DE PAI PARA FILHO - A refinaria de Pasadena, no Texas:
comprada na gestão de Gabrielli, acabou se transformando em um problemão do
qual Graça Foster (no detalhe) quer se livrar
(Agência Petrobras e Glaicon Enrich/News Free)
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Água era o meu foco. Revisitava o Rio Piracicaba castigado
pela seca. No passado fui a algumas reuniões do Comitê de Bacia.
Já havia na época uma preocupação com o futuro do rio, tão
solicitado: abastece uma região em crescimento e mais 8,8 milhões de pessoas em
São Paulo.
Lembrei, à beira do Piracicaba, alguns autores no fim do
século passado afirmando que a água seria o petróleo do século XXI, com
potencial de provocar conflitos e até guerras.
Mas ao falar no petróleo como algo do passado constatei que
está na ordem do dia. Enterraram uma fortuna em Pasadena, no Texas. Outra
Pasadena, na Califórnia, é a cidade cenário da sitecom The Big Bang Theory.
Pois é, nossa Pasadena começou com um singular ponto que se
expande de forma vertiginosa. Foi uma espécie de Big Bang na consciência dos
que ainda duvidavam que a Petrobrás estivesse indo para o buraco nas mãos dos
aliados PT e PMDB.
Diante dos fatos, vão-se enrolar de novo na Bandeira
Nacional, sobretudo num momento de Copa do Mundo, fulgurante de verde e
amarelo.
Os críticos da Petrobrás não são bons brasileiros. Bons são
os que se apossaram dela e a fizeram perder R$ 200 bilhões nestes anos e
despencar no ranking das grandes empresas do mundo.
O líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), disse
que a perda desse dinheiro faz parte do jogo capitalista de perde e ganha. Se
fosse numa empresa privada, dificilmente seus diretores resistiriam no cargo.
Em Pasadena enterrou-se dinheiro público. O que deveria ser
mais grave em termos políticos.
Pasadena é uma boa versão com sotaque latino para Waterloo.
Dilma Rousseff afirma que assinou a compra da refinaria no Texas sem conhecer
as cláusulas.
Depois disso conheceu. Ela lançou uma nota para explicar o
momento em que não sabia. E se esqueceu de explicar todos os anos de silêncio e
inação.
Os diretores que teriam omitido as cláusulas que enterram
mais de US$ 1 bilhão em Pasadena continuaram no cargo. Até a coisa explodir
mesmo. Tenho a impressão de que tentaram sentar-se em cima da refinaria de
Pasadena. Sentaram-se numa baioneta, porque não se esconde um negócio
desastroso de mais de US$ 1 bilhão.
Os fatos começam a se desdobrar agora que os olhares se
voltam para esse refúgio dos nacionalistas, defensores da Pátria enriquecidos.
Uma empresa holandesa cobrou US$ 17 milhões da Petrobrás por
serviços que não constavam do contrato. A primeira parcela da compra em
Pasadena foi declarada como US$ 360 milhões, mas no documento americano ela foi
registrada como uma compra de US$ 420 milhões. Refinarias compradas no Japão
têm as mesmas cláusulas do contrato desastroso de Pasadena.
Um amigo de Brasília me disse ao telefone: “Se esse Paulo
Roberto Costa, diretor da Petrobrás, abrir a boca, a República vai estremecer”.
Conversa de Brasília. Quantas vezes não se falou o mesmo de
Marcos Valério?! O que pode trazer revelações são os computadores, pen drives e
documentos encontrados na casa dele.
A Polícia Federal não acreditava que ele iria falar, tanto
que o prendeu com o argumento de que estava destruindo provas.
Passa, passa, Pasadena, quero ver passar. A Petrobrás da
nossa juventude, dos gritos de “o petróleo é nosso”, se tornou o reduto
preferido dos dois grandes partidos que nos governam.
O petróleo é deles, do PT e do PMDB. Levaram o slogan ao pé
da letra e suas pegadas na maior empresa do País demonstram que devoram até
aquilo que dizem amar.
De certa forma, isso já era evidente para mim nas discussões
dos contratos do pré-sal. Eles impuseram uma cláusula que obriga a Petrobrás a
participar de todos os projetos de exploração. Não deram a chance à empresa de
recusar o que não lhe interessava.
Tudo isso é para fortalecer a Petrobrás, isto é,
fortalecer-se com ela, com uma base de grandes negócios, influência eleitoral
e, de vez em quando, uma presepada nacionalista, tapas imundos de óleo nas
costas uns dos outros, garrafas de champanhe quebradas em cascos de navios.
Lá, no Texas, os magnatas do petróleo usavam aqueles chapéus
de cowboy. Lá, em Pasadena. Aqui, os nossos magnatas em verde e amarelo estão
com poucas opções no momento. Ou reconhecem o tremendo fracasso que é a
passagem dos “muy amigos” da Petrobrás pela direção da empresa ou se enrolam na
Bandeira e acusam todos de estarem querendo vender a Petrobrás. Diante das
eleições e da Copa do Mundo, devem optar por uma alternativa mais carnavalesca.
Mas os fatos ainda não são de todo conhecidos. Deverá haver
uma intensa guerra de bastidores para que não o sejam, especialmente os documentos
nas mãos da Polícia Federal.
Pasadena. Certos nomes me intrigam. O mensalão não seria o
que foi se não houvesse esse nome tão popular inventado por Roberto Jefferson,
que no passado apresentava programas populares de TV. Pasadena soa como algo
esperto, dessas saidinhas em que você vai e volta em cinco minutos, leve e
faceiro. Mas pode ser que Pasadena não passe e fique ressoando por muito tempo,
como o mensalão. E se tornar uma saidinha para comprar cigarros, dessas sem
volta, para nunca mais.
Criada uma comissão no Congresso Nacional, envolvidos
Ministério Público e Polícia Federal, podem sair informações que, somadas às de
fontes independentes, deem ao País a clara visão do que é a Petrobrás no
período petista. Não tenho esperança de que depois disso todos se convençam de
que a Petrobrás foi devastada. Mas será divertido vê-los brigando com os fatos,
com as mãos empapadas de óleo.
Diante do Rio Piracicaba meu foco é a água. Na semana
passada, vi como na Venezuela o uso político do petróleo deformou o país. No
Brasil o alvo da voracidade aliada é a Petrobrás.
E se a água é o petróleo do século 21, daqui a pouco vão
descobri-la, quando vierem lavar as mãos nas margens dos nossos rios.
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