André Vargas, o deputado petista sócio do doleiro preso pela
PF na Operação Lava Jato, mandou avisar: quer o PT defendendo o seu mandato ou
abre o bico e leva mais gente junto. Citou nominalmente dois candidatos a
governos estaduais. Exigiu manifestações de apoio e disse que quer o PT
solidário enquanto ele for julgado pela Comissão de Ética da Câmara. Vargas
está um poço até aqui de mágoa. É uma bomba relógio, segundo um deputado
petista, prestes a explodir.
Após o recado explícito, a Executiva Nacional do PT decidiu
ontem mesmo instalar uma comissão formada por três dirigentes da sigla para
ouvir o deputado licenciado e ex-vice-presidente da Câmara, André Vargas
(PT-PR), antes de instaurar qualquer procedimento interno.
Esta foi uma das exigências de Vargas, que também ameaça
Lula, que, no início da semana, disse que ele deve "explicar à
sociedade" sua ligação com o doleiro para que o PT "não pague o
pato". O deputado não gostou, chamou Lula de "traíra" e "mal
agradecido", que não ia ser "um segundo José Dirceu". Ao final,
acertou com o partido que será advertido, mas que não haverá expulsão da
legenda.
O próprio presidente do PT, Rui Falcão, em jogada ensaiada,
saiu em defesa de Vargas, ontem, "Previamente à instalação da Comissão de
Ética [no partido], a Comissão Executiva Nacional decidiu ouvir o companheiro
André Vargas a respeito dos fatos noticiados", disse, após reunião em São
Paulo. "São fatos noticiados que, por si só, não incriminam ninguém."
A ordem interna é ganhar tempo.
Durante o encontro convocado às pressas, representantes de alas mais à esquerda do PT
defenderam a instauração imediata de comissão de ética no partido, enquanto
dirigentes da ala majoritária fizeram coro a Falcão e conseguiram fechar a
resolução por consenso. O medo das denúncias prometidas por Vargas falou mais
alto.
Por outro lado, o Conselho de Ética da Câmara já instaurou
processo disciplinar que pode acabar na cassação de Vargas. A Casa deve decidir
até 23 de abril se cabe dar prosseguimento ao caso. O PT vai pressionar de
todas as formas para que Vargas seja absolvido e já se fala em "mensalão
em dólar". Se isto ocorrer, o PT nem mesmo precisaria montar a sua própria
sindicância.
No entanto, a comissão que deve ouvir Vargas já foi nomeada
e só tem "peixe" do ex-vice presidente da Câmara: Alberto Cantalice, vice-presidente do PT,
Florisvaldo Souza, secretário de organização e Carlos Árabe, secretário de
formação. O temor de Lula e da cúpula do PT é que a crise tenha efeito nas
eleições deste ano, principalmente em São Paulo e no Paraná. Mas o medo maior é
que Vargas saia atirando e denunciando gente graúda dentro do partido.
O deputado pediu licença por 60 dias do mandato
e renunciou à vice-presidência da Câmara anteontem. Depois do acordão interno
formalizado, blindado pela companheirada, deve retornar em 10 dias para,
segundo ele, "defender o seu mandato". Só faltou dizer que fará isso
com "unhas e dentes", como sugeriu Lula em relação à Petrobras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário