Por Percival Puggina
Pergunto: os males da política brasileira estão relacionados
mais diretamente ao caráter dos indivíduos, das pessoas concretas que ocupam
postos de poder, ou ao modelo institucional que adotamos? Há muitos anos
participo de debates que buscam saber qual a galinha e qual o ovo nesse dilema.
Dirá alguém que é uma questão menor e que o Brasil vive as
urgências impostas por clamorosas denúncias e estridentes silêncios. No
entanto, de denúncia em denúncia, de silêncio em silêncio e de urgência em
urgência, vamos postergando toda e qualquer tentativa de formar consenso a
propósito desse tema. E como precisamos de um consenso! Como precisamos fazer
com que a nação vasculhe, atrás do palco, na coxia, as estruturas que movem de
modo tão desastroso os cordéis do poder!
Volto a esta pauta porque o mero fastio ante a política que
temos é mau conselheiro para levar-nos àquela que queremos. Imaginar que o
espelho de representação só melhorará quando o nível das exigências morais da
sociedade houver subido vários degraus significa a perdição de pelo menos duas
gerações! É por isso que defendo a necessidade de mudança nas regras do jogo
político. Trata-se de algo que infelizmente parece pouco significativo. A maior
parte das pessoas insiste em ver as árvores e não percebe o emaranhado da
floresta institucional. No entanto, as regras de qualquer jogo determinam a
conduta dos jogadores. O solo influi na qualidade do que nele se plante. As
religiões se refletem no comportamento dos fiéis. E as instituições de Estado
não só impulsionam o agir dos políticos mas definem, também, com suas regras,
quem participa das atividades.
Creio que o melhor modo de tornar compreensível esse efeito
que muitos teimam em desconhecer pode ser encontrado na própria experiência
nacional. Sabe por que, leitor, nenhuma reforma política séria prospera no
Brasil? Pela simples e confessada razão de que os congressistas sabem que seus
mandatos foram obtidos nas regras vigentes. Esta singela constatação deixa tudo
como está, reproduzindo ad aeternum um tipo de representação que nos
proporciona escassos motivos de admiração. Dito isso, considero suficientemente
provado o grau de influência do modelo institucional sobre o recrutamento de
lideranças para a elite política. São elas mesmas que o confessam. Ainda que
não convenha ao país, é esse o modelo que lhes serve. Portanto, a posição dos
candidatos a favor do voto distrital e contra essa bacanal institucional que
junta na mesma cama Estado, governo, administração pública e partido político
deveria ser critério decisivo de voto nas eleições de outubro.
***
Os últimos dias foram dedicados pela mídia à
tarefa de esconjurar o 31 de março. É verdade que foram cometidos crimes que
repugnam às consciências bem formadas. Mas é errado limitar a informação ao
registro desses fatos. Aquele movimento primeiro frustrou o plano dos
comunistas para o Brasil e, depois, derrotou guerrilheiros e terroristas que
queriam implantar tal regime no país. Esquecer o que estes pretendiam, não ler
o que escreviam, ignorar o que diziam, apagar da história as vítimas que
fizeram e os crimes bárbaros que cometeram, para exibi-los como heróis e
mártires da "resistência democrática" é impostura. É servir o
oportunismo em bandeja. Passado meio século, seus atuais afetos no plano nacional
e internacional ainda revelam muito bem o que fariam se pudessem.
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