Mais uma vez, somos questionados por um órgão de imprensa
sobre o nosso modelo de polícia, o militar. O ponto de início da matéria a ser
construída obedece a alguns entendimentos já pacíficos por parte da reportagem
e subsidiados pela opinião de "especialistas". Vejamos:
A Polícia Militar trata parte da população brasileira como
potencial inimigo;
O sistema de segurança pública é o mesmo da ditadura, guiado
pela Lei de Segurança Nacional;
A ditadura ainda está na cabeça dos governantes e
principalmente das polícias;
A PM que está aí atira para matar. Ela está servindo a
outros interesses.
Como diria o colunista Reinaldo Azevedo, este é mesmo
"o ano de satanização dos militares".
É triste ver como a desinformação parece habitar algumas
mentes neste nosso Brasil de tantos Brasis. Pior: é mais triste ver como alguns
sentimentos se tentam materializar, migrando da quimera à teoria; daí à crença;
por fim, daí à "verdade".
Ninguém deveria se ocupar do julgamento do pretérito,
especialmente com os olhos do presente, mas não é o que ocorre neste país...
Conseguimos anistiar pessoas, mas não conseguimos libertar o passado, que
parece um espírito confuso, agarrando-se a um corpo jacente.
Falar em inimigos, em Lei de Segurança Nacional, que a PM
atira para matar, se não fosse terrível, seria cômico, porque denota, sim, a
construção de um pensamento que se pretende coletivo, a partir de pessoas que
se sentem intelectuais.
Seria mais simples pensar o mundo a partir de fatos, mas
alguns propagadores de opinião preferem as ideologias, o partidarismo e, até, o
oportunismo.
Na maioria das vezes, as polícias militares se desviam do
posicionamento político (na essência da palavra); nossos contumazes detratores,
não. E essa desigualdade se reflete no açoite cotidiano à categoria que se
imbui de receber sobre si todos os pecados do mundo.
Talvez seja oportuno então alertarmos a sociedade quanto ao
Brasil que alguns sonham construir, numa versão romântica, e bastante suspeita.
Antes disso, porém, talvez devêssemos informar que, desde
1997, a Polícia Militar de São Paulo se estrutura a partir de conceitos de
polícia comunitária.
Pode-se mencionar também que o Método Giraldi de Tiro
Defensivo para a Preservação da Vida, criado por um oficial da PM paulista e
nela desenvolvido, é recomendado pela Cruz Vermelha Internacional como
efetivamente aplicável ao treinamento das polícias.
Nosso Programa Estadual de Resistência às Drogas (Proerd),
em vinte anos de atividade, já formou mais de sete milhões de crianças,
ensinando-lhes caminhos seguros para fugir ao contato com esse mal que assombra
nossa sociedade. Isso significa dizer que já educamos um número de jovens que
representa 16% dos 43 milhões de paulistas, segundo estimativa do IBGE para o
ano de 2013.
E não seria demais também lembrar que, no ano passado,
atendemos 2.450.098 ocorrências, prendemos 183.952 pessoas, apreendemos mais de
80 toneladas de drogas, 13.828 armas de fogo em poder de criminosos, prestamos
2.506.664 atendimentos sociais e resgatamos 619.231 pessoas..
Seria tudo isso fruto de nossa vocação para enxergar a
população como inimiga? Seria a ditadura que ainda está em nossa cabeça? A
influência da Lei de Segurança Nacional? Ou ainda nossa compulsão de atirar
para matar?!
Em que mundo esses "especialistas" fundamentam
suas teorias
Muito provavelmente a resposta esteja em outro século e em
outro continente, nascida da cabeça de alguém que pregou a difusão de um modelo
hegemônico, que se deve construir espalhando intelectuais em partidos,
universidades, meios de comunicação. Em seguida, minando estruturas básicas e
sólidas de formação moral, como família, escola e religião. Por fim, ruindo
estruturas estatais, as instituições democráticas. Assim é o discurso desses
chamados "intelectuais orgânicos", como costumam se denominar, em
consonância com as ideias revolucionárias do italiano Antonio Gramsci, que
ecoaram pelo mundo a partir da década de 1930.
Tão assombrosa quanto esse discurso anacrônico, ou mais, é a
teorização formulada por quem, em vez de servir a uma instituição, prefere
servir-se dela, desqualificando-a, conspurcando-a. Nesse caso, o problema
talvez não esteja na ideologia, mas na conveniência da oportunidade de mercado.
No presente momento em que diversos grupos supostamente
democráticos fazem coro para desmilitarizar a nossa polícia, vemos pessoas que
aqui passaram a maior parte de sua vida se colocando como arautos das mudanças
que urgem. Esse tipo de voz ecoa muito mais pelo inusitado do que pela
qualidade de seus argumentos pseudocientíficos. É a chamada crítica à moda Brás
Cubas. Saca-se alguém de um determinado meio e essa pessoa recebe chancela de
legitimidade por falar de algo que, em tese, conhece por vivência.
É inadmissível que um profissional, que deveria ter
compromisso com a verdade, pois assim assumiu em juramento, falar em
premiações, medalhas a policiais que matam, como se isso fosse uma prática
corrente, cultural. Somos a instituição que mais depura seu público interno,
sujeita a regulamentos, códigos rígidos de conduta e com uma corregedoria
implacável contra agressores de policiais e contra policiais bandidos.
Exoneramos centenas. Só em 2013, foram 349. Como dizer que toleramos o erro?
Onde está a responsabilidade no que é dito.
Enfim, parece ser oportuno criticar um modelo de polícia que
suporta o tempo e as circunstâncias adversas. Temos história, uma cultura,
valores morais, coisa rara nos dias de hoje.
Critica-se, mas, no momento da agrura, sabemos qual é a
última instância salvadora, quem pode nos socorrer: "o policial ditador,
que nos vê como inimigos, que age conforme a L.S.N., que atira para
matar...". É como soava no refrão de Chico Buarque: ".... Ela é feita
pra apanhar, ela é boa de cuspir...". Vem o sufoco, a salvação; passa o
sufoco, torna-se ao linchamento. Será que a sociedade prescinde um dia de nós?
Uma manhã? Uma hora?
Ainda somos uma democracia, é bom que nos lembremos sempre
disso. Se um dia tivermos de mudar nosso modelo, que seja pelo desejo do povo,
não de "especialistas".
Centro de Comunicação Social da Polícia Militar de São Paulo
Fonte: A Verdade Sufocada
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