Estamos a menos de dois meses das eleições. Mas não parece.
Há um clima de desânimo, de desinteresse, de enfado. Acreditava-se que, após o
fim da Copa do Mundo, as atenções estivessem concentradas no processo
eleitoral. Ledo engano. A pasmaceira continua a mesma. Agora, o divisor de
águas é o horário gratuito que começa dia 19. Para o PT, este é o clima ideal
para a eleição presidencial. Quanto menor o interesse popular, maior a chance
de permanecer mais um quadriênio no poder. O partido tem, inclusive, estimulado
discretamente campanha pelo voto nulo ou branco. Sabe que muitos eleitores
estão desanimados com a política, justamente com as mazelas produzidas pelo
próprio petismo.
A desmoralização das instituições foi sistematicamente
praticada pelo partido. A compra de maioria na Câmara dos Deputados, que deu
origem ao processo do mensalão, foi apenas o primeiro passo. Tivemos a
transformação do STF em um puxadinho do Palácio do Planalto. O Executivo virou
um grande balcão de negócios e passou a ter controle dos outros dois poderes.
Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum pudor.
Não há área do governo que nos últimos anos tenha
permanecido ilesa frente à sanha petista. Todos os setores da administração
pública foram tomados e aparelhados pelo partido. Os bancos, as empresas
estatais e até as agências reguladoras se transformaram em correrias de
transmissão dos seus interesses partidários.
Imaginava-se que, após a condenação dos mensaleiros, o
ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu bel-prazer pudesse, ao menos,
diminuir. Nada disso. Os episódios envolvendo a Petrobras demonstram justamente
o contrário. E mais: neste caso levaram ao descrédito total os trabalhos de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito e desmoralizaram mais uma vez o Legislativo.
As ações seguem um plano de que o partido é o elemento
central da política, nada pode ocorrer sem a sua anuência. Esta estrutura
tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a democracia, a alternância
no governo e com o equilíbrio entre os poderes. A insistência em impor o
projeto dos conselhos populares – uma espécie de sovietes dos trópicos – faz
parte desta visão de mundo autoritária.
O maior obstáculo para o PT é a existência do Estado
Democrático de Direito. O partido tem como objetivo estratégico miná-lo
diuturnamente. Suas ações chocam-se com a “institucionalidade burguesa”.
O PT usará de todos os meios para se manter no poder.
Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como era do seu interesse. Mas com
a permanência de Dilma em um patamar que vai levar a eleição para o segundo
turno – isto hoje é líquido e certo -, o partido vai abrir a sua caixa de
ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.
O uso da internet para desqualificar seus opositores é
realizado há um bom tempo. O PT tem um verdadeiro exército de jihadistas
prontos para o ataque. O recente episódio de mudanças no perfil de jornalistas
na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem por aí. O auge do jogo sujo será
justamente durante a breve campanha do segundo turno, onde uma calúnia tem
muito mais efeito eleitoral, principalmente se divulgada às vésperas da
eleição.
As modificações ocorridas no Tribunal Superior Eleitoral
passaram em branco. É bom que a oposição fique atenta, pois quem vai presidir a
eleição é um ex-funcionário do Partido dos Trabalhadores e ex-advogado de um
sentenciado no processo do mensalão, José Dirceu. O presidente do TSE é o
ministro Dias Toffolli.
Neste processo chama a atenção a ação de Lula, seu líder
máximo – e único, na verdade. Tem se mantido – até o momento – discreto na
campanha eleitoral. Visitou alguns estados e mesmo em São Paulo tem participado
pouco das atividades. Pode ser que tenha sentido um cheiro de derrota no ar e
está buscando preservar sua figura. No caso da eleição paulista, isto já é
definitivo. Seu candidato já está derrotado. Esperto como é, pode já estar
iniciando a campanha de 2018. E com o figurino de salvador da pátria.
Frente a este quadro é que a oposição precisa exercer o seu
papel. Nesta eleição tem agido com mais consistência, buscando alianças
regionais e um discurso mais simples e compreensível para o eleitor. Tem atuado
melhor, mas distante do que se espera de uma oposição no grave momento
histórico que vivemos.
Eduardo Campos tenta – mas tem muita dificuldade – de
encarnar o figurino oposicionista. Afinal, permaneceu mais de um decênio
apoiando o governo, inclusive exercendo função ministerial. Mas teve ousadia em
se lançar candidato.
É Aécio Neves que tem de exercer o papel de opositor do
petismo. Tem se esforçado, é verdade, porém a campanha ainda não empolgou.
Conseguiu habilmente construir bons palanques estaduais. Diversamente de 2010
rachou o apoio petista no trio de ferro da política brasileira. Em Minas Gerais
deve ter uma grande vitória. Em São Paulo, se conseguir colar a sua candidatura
à de Geraldo Alckmin, pode ter a maior vitória do partido no estado desde o
restabelecimento das eleições diretas. Conseguiu um raro feito no Rio de
Janeiro, rachando o bloco de apoio à petista que foi importante em 2010. Deve
surpreender no Nordeste tendo uma boa votação, rompendo com o domínio petista,
como na Bahia. Mas ainda é pouco.
A máquina autoritária petista pode ser derrotada. Os dois
próximos meses são decisivos. O PT vai usar todas as suas armas. Sabe que é uma
batalha de vida ou morte, pois longe do aparelho de Estado não consegue mais
sobreviver.
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Marco Antonio Villa é historiador.
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