A compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, tanto na transação
em si, quanto no que aconteceu após se tornar de conhecimento público, é dos
atos mais constrangedores de nossa história administrativa. Nem encomendando se
conseguiria produzir semelhante sucessão de ações e reações que primam pela
falta de decoro e pela hipocrisia. Atenção, jornalismo nacional! Hora de
acordar, rapaziada! O rolo é conhecido desde 2012! É difícil entender as razões
pelas quais a pauta dormiu nas gavetas durante todo o ano de 2013.
Seja como for, o melhor ficou para o fim. Aconteceu no
Congresso Nacional, com a disputa entre governo e oposição sobre a proposta de
criar CPI para investigar a operação. Como a medida se revelou inevitável, o PT
partiu para o contra-ataque, e quis investigar, também, o metrô de São Paulo e
o porto de Suape em Pernambuco. Foi uma antecipada confissão. Foi
reconhecimento pelo réu de que comprometedoras digitais estavam na cena do
crime. O que espera a sociedade de um partido político que respeite a própria
imagem diante de fato com tal magnitude? Que participe das investigações, que
controle o trabalho da oposição, que busque a verdade e, naturalmente, que
evite maiores explorações políticas dos fatos apurados. Em vez disso, o PT quis
tumultuar, embrulhar e inviabilizar a CPI, acrescentando-lhe outros objetivos
que, supostamente, poderiam causar dano ao seus principais opositores na
corrida presidencial em curso: PSDB e PSB. Tudo num grande esforço para
"blindar a Petrobras". A Petrobras? Me poupem.
A Constituição Federal não deixa margem para interpretações
quando afirma que as CPIs devem tratar "de fato determinado" e não de
fatos indeterminados. Se o PT tem conhecimento de determinados fatos a merecer
investigação no metrô de São Paulo e no porto de Suape, envolvendo recursos
federais, por que não pediu oportunamente as respectivas CPIs? Por que fazê-lo
como contraponto à CPI sobre a refinaria de Pasadena? Ao agirem como estão
agindo no caso, o PT e seus associados no Congresso Nacional tornam inequívoco
perante a opinião pública que, de fato, houve rolo no negócio. Caso contrário,
fosse a operação sábia e proba, economicamente interessante, como chegaram a
afirmar alguns agentes partidários na frente de batalha das redes sociais, nada
melhor do que uma CPI para comprová-lo e retocar a imagem da presidente.
Afinal, ela foi vendida a seu eleitorado como gestora competente. Mas autorizou
a Petrobras a pagar mais de um bilhão de dólares por uma lebre que mia.
Todo esse imbróglio serve para mostrar o quanto é maléfica a
confusão que fazemos no Brasil entre Estado, governo e administração pública,
como se fosse tudo a mesma coisa. Não contentes, embrulhamos o pacote para
presente e entregamos a um partido político. Só pode dar nisso! Que raios tem
um partido político a fazer na Petrobras? E não só aí, mas também no Banco do
Brasil, no BNDES, em dezenas de estatais e em todo o aparelho administrativo
federal, ocupando dezenas de milhares de postos que deveriam ser providos por
servidores de carreira com a formação adequada?
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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor,
titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais
e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
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