Por Marcela Mattos, na VEJA.com
Nesta terça-feira, uma comissão de deputados federais de
diferentes partidos fez uma visita ao mais destacado detento da Penitenciária
da Papuda, no Distrito Federal, o ex-ministro José Dirceu. O objetivo do grupo,
formado majoritariamente por aliados do petista, era tentar atestar que o
petista não detém regalias na cadeia e pressionar a Justiça a liberá-lo para
trabalhar fora da Papuda durante o dia. Mas não foi o que ocorreu. Ao chegar ao
presídio, os parlamentares encontraram o detento 95.413 em uma cela
privilegiada, eufórico diante de uma televisão de plasma que exibia a vitória
do Real Madrid sobre o Bayern de Munique pela Liga dos Campeões da Europa.
“Estou assistindo ao Real dar uma surra no Bayern”, disse o mensaleiro,
sorridente, ao receber a comitiva em sua cela. O time espanhol goleou o rival
alemão por 4 a 0.
Segundo relato do deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), a cela do
petista é a maior do complexo, equipada com micro-ondas, chuveiro quente,
televisão e uma cama diferente das demais. Dirceu foi colocado em um espaço de
23 m² no Centro de Internamento e Reeducação (CIR), cujas celas têm padrão de
15 m² e reúnem até quatro detentos. O local servia de cantina, mas passou por
uma reforma para receber o ex-ministro.
“A cela do Dirceu é completamente diferente das outras que a
gente viu, não há dúvidas. Vimos pessoas com deficiência física que deveriam
ficar separadas porque os presos pegam parte da cadeira de rodas para fazer
armas. Mas elas seguem misturadas, dormem em colchões piores e tomam banho em
chuveiro frio”, afirmou a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), que é cadeirante.
Os deputados de oposição reclamaram que o coordenador-geral
da Sesipe (Subsecretaria do Sistema Penitenciário), João Feitosa, impôs uma
série de restrições durante a visita: “Ele queria nos mostrar a cantina, as
melhores celas e que seguíssemos o roteiro definido por ele. Disse ainda que
não poderíamos ir a outros setores por falta de acessibilidade para a deputada
Mara”, disse Jordy. Após a insistência, foram liberados três dos cinco
parlamentares para visitar outras alas da penitenciária — inclusive a própria
Mara Gabrilli, que negou ter enfrentado dificuldades durante o trajeto. Além de
Jordy e Mara Gabrilli, integraram a comitiva os deputados Nilmário Miranda
(PT-MG), Luiza Erundina (PSB-SP) e Jean Wyllys (PSOL-RJ).
Podólogo
No mês passado, VEJA revelou uma série de mordomias de
Dirceu na Papuda. O petista passa a maior parte do dia no interior de uma
biblioteca onde poucos detentos têm autorização para entrar. Lá, ele gasta o
tempo em animadas conversas, especialmente com seus companheiros do mensalão, e
lê em ritmo frenético para transformar os livros em redações, o que lhe pode
garantir dias a menos na cadeia. O ex-ministro só interrompe as sessões de
leitura para receber visitas – incluindo um podólogo –, muitas delas fora do
horário regulamentar e sem registro oficial algum, e para fazer suas refeições,
especialmente preparadas para ele e os comparsas.
Comandada pelo PT, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara
aprovou a diligência até a Papuda com o objetivo de negar a existência de
benefícios aos condenados no julgamento do mensalão e, dessa forma, evitar
sanções aos mensaleiros. Além de pressionar pela liberação do trabalho externo
para Dirceu, petistas temem que seus companheiros sejam transferidos para uma
penitenciária com regime mais duro.
Dirceu está sendo investigado pela Justiça por
ter usado um celular dentro da cadeia do secretário da Indústria, Comércio e
Mineração do governo da Bahia, James Correia, no dia 6 de janeiro. O presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, cobrou investigações sobre
essa e outras regalias de Dirceu e aguarda um parecer para decidir sobre a
autorização para ele trabalhar em um escritório de advocacia.
Fonte: Reinaldo Azevedo – VEJA
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