Graça Foster: da estirpe de pessoas cujo ar enfezado
passa
por competência técnica
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Ainda que Graça Foster fosse, do ponto de vista moral e
intelectual, uma mistura de Catão, Madre Teresa de Calcutá e Schopenhauer e, do
ponto de vista técnico, a encarnação da competência e da racionalidade, ainda
que assim fosse, teria perdido a condição de presidir a Petrobras. Como ela não
é nem uma coisa nem outra e é apenas Graça Foster, tem de ser demitida. Ou de
se demitir. E não apenas porque deve ficar logo mais com os bens indisponíveis,
tão logo o Tribunal de Contas da União volte a apurar a sua responsabilidade no
imbróglio de Pasadena.
Graça tem de deixar o cargo porque está, infelizmente, no
centro da tramoia contra a CPI da Petrobras — que é uma conspiração contra o
Congresso, contra o estado e contra a democracia. Como vocês sabem, reportagem
da VEJA desta semana prova que as perguntas elaboradas pelos senadores foram
previamente passadas aos depoentes — e com gabarito! A própria Graça foi
beneficiada pelo expediente, além de José Sérgio Gabrielli e Nestor Cerveró.
Para lembrar: integram a conspiração, com graus variados de
participação, além da presidente da Petrobras, o relator da CPI no Senado, José
Pimentel (PT-CE); José Eduardo Dutra, diretor Corporativo e de Serviços da
estatal; o senador Delcídio Amaral (PT-MS); Paulo Argenta, assessor especial da
Secretaria de Relações Institucionais; Marcos Rogério de Souza, assessor da
liderança do governo no Senado; Carlos Hetzel, assessor da liderança do PT na
Casa; o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral
Barrocas; Leonan Calderaro Filho, que responde pelo departamento jurídico desse
escritório, e Bruno Ferreira, advogado da empresa. A reunião em que se cuidou
da combinação foi feita no gabinete da presidência da empresa, numa sala anexa
à de Graça. Barrocas, o chefe do escritório da estatal em Brasília, foi nomeado
pessoalmente por ela e já tinha sido seu chefe de gabinete na BR Distribuidora,
quando presidia essa subsidiária da Petrobras.
Pois bem: Lauro Jardim informa em sua coluna que Dutra, que
é ex-senador e ex-presidente do PT, foi pessoalmente ao Senado fazer a coleta
das perguntas. Os partidos de oposição decidiram recorrer à Procuradoria-Geral
da República, à Comissão de Ética do Senado e à Comissão de Ética da
Presidência para que apurem o escândalo.
Mas voltemos a Dutra e Graça. É evidente que ele não teria
se lançado nessa empreitada sem a autorização de sua chefe imediata — ela
própria beneficiária da falcatrua política. Um vídeo que veio a público deixa
claro que a presidente da Petrobras teve acesso prévio às perguntas. Notem:
estamos falando de algo mais do que o simples envio das questões em razão,
sabe-se lá, do mau comportamento de um funcionário ou de outro. É mais do que
isso. Tudo foi meticulosamente planejado.
Dutra, cumpre lembrar, era um dos três homens fortes da
campanha de Dilma, ao lado de Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo. A então
candidata os apelidou, com aquela sua maneira muito particular de ser
carinhosa, de “Os Três Porquinhos”. Eles todos devem saber por que o apelido
era adequado. Nesta segunda, a presidente posou de Valesca Popozuda, deu um
beijinho no ombro e disse que o assunto é do Congresso. Errado! Há servidores
públicos envolvidos até o pescoço no imbróglio, como se vê. E são pessoas de
sua confiança pessoal.
Sim, eu sei que Graça vai continuar onde está, até porque
pertence àquela estirpe de pessoas que conseguem fazer com que seu ar enfezado
passe por competência técnica, a exemplo de sua chefe, Dilma Rousseff. Eis o
estado de degradação a que chegou a República.
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