plenário sobre as relações obscuras que mantém com o doleiro Alberto Youssef. Na tribuna da Câmara, em sua primeira tentativa de defesa, Vargas alegou que mantinha contatos superficiais com Youssef, preso na operação Lava Jato. Ele apontou que seu relacionamento com o doleiro se resumia ao fato de lidar com grandes empresários de Londrina, onde tem base eleitoral. No dia 2 de abril, Vargas resumiu sua parceria com Youssef como “uma relação de 20 anos com o proprietário do maior hotel de Londrina”.

A reunião do Conselho de Ética que deve discutir o relatório preliminar de Delgado está agendada para o dia 22. Nesta reunião será debatido se há ou não indícios para que o processo de perda de mandato continue tramitando no colegiado. “Eu já tenho fundamentos para pedir a admissibilidade, mas tenho que esperar a defesa e os fatos que vierem à tona, para o voto definitivo”, disse Delgado neste sábado ao site de VEJA. “Eu tenho que me ater à representação [que pede a perda do mandato] e à fala no plenário. A falta da verdade no plenário é tão grave ou até mais grave do que questão do tráfico de influência. Só por isso já dá para encaminhar pela continuidade da representação.”

De acordo com a edição de VEJA que chega as bancas neste fim de semana, André Vargas começou um processo de chantagem contra integrantes do próprio PT para tentar se manter ainda no cargo de deputado federal. Ele elegeu como primeiros alvos o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, ambos com bases eleitorais no Paraná, além do ex-ministro da Saúde e pré-candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. As ameaças de André Vargas chegaram ao ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, e ao presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Vargas tem insinuado que Bernardo seria beneficiário do esquema ilegal de distribuição de recursos que envolve a Petrobras e atuaria como intermediário entre a estatal e o grupo Schahin, conforme revela VEJA. Em depoimento ao Ministério Público, por exemplo, o operador do mensalão Marcos Valério informou que a construtora Schahin, personagem recorrente em escândalos políticos, simulou serviços prestados a Petrobras e pagou pelo silêncio de um empresário que poderia comprometer o ex-presidente Lula com o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. A Schain usou recursos pagos pelo contrato não executado.

Outro foco da chantagem de Vargas é o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. As ameaças do petista incluiriam informações sobre contratos da pasta. Como informou VEJA na semana passada, Vargas articulava com o doleiro Alberto Youssef parcerias entre a Saúde e o laboratório Labogen em um processo em que planejavam enriquecer juntos.

Se aprovada a admissibilidade do processo de cassação, a ideia do relator é pedir a documentação que prova que a pasta então comandada por Padilha recebeu pedido de Vargas para que os representantes da Labogen fossem ouvidos no Ministério da Saúde. O petista negou ter se reunido no Ministério da Saúde para tratar do laboratório Laborgen, apontado como uma das empresas do esquema do doleiro, e afirmou que apenas “orientou” Youssef, como faria com qualquer sindicalista, empresário ou prefeito que o procurasse.

“Nós, parlamentares, sabemos, e há muitos homens experientes aqui da nossa Casa, que recebemos prefeitos procurando verbas, orientação em relação a programas de governo e outras orientações, recebemos presidentes de sindicatos procurando plano de cargos e salários ou reajuste salarial e regulamentação da carreira, e recebemos empresários que apresentam projetos que entendam ser bons para a nação. Isso ocorre comumente com todos nós parlamentares. Procurado por empresário da minha cidade que havia apresentado uma perspectiva de um laboratório para fazer uma parceria com o Ministério da Saúde, fiz como fiz em vários outros momentos, mesmo com outros empresários, o orientei na forma da lei, encaminhando, orientando naquilo que tinha conhecimento do dia a dia”, justificou na época.

Desde que foram reveladas as relações entre André Vargas e o doleiro Alberto Youssef, PSDB, DEM e PPS ingressaram com representação no Conselho de Ética contra o deputado petista. A pedido do PSOL, a Corregedoria da Câmara também investiga o caso.

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