terça-feira, 12 de agosto de 2014

Em casa de enforcado

Por Dora Kramer

O que é um factoide? Um pseudofato criado para chamar atenção para alguma coisa ou alguém ou para amenizar o efeito de outros atos.

Nessa definição se enquadra a entrevista convocada pela presidente Dilma Rousseff, neste domingo, em que qualificou como "factoides políticos" as denúncias envolvendo negócios, diretores e ex-dirigentes da Petrobrás.

O pseudofato foi a entrevista da presidente, que nada tinha de importante a dizer. Emitiu juízo de valor sobre o que o Tribunal de Contas da União pode ou não pode fazer. Segundo Dilma, "não pode" submeter uma pessoa "íntegra, correta" como a presidente da Petrobrás, Graça Foster, "a esse tipo de julgamento".

Referia-se à decisão a ser tomada nesta semana sobre a inclusão ou não da executiva na lista dos diretores da estatal que tiveram os bens bloqueados devido ao prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobrás, detectado pelo TCU no exame dos documentos sobre a compra da refinaria de Pasadena.

A declaração foi antes de qualquer coisa inadequada e irrelevante. Não cabe à presidente da República determinar o que deve ou o que não deve fazer o TCU, órgão ligado ao Poder Legislativo. Além disso, ficou parecendo que os outros 11 diretores que tiveram seus bens bloqueados não são íntegros nem corretos no entender da presidente.

Dilma Rousseff mostrou-se também convenientemente esquecida de que foi ela quem repôs a Petrobrás sob o foco da política. Não falemos sobre o aparelhamento nem sobre o manejo dos preços dos combustíveis.

Fiquemos no simples fato de que foi ela quem acusou a diretoria de induzi-la ao erro, a fim de ser excluída do rol dos atuais acusados pelos prejuízos. Um remendo levou à necessidade de outros cada vez maiores.

No domingo, o intuito dos conselheiros da presidente talvez tenha sido o de ocupar o noticiário de segunda-feira, para reduzir o espaço dedicado à repercussão da entrevista da ex-contadora do doleiro Alberto Youssef à revista Veja.

Esta, sim, mais consistente no que se refere a fatos. A moça, Meire Bonfim da Silva Poza, resolveu contar o que sabe à Polícia Federal. Não são boatos, portanto. Relatou operações feitas por ela durante três anos envolvendo malas de dinheiro repassadas a empreiteiras donas de contratos com a Petrobrás, intermediados pelo ex-diretor administrativo Paulo Roberto Costa, cuja destinação final desemboca em políticos de três partidos, PT, PMDB e PP.

Podem ser invencionices? Podem. Mas bastante verossímeis, pois guardam relação com o que até agora vem sendo apurado pela Polícia Federal. Não parecem fabulações de caráter eleitoral como quer fazer crer a presidente, até mesmo desqualificando um órgão sob sua jurisdição.

Não estivesse o instituto da CPI tão absolutamente desmoralizado, seria o caso de se instalar um inquérito parlamentar para investigar a participação dos congressistas nesse esquema. Mas, hoje, as comissões ganharam dos petistas um atestado de tradição de farsa "desde Pedro Álvares Cabral".

Falam disso com a ligeireza de quem está no poder, abstendo-se da prudência de pensar que um dia podem voltar à oposição.

Língua nos dentes. É concreta, embora não seja certa, a possibilidade de o ex-diretor administrativo da Petrobrás Paulo Roberto Costa fazer acordo de delação premiada.

Preso pela primeira vez em março deste ano na Operação Lava Jato da Polícia Federal, foi solto 59 dias depois e preso de novo em junho por ter omitido a existência de uma conta na Suíça e a posse de um passaporte português.


Quanto menores as possibilidades de defesa, maior a probabilidade de um e de outro (ou até dos dois) optarem por um acordo para contar o que sabem. O ex-diretor da Petrobrás estaria apenas aguardando o resultado de um pedido de relaxamento da prisão preventiva.


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