Por Cássio Bruno e
Chico Otávio - O Globo
Morte do tenente-coronel do Exército está sendo investigada
pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense
Policia Federal apreende computadores e documentos no sítio
do coronel reformado Paulo Malhães, morto durante assalto Antonio Scorza
RIO - Uma operação da Polícia Civil do Rio, do Ministério Público
Federal e da Polícia Federal recolheu nesta segunda-feira três computadores,
mídias digitais, agendas e documentos do período da ditadura, inclusive
relatórios de operações, no sítio onde morava o tenente-coronel do Exército,
Paulo Malhães, de 77 anos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Malhães
morreu na quinta-feira durante assalto em sua casa.
O mandado de busca e apreensão foi deferido no último
sábado, pelo juiz federal Anderson Santos da Silva, e teve por finalidade
apreender, além de documentos, outras provas que possam contribuir para a
investigação de crimes cometidos durante a ditadura militar por agentes do
Estado.
Os policiais da Delegacia de Homicídios da Baixada
Fluminense (DHBF) e o procurador federal Sérgio Suiama chegaram no sítio por
volta do meio-dia. A operação, acompanhada pelo GLOBO, durou cerca de três
horas e meia. De acordo com Suiama, a morte de Paulo Malhães está sendo
investigada apenas pela DHBF. A presença dos agentes da Polícia Federal no
local foi para dar escolta ao procurador já que a região é dominada pelo
tráfico.
— Estamos acompanhando um pedido de busca federal. Não
entramos no caso da morte do coronel — afirmou Sérgio Suiama, ao GLOBO.
A viúva do militar Cristina Batista Malhães e o caseiro
Rogério Pires, que estavam no momento do assalto na propriedade, também
participaram da diligência. Cristina não quis falar com a imprensa. Já Pires
admitiu que teme pela segurança da família.
Eu moro aqui perto. Quem não tem medo? Eu tenho dois filhos
— afirmou o caseiro, sem dar mais detalhes sobre o dia do crime.
O delegado titular da DHBF, Marcus Maia, informou que, além
da viúva e do caseiro, dois filhos de Paulo Malhães já prestaram depoimento.
Segundo Maia, a principal linha de investigação é latrocínio (roubo seguido de
morte), mas não descartou outras hipóteses, como queima de arquivo e vingança.
O corpo de Paulo Malhães foi encontrado na última
quinta-feira. Ele estava no chão, de bruços, com o rosto num travesseiro. Os
bandidos levaram R$ 700, dois computadores, armas e joias. A mulher de Malhães
e o caseiro da propriedade também foram mantidos reféns.
Como O GLOBO mostrou, a guia de sepultamento do
tenente-coronel reformado informava que a morte fora ocasionada por um edema
pulmonar e uma isquemia no miocárdio. Para especialista, é provável que Paulo
Malhães tenha morrido por infarto. A família admitiu que o militar tinha
problemas cardíacos.
Em junho de 2012, pela primeira vez, Paulo Malhães revelou
ao GLOBO detalhes de como era a rotina da Casa da Morte, residência situada em
Petrópolis, na Região Serrana. O local funcionava como centro de torturas da
repressão. Segundo Malhães, nada ali foi feito à revelia do Centro de
Informações do Exército (CIE).
Em março deste ano, em nova revelação do tenente-coronel ao
GLOBO, ele contou que foi responsável por dar um fim ao corpo do ex-deputado
Rubens Paiva: foi encarregado de desenterrar o corpo de Paiva e jogá-lo ao mar.
Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio, o
militar contou que o destino das vítimas da Casa da Morte era um rio na Região
Serrana, e que, para evitar a identificação dos corpos, as arcadas dentárias e
os dedos das mãos eram antes arrancados.
Fonte: A Verdade Sufocada
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