Quem viveu em cidades grandes na época do bonde deve
lembrar-se de algumas propagandas afixadas no interior desses desajeitados
veículos, com versos facilmente memorizáveis. Melhor dizendo, obrigatoriamente
memorizáveis, pois lidas e relidas diariamente.
Cito de memória esta, de uma loja que vendia bilhetes de
loteria em Belo Horizonte:
Cansado de andar “de tanga” / Um dia a gente se zanga / E
sai, danado da vida / Mas logo “cava” dinheiro / Comprando um bilhete inteiro /
No Campeão da Avenida.
Outra, cujo âmbito de circulação não se limitava à capital
mineira, enaltecia as virtudes terapêuticas de um produto para males dos
pulmões:
Veja, ilustre passageiro / O belo tipo faceiro / Que o
senhor tem a seu lado / Mas, no entanto, acredite / Quase morreu de bronquite /
Salvou-o o Rhum Creosotado.
Esses artifícios de propaganda chamavam a atenção de todos.
Não sei se ajudavam a vender, pois nunca me convenceram a comprar o artigo do
Campeão da Avenida, nem usar o Rhum Creosotado. Mas eram pelo menos divertidos.
Havia outros artifícios cujo resultado comercial deve ter
sido bom, pois precisava compensar o custo dos milhões de exemplares de
propaganda distribuídos gratuitamente em todo o Brasil sob a forma de
almanaques.
O formato era geralmente de brochuras pequenas, contendo
muitas informações úteis e instrutivas. Não a ponto de garantir um diploma
universitário, nem era essa a sua função.
Há pessoas que ainda hoje guardam com carinho coleções
preciosas desses almanaques, e se deliciam em mostrá-las aos amigos.
Calma, leitor! Já estamos perto do meu alvo de hoje. Mas
antes de tratar dele, preciso referir-me a um dos almanaques mais famosos – o
do Capivarol.
Não me lembro especificamente de informações colhidas nas
várias edições que manuseei, mas certamente elas se incorporaram ao meu acervo
cultural, enriquecendo-o difusamente com essa “cultura de almanaque”.
O Capivarol deixou de ser fabricado, provavelmente devido à
proibição da caça. E assim os ambientalistas radicais privaram a população de
um produto presumivelmente terapêutico, e também do seu famoso almanaque. Mas a
minha bronca é estar impedido de consumir a carne de capivara.
Apreensão de carne de capivara 13-09-10, Mirante do
Paranapanema SP
Foi lavrado ao caçador um Auto de Infração Ambiental no
valor de R$ 22 mil
|
Chegamos, afinal. E já estou percebendo o focinho torcido de
algum ambientalista extraviado, que chegou até aqui atraído pelo título desta
crônica.
Para cortar pela raiz qualquer patrulhamento ideológico,
deixo claro que há muito tempo não tenho o prazer de caçar capivaras e comer
sua carne, da qual tenho irreprimível saudade.
Se não proliferassem atualmente ambientalistas insensatos,
capazes de proibir liminarmente a caça de animais predadores como javali, lobo
e capivara, eu faria a esses leitores extraviados o convite para uma caçada de
capivaras, durante a qual demonstraria também minhas habilidades com arco e
flecha. Concluída a caçada, teríamos um banquete com carne de capivara.
Não consigo entender que ambientalistas radicais se empenhem
na insensata proibição da caça de animais predadores, sem estabelecer medidas
práticas para evitar efeitos indesejáveis. Muitos desses efeitos já são
patentes no Brasil e em outros países.
Conheça alguns deles, que menciono apenas como exemplos:
• Lobos – Sempre foram animais predadores, prejudiciais e
perigosos, a ponto de os contos de fada alertarem as crianças contra o “lobo
mau”. Apesar de regularmente caçados, nunca foram eliminados. Agora estão
livres para os estragos que costumam fazer, e não são poucos os prejuízos que
vêm causando.
• Elefantes – A caça desses graciosos e esbeltos bibelôs,
cuja alimentação diária atinge 120 quilos, foi proibida para inibir os
negociantes de marfim. Os bibelôs se multiplicaram, e hoje sua módica dieta
devasta grande parte das savanas africanas.
• Javalis – Parente próximo do porco, esta espécie selvagem
é perigosa e agressiva, inclusive para o homem. Proibida a caça, está livre
para dizimar animais de criação.
• Lebre europeia – Sua multiplicação rápida inviabiliza o
cultivo de hortaliças, maracujá, laranja e café. É predador dos coelhos
nativos.
Maritacas causam principio de incêndio em residênciana
Vila
Carmem, São Carlos SP
|
• Maritacas – Aves conhecidas como “ratos voadores”, causam
danos a diversos cultivos, como sorgo, girassol, frutas e grãos; e destroem a
fiação elétrica.
• Raposas – Sempre eram caçadas, para proteger os animais de
criação, e a proibição da caça está tornando impossível muitas dessas
atividades.
• Capivaras – Destroem a vegetação e disseminam doenças
mortais, mas a lei ambiental tornou-as intocáveis.
• Ambientalistas – Predadores de grande porte e curta
inteligência, muito protegidos pela mídia. Refugiam-se em malocas dos governos
mundiais e se alimentam com voracidade nos incentivos fiscais. Manipulam
teorias catastrofistas contra o progresso, impedem pesquisas científicas,
retardam e encarecem obras necessárias.
A esta altura da sanha ambientalista contra a caça, não
faltam capivaras para fabricar Capivarol e satisfazer minhas preferências
gastronômicas. Mas antes será preciso promover uma caçada sistemática a
ambientalistas radicais e insensatos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário