Por Revista VEJA
A presidente Dilma Rousseff: momento inédito de fragilidade
(Evaristo SA/AFP)
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Em entrevista a rádios baianas, presidente mudou o discurso
e afirmou que "tocará em frente" sua campanha mesmo se siglas aliadas
continuarem defendendo o "Volta, Lula"
Constrangida por aliados que já defendem abertamente o
"Volta, Lula" e índices de aprovação de governo derretendo, a
presidente Dilma Rousseff afirmou na manhã desta quarta-feira que será
candidata com ou sem o apoio dos partidos que integram sua base no Congresso
Nacional.
"Gostaria muito que, quando for candidata, eu tivesse o
apoio da minha base, da minha própria base. Agora, não havendo esse apoio, a
gente vai tocar em frente", disse, em entrevista a rádios da Bahia. Na
sequência, ela emendou uma frase enigmática e encerrou o assunto: "Sempre,
por trás de todas as coisas, existem outras explicações".
As declarações mostram uma mudança no tom adotado pela
presidente, que havia minimizado um manifesto lançado por deputados do PR
pedindo a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Isso não me
pega", disse Dilma em jantar com jornalistas esportivos no Palácio do
Alvorada, na noite de segunda-feira. "Ninguém vai me separar do Lula nem
ele vai se separar de mim."
O PR (ex-PL) apoia o PT em eleições desde 2002, quando José
Alencar, morto em 2011, aceitou concorrer como vice na chapa de Lula. A aliança
ajudou a romper a resistência de parte do empresariado e do setor financeiro à
candidatura do petista. Mais tarde, após a descoberta do mensalão, o então PL
acabou arrastado para o centro do escândalo – o ex-presidente da sigla Valdemar
Costa Neto foi um dos condenados a prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
pelo esquema de corrupção.
Além dos problemas com o PR, reportagem de VEJA desta semana
mostrou que a Dilma enfrenta um momento inédito de fragilidade. Além de ter
problemas na economia, como o crescimento baixo, a inflação persistente e o
desmantelamento do setor elétrico, ela perdeu apoio popular e força para
barrar, no Congresso, iniciativas capazes de desgastá-la. A aprovação ao governo
caiu a um nível que, segundo os especialistas, ameaça a reeleição. Partidos
aliados suspenderam as negociações para apoiá-la na corrida eleitoral. Já os
oposicionistas conseguiram na Justiça o direito de instalar uma CPI para
investigar exclusivamente a Petrobras.
Acuada, Dilma precisa mais do que nunca da ajuda
do PT, mas essa ajuda lhe é negada. Aproveitando-se da conjuntura desfavorável
à mandatária, poderosas alas petistas pregam a candidatura de Lula ao Planalto
e conspiram contra a presidente. O objetivo é claro: retomar poderes e
orçamentos que foram retirados delas pela própria Dilma. A seis meses da
eleição, o PT está rachado entre lulistas e dilmistas — e, para os companheiros
mais pragmáticos, essa divisão, e não os rivais Aécio Neves (PSDB) e Eduardo
Campos (PSB), representa a maior ameaça ao projeto de poder do partido.
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