Por Fábio Blanco
“Quando olha para frente, para os sonhos prometidos por
aqueles rebeldes, a juventude atual não consegue ter muita esperança. Ela
percebe que a destruição pelas drogas, as mães solteiras, os pais
irresponsáveis, os relacionamentos fugazes, a religiosidade desespiritualizada
e a destruição familiar foram a principal herança deixada pelos movimentos que
seus pais participaram”
Ruy Castro, em artigo no jornal Folha de São Paulo, de 04 de
agosto de 2014, mostra toda sua decepção com um fenômeno que, ele percebe, vem
ocorrendo com a juventude contemporânea. São os movimentos de espírito
tradicionalista ou de moral conservadora, como aqueles que valorizam a
virgindade, os que reclamam um retorno às formas mais tradicionais de culto e
aqueles que voltaram a valorizar eventos muito tradicionais na sociedade, como
as festas de debutantes e as formaturas.
O articulista sente, com tudo isso, que sua geração lutou em
vão. Ele, como mesmo se afirma, um garoto de 68, demonstra toda sua tristeza
com o rumo da sociedade e sua retomada dos modos antigos, de valores que,
pessoas como Ruy Castro, tinham dado por ultrapassados, mortos e esquecidos. O
escritor acredita, sinceramente, que o sangue, o sêmen e o suor derramados
pelos seus, no final das contas, estão sendo desperdiçados pelos jovens atuais.
Por um lado, eu entendo sua decepção. Eu mesmo jamais fui um
“conservador”, no sentido pejorativo que dão ao termo hoje em dia. Como
Chesterton, sempre achei a valorização extrema da virgindade um exagero. Por
ter formação protestante, nunca entendi por que a missa em latim, já que, para
as igrejas evangélicas, a pregação é o ponto principal do culto. Quanto às
festas de debutantes e as formaturas, para mim, sempre foram eventos sociais
insuportáveis: plásticos e piegas.
Mas entendendo de outra maneira, essa percepção de Ruy
Castro deveria servir para colocar diante dele e os de sua geração, no mínimo,
um questionamento: será que a rebeldia dos anos 60 não foi um exagero, uma
explosão antinatural que, mais cedo ou mais tarde, perderia seu vigor? E outra
pergunta, inafastável, deveria também ser feita: será que a geração atual,
nascida já sob os efeitos das ruas de 68, não percebeu que o legado daquela
rebeldia foi apenas desilusão, decepção e ausência de sentido?
Na verdade, quando olha para frente, para os sonhos
prometidos por aqueles rebeldes, a juventude atual não consegue ter muita
esperança. Ela percebe que a destruição pelas drogas, as mães solteiras, os
pais irresponsáveis, os relacionamentos fugazes, a religiosidade
desespiritualizada e a destruição familiar foram a principal herança deixada
pelos movimentos que seus pais participaram.
E como não podem olhar para a frente, a única solução que
encontram está naquelas formas que funcionaram na sociedade durante séculos. O
raciocínio é óbvio: entre séculos de instituições que sobreviveram a todas as
mudanças e três décadas de sonhos frustrados, a verdade e o sentido certamente
devem estar lá e não aqui.
Mas homens como Ruy Castro nunca entenderão isso, pois, para
eles, aquelas coisas antigas jamais tiveram valor algum. Eles, insensibilizados
por uma ideologia revolucionária, que tem em seu espírito muito mais a
destruição do que qualquer outra coisa, chegaram à conclusão que as formas
tradicionais podiam ser dispensadas como se lançaram fora as anáguas.
Acreditaram que valores seculares podiam ser substituídos como se substituem as
modas.
O que resta para eles, portanto, é espernear, reclamar e
chorar o desfazimento de suas utopias. Repensar suas ideologias, porém, jamais
serão capazes de fazer. Tudo porque eles não conseguem enxergar as tradições
como algo além de ultrapassado. São tão insensíveis, tão cegos, tão
desvirtuados que valores milenares, em suas perspectivas distorcidas, não valem
mais que um sutiã velho.
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