quarta-feira, 30 de abril de 2014

Doleiro prometeu a doleira um cargo na Polícia Civil de SP se Padilha, do PT, vencer a eleição

Por Daniel Haidar, na VEJA.com 

O doleiro Alberto Youssef prometeu à também doleira Nelma Kodama ajudar a beneficiar um delegado da Polícia Civil caso Alexandre Padilha, pré-candidato petista ao governo de São Paulo, seja eleito em outubro. A promessa foi feita por Youssef no dia 5 de março, em conversa por Blackberry Messenger, e aparece em relatório da Polícia Federal sobre as mensagens interceptadas, com autorização da Justiça, durante a operação Lava-Jato. “Se o Padilha ganhar o governo, ajudo ele e muito”, disse Youssef na mensagem para Nelma, por volta das 13 horas.

A conversa começou com uma pergunta da doleira: “Você tem acesso ao delegado-geral do Estado de São Paulo?”. Ela estava interessada em indicar um delegado para trabalhar no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), unidade especializada no combate a organizações criminosas como as chefiadas por Youssef e Nelma. O nome do apadrinhado da doleira não foi mencionado na conversa.

Youssef e Nelma foram presos na operação Lava-Jato e são considerados pivôs de um esquema de lavagem de 10 bilhões de reais nos últimos anos. Era apenas uma promessa – de doleiro para doleiro. Mas fica clara a demonstração dada por Youssef de que o doleiro se achava capaz de influenciar governos – ou pelo menos governos do PT. Outras conversas interceptadas pela Polícia Federal mostraram que o doleiro e o deputado federal André Vargas (PT-PR) tratavam contratos assinados com o Ministério da Saúde, comandado por Alexandre Padilha de janeiro de 2011 a fevereiro de 2014, como uma oportunidade de “independência financeira”.

Em dezembro do ano passado, o Labogen, um laboratório de fachada comandado por Youssef, conseguiu assinar um contrato com o Ministério da Saúde para produzir um medicamento em parceria com a EMS e o Laboratório da Marinha. O negócio permitiria um ganho de 31 milhões de reais. A parceria foi cancelada pela pasta depois que as investigações da operação Lava-Jato mostraram que laranjas do doleiro tiveram contato com diretores do ministério.

O Labogen chegou a contratar Marcus Cezar Ferreira de Moura, ex-assessor de Padilha no Ministério da Saúde, para atuar como lobista em Brasília. Em conversa do deputado federal André Vargas (PT-PR) com Youssef, Vargas diz que Moura foi indicado para contratação por Padilha. Padilha disse na segunda-feira que interpelou judicialmente Vargas para que ele explique o uso de seu nome em conversas com o doleiro. O ex-ministro nega que tenha relações com o doleiro.



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