Por Daniel Haidar, na VEJA.com
O doleiro Alberto Youssef prometeu à também doleira Nelma
Kodama ajudar a beneficiar um delegado da Polícia Civil caso Alexandre Padilha,
pré-candidato petista ao governo de São Paulo, seja eleito em outubro. A
promessa foi feita por Youssef no dia 5 de março, em conversa por Blackberry
Messenger, e aparece em relatório da Polícia Federal sobre as mensagens
interceptadas, com autorização da Justiça, durante a operação Lava-Jato. “Se o
Padilha ganhar o governo, ajudo ele e muito”, disse Youssef na mensagem para
Nelma, por volta das 13 horas.
A conversa começou com uma pergunta da doleira: “Você tem
acesso ao delegado-geral do Estado de São Paulo?”. Ela estava interessada em
indicar um delegado para trabalhar no Departamento Estadual de Investigações
Criminais (Deic), unidade especializada no combate a organizações criminosas
como as chefiadas por Youssef e Nelma. O nome do apadrinhado da doleira não foi
mencionado na conversa.
Youssef e Nelma foram presos na operação Lava-Jato e são
considerados pivôs de um esquema de lavagem de 10 bilhões de reais nos últimos
anos. Era apenas uma promessa – de doleiro para doleiro. Mas fica clara a
demonstração dada por Youssef de que o doleiro se achava capaz de influenciar
governos – ou pelo menos governos do PT. Outras conversas interceptadas pela
Polícia Federal mostraram que o doleiro e o deputado federal André Vargas
(PT-PR) tratavam contratos assinados com o Ministério da Saúde, comandado por
Alexandre Padilha de janeiro de 2011 a fevereiro de 2014, como uma oportunidade
de “independência financeira”.
Em dezembro do ano passado, o Labogen, um laboratório de
fachada comandado por Youssef, conseguiu assinar um contrato com o Ministério
da Saúde para produzir um medicamento em parceria com a EMS e o Laboratório da
Marinha. O negócio permitiria um ganho de 31 milhões de reais. A parceria foi
cancelada pela pasta depois que as investigações da operação Lava-Jato
mostraram que laranjas do doleiro tiveram contato com diretores do ministério.
O Labogen chegou a contratar Marcus Cezar
Ferreira de Moura, ex-assessor de Padilha no Ministério da Saúde, para atuar
como lobista em Brasília. Em conversa do deputado federal André Vargas (PT-PR)
com Youssef, Vargas diz que Moura foi indicado para contratação por Padilha.
Padilha disse na segunda-feira que interpelou judicialmente Vargas para que ele
explique o uso de seu nome em conversas com o doleiro. O ex-ministro nega que
tenha relações com o doleiro.
Fonte: Reinaldo Azevedo – VEJA
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